A identidade nordestina é permeada de significações e estereótipos, ligada muitas vezes à pobreza, à seca, ao messianismo e ao cangaço. Dentro dessas imposições de significado, compreender a ideia de masculinidade nos sertões se mostra ainda um campo fértil, que acaba por atravessar diversas figuras, como o vaqueiro, o coronel, o jagunço, o beato e, talvez a figura que mais remeta ao homem dos sertões, o cangaceiro. A construção do homem cangaceiro foi explorada em demasiado na literatura regionalista, por autores como José Lins do Rego e Jorge Amado, mas também nos folhetos de cordel, escritos por José Bernardo da Silva e João Martins de Athayde, por exemplo. Contudo, essas representações não se esgotam nessas fontes, estando presentes dentro também da dramaturgia e do teatro. Em obras clássicas, como “Auto da Compadecida” (1955) de Ariano Suassuna e “O Testamento do Cangaceiro” (1961) de Chico de Assis, os cangaceiros são diretamente ligados à ideia da masculinidade, virilidade e à figura do “macho”, uma representação dada pelo meio em que se está inserida, sendo um produto do seu tempo e espaço. No entanto, a figura do cangaceiro ainda é apropriada no tempo presente, e a dramaturgia, enquanto fonte, nos fornece novos caminhos para a compreensão da fluidez da masculinidade e os seus novos usos, como na peça de teatro do dramaturgo Luiz Felipe Botelho, “Coiteiros de Paixões” (2003). Desse modo, o objetivo deste trabalho é explorar as nuances da dramaturgia de Botelho, lançando um olhar histórico para o seu conteúdo e observando como o cangaço é usado como plano de fundo para apresentar questões ligadas a performance de gênero e sexualidade dentro dos sertões, utilizando autores como Albuquerque Júnior, Sócrates Nolasco e Adriana Negreiros. A pesquisa, de abordagem qualitativa, utiliza também os métodos de análise dramatúrgica dos autores de estudos teatrais, Renata Pallottini e Patrice Pavis. A pesquisa apresenta uma discussão sobre as relações homoafetivas entre os cangaceiros existentes dentro da dramaturgia, bem como as diferentes performances de gênero e sexualidade, tendo em vista que as personagens têm uma conduta tida como transgressora e disruptiva, perante as normas e os padrões que são impostos sobre aquilo que é tido como masculino e feminino dentro do universo sertanejo. Os sertões são locais de debate, e a dramaturgia, enquanto fonte literária e teatral, nos fornece um novo olhar sobre as questões de gênero dentro do cangaço, questionando o próprio machismo, preconceito e homofobia que percorrem as discussões sobre os sertões.
Allyson Iquesac Santos de Brito – Mestre - PPGHC/UFRN
Ane Luíse Silva Mecenas Santos - UFRN
Bianca Ferreira do Nascimento – Mestra - PPGHC-UFRN
Claúdia Cristina do Lago Borges - UFPB
Cleidiane de Araújo Oliveira – Doutoranda - PPGH-UFRN
Durval Muniz de Albuquerque Junior – UFRN
Eduardo Cristiano Hass da Silva - UFRN
Franciely de Lucena Medeiros – Doutoranda - PPGH-UFRN
Francisca Araujo Saraiva – Mestranda - PPGHC/UFRN
Francisco Firmino Sales Neto - UFCG
Gabriel da Silva Freire – Mestre - PPGHC-UFRN
Helder Alexandre Medeiros Macedo – UFRN
Jailma Maria de Lima - UFRN
Jardel Bezerra Araújo da Silva - Mestre - PPGHC-UFRN
Jessica Éveny Cardoso Martins – Mestranda - PPGHC-UFRN
Jovelina Silva Santos - UERN
Juciene Batista Félix Andrade – UFRN
Karollainy Kannya Dias de Medeiros – Mestranda - PPGHC/UFRN
Laisa Fernanda Santos de Farias - Doutora - UFRN
Laíse Vitória de Figueredo Souza – Mestranda– PPGHC-UFRN
Leandro Vieira Cavalcante – UFRN
Luan de Sousa Batista - Mestrando - PPGHC/UFRN
Luana Barros de Azevedo – Doutoranda – PPGH-UFRN
Maria Alda Jana Dantas de Medeiros - Doutoranda - PPGH-UFRN
Maria Joedna Rodrigues Marques – Doutoranda - PPGH-UFRN
Maria Maroni Lopes - UFRN
Matheus Barbosa Santos - Memorial Mateus de Medeiros Lula (MEMA) - Câmara Municipal de Currais Novos (CMCN)
Sarah Campelo Cruz Gois - IFRN
Tatiane Medeiros Alves – Mestranda - PPGHC/UFRN
Vitor Vinicius Rodrigues Bezerra - Mestrando - PPGHC - UFRN
Vitoria Maria Targino Filgueiras – Mestra - PPGHC-UFRN
Anais da VIII Jornada Nacional de História dos Sertões - O sertão e o mundo: interculturalidades ISBN 978-65-985933-5-3 Caicó - RN - 04 a 07 de novembro de 2025 Realização Programa de Pós-Graduação em História do CERES (PPGHC-UFRN) Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN Centro de Ensino Superior do Seridó – CERES/Campus de Caicó Prédio das Pós-Graduações – Rua Joaquim Gregório, sn, Penedo Caicó-RN – CEP 59300-000 E-mail: sertoes@ceres.ufrn.br Organizadores Helder Alexandre Medeiros de Macedo Joel Carlos de Souza Andrade Francisca Araújo Saraiva Gabriely késia de Oliveira Lôa Ismara Morais da Silva Karollainy Kennya Dias de Medeiros Leidiane Francelina Batista Luana Beatriz de Assis Ferreira Paula Roberta Maia de Oliveira Rian Felipe Dutra Diniz Tatiane Medeiros Alves Identidade visual Inspirada na xilogravura “Juazeiro”, do mestre Gustavo Borges, de Bezerros-PE (@xilo_gustavoborges).