Desde a década de 80 a taxa de cesareanas realizadas em um país, bem como o que isso refletiria acerca da qualidade da assistência obstétrica e neonatal, vem sendo questionada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e outros órgãos de saúde nacionais e internacionais. A cesárea é uma cirurgia de grande porte, que tem maior risco de complicações infecciosas puerperais, hemorragia pós-parto e tromboembolismo. Deve ser indicada quando houver razão médica, seja fetal ou materna. Nesse contexto, a OMS estima que essa necessidade ocorra entre 15 a 30% dos partos, não sendo justificados índices mais elevados de cirurgias. Contudo, o Brasil lidera o ranking mundial de cesáreas com proporção de 50% das gestações. Por isso, em 2015, a OMS passou a recomendar a classificação de Robson, a qual agrupa gestantes de acordo com características obstétricas relevantes, e assim permite comparações e acompanhamento de metas minimizando o viés de confundimento. Este trabalho foi elaborado visando enfatizar a análise crítica desta problemática no contexto local da realidade amazônica. Teve-se como objetivo avaliar os antecedentes obstétricos e desfechos das gravidezes de mulheres adolescentes atendidas na rede de saúde pública (SUS) do estado do Amazonas. Trata-se de um estudo observacional transversal, descritivo e analítico, realizado através das estatísticas disponíveis do sistema do DATASUS. Dentre as tabelas disponíveis referentes ao ano de 2019, duas foram escolhidas: Tabela 1 - Classificação de acordo com os Grupos de Robinson de gravidezes atendidas em maternidades públicas, correlacionando este dado com a faixa etária materna e Tabela 2 - Interseção do desfecho de tipo de parto, seja vaginal ou césarea, com a idade materna. A amostra total foi de 77622 gestantes, das quais 18559 pacientes (23,9%) correspondiam ao público-alvo da pesquisa, tendo idade igual a menor de 19 anos. Dessas, 5043 (27,1%) pertenciam aos grupos de robinson 3, 4, 5 ou 7 e, portanto, eram multíparas. Ademais, 2289 (12,3%) foram classificadas no grupo 10, tendo entrado em trabalho de parto de forma prematura. Em análise combinativa ao total de partos ocorridos pré-termo, somados em 7947, a faixa etária de 10 a 19 anos foi responsável por 28,8% dos mesmos. Aproximadamente metade da amostra, 9725 (52%) foi classificada na admissão no grupo 1 de robinson, o qual representa gravidezes únicas a termo, de feto cefálico e sem cirurgias prévias. Por fim, de todos os partos em gestantes adolescentes, 5253 (28,8%) tiveram resolução cirúrgica via cesareana. Podemos concluir que o estado do Amazonas precisa de uma política de planejamento reprodutivo mais eficaz, especialmente no âmbito de educação sexual para adolescentes nas escolas públicas. Além disso, os riscos, benefícios e indicações de via de parto devem ser mais trabalhados durante o pré-natal na atenção primária, dando ênfase ao suporte psicológico e emocional de gravidezes de mães em situações de vulnerabilidade social ou até mesmo legal, como a adolescente. Os médicos da rede pública precisam estar aptos a trabalhar com esse público que representa um quarto da demanda obstétrica local.
Comissão avaliadora dos trabalhos:
Presidente: Dra. Maillene R Lisboa – (RO)
maillenelisboa@unir.br
Secretária: Dra. Ivanice Fernandes Barcellos Gemelli – (RO)
ivanice.gemelli@unir.br
MEMBROS:
Dra. Cynthia Mara Brito Lins Pereira (PA)
cmblins@gmail.com
Dr. Gilson José Corrêa (AM)
manaus.gilson@gmail.com
Dra. Heliamara Teles (AM)
heliamarateles@hotmail.com
Dr. Júlio Eduardo Gomes Pereira (AC)
julioeduardo.pereira@gmail.com
Dra. Marinês Rodrigues dos Santos Cézar (RO)
dramarines@hotmail.com