Tratamento de urticária crônica espontânea. Abordagem com SLOW Medicine
Resumo: Slow Medicine aplicada em paciente com urticária crônica espontânea (UCE) coexistente com distúrbio psíquico envolvendo transtorno de ansiedade.
Introdução: A Slow Medicine é uma filosofia que resgata os processos de cuidado com uma relação de escuta, diálogo e compartilhamento de decisões com o paciente. Para condições multifacetadas com caráter limitante para o paciente e de complexo manejo médico, como a urticária crônica espontânea (UCE), é iminente uma abordagem baseada nestes princípios de sobriedade e de respeito, numa condução racional e ponderada do cuidado médico. Descrição do caso: mulher, 30 anos, com quadro clínico de urticária crônica espontânea (UCE), de difícil manejo, com apresentação típica de urticas pruriginosas, disseminadas na pele e angioedema. A doença cutânea causou à paciente uma piora do seu transtorno de ansiedade generalizada (TAG), bem como este ocasionou prejuízos importantes ao manejo por mudanças intempestivas de medicamentos para a urticária. Sem regularidade e autonomamente, a paciente fez uso de Cetirizina, sem sucesso. Sequencialmente, sob prescrição médica, fez uso de Prednisolona e Bilastina, sendo recomendada a suspensão após um mês. Sem remissão do quadro e com intensas crises ansiosas, a paciente passou a usar, indiscriminadamente e sem orientação médica, anti-histamínicos de 2ª geração, como Fexofenadina, Levocetirizina, além de corticosteroides por tempo prolongado que lhe renderam imunossupressão, síndrome de Cushing, ganho de peso, consequentemente agravo de TAG e o aparecimento de transtorno depressivo. Em nova tentativa terapêutica, sob prescrição médica, a paciente fez uso de Omalizumabe 300mg/mês durante quatro meses, mas descontinuou o tratamento por conta própria e não teve melhora da doença. Sob nova orientação médica, foram realizados exames laboratoriais, com ANTI-TPO de 285,6 UI/mL, corroborando com o quadro de UCE acompanhada de alterações autoimunes tireoideanas. Após isso, foi esclarecida pelo médico a necessidade de continuidade do tratamento, desmame do corticosteroide, uso contínuo de Ebastina 10 mg, aliado ao uso do Omalizumabe, ainda, a importância da procura de tratamento para a TAG. A paciente apresentou remissão após seis meses de tratamento contínuo e regular. Discussão do caso: o contexto mecanicista da resposta ao estresse psicológico na UCE é ultrapassado, pois sabe-se que fatores imunológicos e ambientais, psíquicos e sociais agem mutuamente ou se sucedem causando os sintomas clínicos da doença. No caso atual, existem alterações autoimunes tireoideanas associados ao quadro de UCE, e ainda fatores emocionais, como ansiedade, que já existiam e coexistiram com a afecção cutânea e modularam-na, interferindo na mudança terapêutica frequente e na polifarmácia realizadas. Na condução da paciente, foi vital reafirmar os princípios da Slow Medicine, com uma abordagem acolhedora, racionalizando-se o uso de múltiplos medicamentos e de forma desregulada, além de cuidar da parte emocional, da educação da paciente e realizar farmacoterapia ordenada condizente ao caso. Aspectos éticos: Paciente consentiu e assinou Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Sua privacidade foi protegida e seus dados anonimizados para preservar sua identidade. Conclusão: a UCE de cunho imunológico é condição crônica de sofrimento em que a modulação do estresse deve ser considerada. Logo, a abordagem da Slow Medicine é necessária para esperar mais com o cuidado que as vezes o efeito farmoterápico ideal aparece, além de apoio psicológico e educação do paciente, com base nos princípios dessa abordagem.
Anais para os trabalhos expostos na Jornada ALPE de Alergia
Comissão Científica
Dr Luiz Alexandre
Dra Cynthia Mafra
Dr Iramirton Moreira
Dra Rosa Maria
Dr Filipe Wanick
Dra Liane Santana
cientificoalpe@gmail.com
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