Contextualização e justificativa da prática desenvolvida
A Comunidade Quilombola de Poções, localizada em Francisco Sá/MG, carrega uma forte herança de resistência negra, manifestada por meio da oralidade, espiritualidade e organização coletiva. Diante das desigualdades estruturais, o projeto Unimontes Solidária buscou construir pontes entre a universidade e os saberes tradicionais, valorizando o território, a cultura e os modos de vida locais por meio de relações de ensino-aprendizagem comprometidas com o reconhecimento mútuo. A atuação da Unimontes Solidária configura-se como uma prática de extensão universitária, entendida como "um processo educativo, cultural e científico que articula o ensino e a pesquisa de forma indissociável e viabiliza a relação transformadora entre universidade e sociedade" (FORPROEX, 2012, p. 15).
Problema norteador e objetivos
Buscou-se construir experiências educativas que fortalecem a identidade, autonomia e identidade quilombola. Os objetivos principais foram: (1) promover o diálogo entre saberes acadêmicos e tradicionais; (2) escutar os jovens sobre suas vivências e perspectivas de futuro; e (3) desenvolver oficinas educativas que articulassem identidade, cultura e acesso ao ensino superior.
Procedimentos e/ou estratégias metodológicas
As ações seguiram uma abordagem dialógica e horizontal, com base na Educação Popular de Paulo Freire. Foram realizadas rodas de conversa, oficinas temáticas e registros orais da memória local, abordando temas como saúde, direitos e educação. Uma caminhada com a liderança local evidenciou a geografia afetiva da comunidade. A escuta ativa e a convivência respeitosa permitiram a circulação do conhecimento entre todos os envolvidos, gerando empatia e fortalecimento dos vínculos.
Fundamentação teórica que sustentou a prática desenvolvida
A prática se sustentou em três pilares principais: a pedagogia freiriana (Freire, 1987), centrada no diálogo e na construção coletiva do conhecimento; a noção de identidade étnica e territorialidade nos estudos de Gomes (1996) e O'Dwyer(1995); e a compreensão da juventude quilombola como formação identitária. O reconhecimento da oralidade e das formas próprias de produzir conhecimento foi essencial à proposta.
Resultados da prática
O projeto resultou no fortalecimento dos laços entre universidade e comunidade, construídos por meio da escuta, do afeto e do respeito mútuo. Jovens demonstraram desejo de permanecer em seu território, sem abrir mão da educação. A imagem da universidade foi ressignificada como espaço acessível e possível. Para os extensionistas, a experiência provocou uma nova percepção sobre o papel social da universidade enquanto agente de transformação e emancipação.
Relevância social da experiência para o contexto/público destinado e para a educação e relações com o eixo temático do COPED
A experiência reforçou os saberes da Comunidade Quilombola de Poções como legítimos e essenciais para o desenvolvimento sociocultural. Em parceria com os moradores, especialmente os jovens, foram criados espaços de escuta e fortalecimento identitário. A extensão universitária rompeu com a lógica da superioridade do saber acadêmico, reafirmando seu compromisso com a justiça social, a valorização da história quilombola e o direito à educação.
Considerações finais
A presença da Unimontes em Poções foi mais que uma ação pontual: representou uma construção coletiva baseada na troca de saberes e experiências afetivas. A vivência mostrou que a universidade pode e deve ocupar os territórios historicamente silenciados, ouvindo e aprendendo com eles. Ensinar é um ato de amor; aprender, um gesto de resistência. O conhecimento compartilhado continua vivo — na comunidade e em todos que participaram.
Comissão Organizadora
XV Congresso Nacional de Pesquisa em Educação: "ED
Comissão Científica