Este trabalho tem como objetivo analisar, por meio do pensamento prospectivo de professores e discentes de dois Programas de Pós-graduação Stricto Sensu em Educação, vinculados a universidades públicas, os riscos percebidos, as barreiras enfrentadas e as medidas propostas diante da utilização de ferramentas de inteligência artificial generativa na produção de textos híbridos (parte humana e parte IA) em teses e dissertações. Trata-se de um estudo de abordagem qualitativa, de caráter exploratório e descritivo, com base em entrevistas semiestruturadas realizadas com 7 pós-graduandos e 7 docentes orientadores. Os dados foram tratados por análise de conteúdo (Bardin, 2011) e triangulação (Triviños, 1987). O referencial teórico do estudo adota as concepções de IA de Santaella (2023), articuladas à sua aplicação na pesquisa acadêmica (Sampaio et al., 2024), em diálogo com os desafios éticos da integridade acadêmica (Mainardes, 2023). Mobilizam-se também os conceitos de apropriação e autoria (Chartier, 1998; 2002), texto híbrido (Lopes; Forgas; Cerdà-Navarro, 2024), associados ao construtivismo crítico da tecnologia (Feenberg, 2013, 2022). Os resultados preliminares evidenciam que entre os riscos percebidos, destacam-se a perda da autoria, o comprometimento da originalidade e o enfraquecimento da formação crítica. As principais barreiras incluem ausência de normativas institucionais, resistência docente, assimetria no domínio técnico entre orientadores e orientandos e falta de formação específica. Como medidas, os participantes sugerem: regulamentações claras sobre o uso da IA; formações críticas e éticas nos programas; pactuação entre orientador e orientando sobre limites de uso; e declaração formal da assistência da IA nos trabalhos acadêmicos. A pesquisa dialoga com o eixo “Tecnologias da Educação e Educação a Distância”, ao refletir sobre os impactos de Chatbots na produção científica, contribuindo para o debate sobre integridade, autoria e ética na pesquisa em educação.
BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. São Paulo: Edições 70, 2011.
CHARTIER, Roger. A aventura do livro: do leitor ao navegador. São Paulo: UNESP, 1998.
CHARTIER, Roger. A mão do autor e a mente do editor. São Paulo: UNESP, 2002.
FEENBERG, Andrew. Construtivismo crítico: uma filosofia da tecnologia. Tradução, introdução e notas de Luiz Henrique Lacerda Abrahão e Cristiano Cordeiro Cruz. São Paulo: Associação Filosófica Scientiae Studia, 2022.
LOPES; Carlos; FORGAS, Rubén Comas; CERDÀ-NAVARRO, Antoni. Tese de doutorado de educação escrita por inteligência artificial? In. Rev. Bras. de Educação, v. 29, e290065, 2024. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S1413-24782024290065 . Acesso em: 04 set. 2024.
MAINARDES, Jefferson. Ética, integridade e cultura de integridade: reflexões a partir do contexto brasileiro. Horizontes, v. 41, n.1. e023031, 2023. Disponível em: https://doi.org/10.24933/horizontes.v41i1.1624. Acesso em 27 jul. 2024.
SAMPAIO, Rafael Cardoso, et al. Uma revisão de escopo assistida por inteligência artificial (IA) sobre usos emergentes de ia na pesquisa qualitativa e suas considerações éticas. Revista Pesquisa Qualitativa, v. 12, n. 30, p. 01–28, 2024. Disponível em: https://doi.org/10.33361/RPQ.2024.v.12.n.30.729. Acesso em 13 de jul/24
SANTAELLA, Lúcia. Há como deter a invasão do ChatGPT? São Paulo: Estação das Letras e Cores, 2023.
TRIVIÑOS, Augusto Nibaldo Silva. Introdução à pesquisa em ciências sociais: a pesquisa qualitativa em educação. São Paulo: Atlas, 1987.
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XV Congresso Nacional de Pesquisa em Educação: "ED
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