Introdução: A radioterapia é a modalidade de tratamento para o câncer de cabeça e pescoço(CCP) mais promissora. Contudo, os efeitos da RT podem impactar negativamente a qualidade de vida dos pacientes, pois há efeito adversos que ocorrem devido a toxicidade da radiação nos tecidos adjacentes ao tumor irradiado, sendo o trismo um dos mais frequentes em pacientes com CCP. Nesse contexto, em torno de 40% dos pacientes com neoplasia maligna de cabeça e pescoço sofreram de trismo durante 6 a 12 meses após o término do tratamento com radioterapia. O trismo é uma radiotoxicidade crônica e está diretamente ligada a exposição da radiação nas estruturas dos músculos masseter e pterigoide, sendo que a cada 10 Gy de dose do tratamento irradiada na estrutura muscular masseter, há aumento de 28% na morbidez na redução da abertura bucal. Objetivo: descrever as doses irradiadas em pacientes com câncer de cabeça e pescoço em todas as estruturas mastigatórias afetadas no tratamento e as alterações diretamente ligadas à possibilidade da presença de trismo de forma aguda. Metodologia:Trata-se de um estudo qualitativo inicial a um projeto guarda-chuva. Foram incluídos 2 pacientes >18 anos com câncer de cabeça e pescoço independente do estágio em que tenha sido indicado radioterapia adjuvante, paliativa ou curativa. Foram excluídos pacientes submetidos a cirurgia prévia de ressecção tumoral e/ou esvaziamento cervical, pacientes com reincidência ou recidiva tumoral, ou histórico prévio de radioterapia em cabeça e pescoço e pacientes que a dose de RT seja < 50Gy. Todos os pacientes foram tratados no ambulatório de radioterapia do Hospital Haroldo Juaçaba, durante o período de julho de 2022 a julho de 2023. Resultados: Foram coletados dados de 2 pacientes do sexo feminino e com diagnóstico de Carcinoma Espinocelular. A primeira paciente possui 60 anos e apresenta carcinoma de supraglote, tendo recebido 69 Gy de dose total em 33 frações na modalidade VMAT. A segunda paciente apresenta 18 anos e apresenta carcinoma de palato mole, tendo recebido 70 Gy de dose total em 33 frações na modalidade VMAT. No tratamento da primeira paciente, foi irradiado em seus músculos mastigatórios uma dose máxima de 6252 cGy em Pterigóideo medial direito e de 6800 cGy Pterigóideo medial esquerdo. A segunda paciente recebeu dose máxima na musculatura mastigatória de 7321 cGy em Pterigóideo medial esquerdo e 7359 cGy em Temporal esquerdo. A paciente 1 apresentou uma abertura inicial de 42,64 mm, em 15 dias apresentou de 32,81 mm, em 30 dias apresentou 35,11 mm e no dia 33 apresentou 36,55 mm de abertura. A paciente 2 apresentou 46,55 mm de abertura bucal no primeiro dia de acompanhamento, em 15 dias apresentou 36,65 mm, no dia 30 apresentou 23,22 mm e no dia 33 apresentou 28,57 mm de abertura bucal. Conclusão: O trismo é considerado uma complicação tardia da radioterapia em pacientes tratados com CCP, porém nossos resultados demonstraram diminuição significativa da abertura bucal de forma aguda. São necessários mais estudos para quantificar a dose necessária de impacto nas estruturas relacionadas na mastigação para melhor prevenção dessa radiotoxicidade.
Presidente XXXIV OUTUBRO MÉDICO
Adner Nobre de Oliveira
Presidente da Associação Médica Cearense
José Aurillo Rocha
Diretor Financeiro
Marcos Aurélio Pessoa Barros
Comissão Científica e de Trabalhos Científicos
José Nazareno de Paula Sampaio
Maria Sidneuma Melo Ventura