Este escrito é o resultado do processo de uma tese de doutorado em Ciências da Educação realizada na Universidade Nacional de La Plata, Argentina. Nele pretendo dar conta dos modos de produção e reprodução dos discursos sexo-gêneros sobre a educação dos corpos, em torno da cultura física oficial da Argentina, durante a gestão da primeira Direção Geral de Educação Física (1938-1948) de carácter nacional e ingerência. Seu diretor, Cesar Vasquez, estabeleceu vínculos com personalidades governamentais e dirigentes da Educação Física e do desporto no Brasil, iniciando um período de internacionalização e circulação de conhecimentos, modos de organização e gestão. Portanto, repensar a história da Educação Física e das instituições que funcionaram como organizadoras na primeira metade do século XX, com aportes do campo dos estudos de gênero e sexualidade, nos permite abordar e ampliar a relação corpo-educação-política a partir dessas bases teóricas conceituais (GALAK, 2016; SILVA, FONTOURA, 2011). Tendo em vista que o contexto internacional dos governos ocidentais na primeira metade do século XX, entre guerras e ditaduras, aumentou a relação entre o desporto e a política, pois essa prática reunia caraterísticas que se aproximavam dos objetivos de controlar, disciplinar e nacionalizar os corpos. A contribuição desta pesquisa é retraçar quais discursos sexo-gêneros circularam a partir da massificação dos esportes como políticas educacionais, atuando na construção de uma gramática corporal da sexualidade, podendo, assim, pensar os esportes como tecnologias de gênero (PRECIADO, 2011; DE LAURETIS, 1989) que reforçaram sentidos sexo-gêneros sobre os corpos, moldando as representações de gênero sobre a cultura física e, em especial, sobre os esportes tanto no Brasil quanto na Argentina. Preciado (2011) propõe que a sexualidade seja compreendida como uma tecnologia, constituída por máquinas, produtos, aparelhos, programas, equipamentos, desenhos, leis e, por que não: práticas corporais. Em diferentes momentos históricos e em diferentes campos disciplinares, a sexualidade tem sido expressa e materializada de diferentes formas, construindo gramáticas sobre o corpóreo (GALAK, 2020). É nessas gramáticas que as representações de género, como argumenta De Lauretis (1989), "produto de várias tecnologias sociais, discursos institucionalizados, epistemologias e práticas críticas, bem como da vida quotidiana", actuam sobre os corpos. Portanto, a partir da revisão de documentos oficiais dos órgãos estatais que realizaram a conceção e implementação das políticas desportivas/educacionais na Argentina e no Brasil, bem como de revistas e livros onde circularam discursos sobre as formas de educar os corpos no desporto, permite-nos analisar as estruturas educacionais e as políticas desportivas como dispositivos político-educacionais de regulação dos corpos e das sexualidades, estabelecendo uma relação entre os dois países, devido a um período de fortes trocas e influências.
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XV Congresso Nacional de Pesquisa em Educação: "ED
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