O QUE É EDUCAÇÃO? PROPOSIÇÕES E CRÍTICAS DA “MAESTRA” JUANA MANSO (BUENOS AIRES, 1869)

  • Autor
  • Bárbara Figueiredo Souto
  • Resumo
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    O objetivo desta comunicação é apresentar a perspectiva de educação proposta pela intelectual feminista transnacional Juana Paula Manso de Noronha, expressa em sua Conferência intitulada “Educación e Instrucción – Misión de los maestros y maestras: Errores a combatir”, proferida em Buenos Aires, no ano de 1869. Esta reflexão nasceu no âmbito do projeto de Pesquisa “Mulheres e Intelectuais no Século XIX (Brasil e Argentina)”, coordenado por mim e financiado pela FAPEMIG e institucionalizado na Unimontes. A figura de Juana Manso surge com protagonismo na pesquisa, devido à ousadia de suas ideias e pelas peculiares propostas advindas de sua experiência transnacional – vividas na Argentina, Brasil e Uruguai. Tendo em vista a existência de registros históricos sobre a atuação intelectual das mulheres, no Brasil e na Argentina, durante o século XIX, por que parte considerável da historiografia negligenciou tais indícios e se recusa a reconhecer as mulheres como intelectuais? Por que as propostas educacionais de Juana Manso foram tão criticadas em seu contexto e seu legado foi silenciado?

    Para responder aos questionamentos colocados foram de suma importância as questões pertinentes à categoria gênero (Scott, 1995). Afinal, o “ser” mulher na América do Sul, no século XIX, nos traz peculiaridades que envolvem variadas relações de poder e experiências (Femenías, 2009) que não podemos negligenciar. Realizei a análise do documento histórico à luz das epistemologias feministas (Rago, 1998; Muniz, 2015), buscando olhar criticamente as construções dos discursos e as relações de poder em voga. Constatei que apesar do trabalho árduo desenvolvido pela professora e intelectual Juana Manso frente às demandas das mulheres e da educação, sua figura foi rechaçada por muitos sujeitos, devido ao seu pioneirismo e ousadia, ao lançar jornais, escrever romances, fundar bibliotecas públicas, ocupar cargos públicos, defender a emancipação das mulheres e uma educação mais progressista. Além disso, seu pensamento e ações ficaram por muito tempo silenciados, ou seja, Juana Manso foi vítima de “Memoricídio” (Duarte, 2022), tornando-se uma “ilustre desconhecida” por muito tempo e tendo seu legado alijado da memória social. Por fim, esse trabalho articula-se com a pesquisa em Educação, por tratar de uma intelectual que foi professora e uma grande defensora da educação para o povo; e inscreve-se no eixo temático “Educação e Diversidade” por abordar temas como a educação das mulheres e das classes populares. Portanto, considero que colocar em cena sujeitos(as) marginalizados(as) na História e promotores(as) da educação em sua diversidade revela a relevância social dessa pesquisa.

     

     

    Referências

    BARRANCOS, Dora. Maestras, librepensadoras y feministas en la Argentina (1900-1912). In: ALTAMIRANO, Carlos (Ed.). Historia de los intelectuales en América Latina. La ciudad letrada, de la conquista al modernismo. Vol. I. Buenos Aires: Katz, 2008.

    BARRANCOS, Dora. Mujeres en la sociedad argentina: una historia de cinco siglos. 2ª ed. Buenos Aires: Sudamericana, 2007.

    DUARTE, Constância Lima (Org.). Memorial do Memoricídio: escritoras brasileiras esquecidas pela história. Belo Horizonte: Editora Luas, 2022.

    MUNIZ, Diva do Couto Gontijo. Feminismos, epistemologia feminista e história das mulheres: leituras cruzadas. OPSIS, Catalão, v. 15, n. 2, p. 316-329, 2015.

    MUZART, Zahidé Lupinacci (Org.). Escritoras brasileiras do século XIX. Florianópolis: Mulheres; Santa Cruz do Sul: UNISC, 1999.

    RAGO, Margareth. Descobrindo historicamente o gênero. Cadernos Pagu, Campinas (SP), n. 11, p. 89-98, 1998.

    SCOTT, Joan W. Gênero: uma categoria útil de análise histórica. Educação & Realidade, Porto Alegre, v. 20, nº 2, p. 71-99, jul./dez. 1995.

    SOUTO, Bárbara Figueiredo. Mulheres e imprensa no século XIX: projetos feministas no Rio de Janeiro e em Buenos Aires. Belo Horizonte: Editora Luas, 2022.

  • Palavras-chave
  • Mulheres; Educação; Memoricídio
  • Modalidade
  • Comunicação oral
  • Área Temática
  • Educação e Diversidade
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