Antônio, 56 anos, busca o acolhimento na Estratégia Saúde da Família (ESF) solicita ajuda para sua filha Beatriz, 28 anos, cisgênera, branca, solteira, com ensino médio completo, desempregada e evangélica. Ele relatou que Beatriz ouve barulhos dos vizinhos durante a madrugada e não consegue dormir. Há dois anos, ela deixou de trabalhar e de frequentar espaços sociais. Há um ano, iniciou tratamento psiquiátrico, mas interrompeu, acreditando que seus problemas estavam relacionados à segurança pública e questões espirituais. Na ESF, a equipe decidiu realizar uma visita domiciliar (VD) com a Agente Comunitária de Saúde (ACS) e a Psicóloga, que se apresentou apenas como trabalhadora de saúde. Beatriz aceitou, mas pediu que a visita fosse feita no prédio ao lado de sua casa, pois o problema estava lá. Durante as visitas, ela relatou ouvir barulhos, mas não os enxerga, atribuindo-os a um grupo que trabalha com máquinas e experimentos internacionais. Foram realizadas 4 VDs, o qual foi validado o discurso da paciente, a fim de estabelecer vínculo e propor novas formas de cuidado. Em um atendimento presencial, o pai mencionou que sua sobrinha possuia sintomas semelhantes ao de Beatriz, melhorou após iniciar a medicação. Na terceira VD, foi proposta à jovem uma vacina que “protegeria dos vizinhos”, ela recusou, alegando que precisava da permissão de pastores. Na última VD, pai fez articulação com demais pastores e Psicóloga por chamada telefônica para a “autorização da vacina”mas jovem novamente recusa, refere que "intersecção" necessita ser presencial e que deveria ser um "homem" para resolver. Diante das tentativas, a equipe sugeriu à família o meio da medida de internação e explicado os tipos existentes (voluntária, involuntária e compulsória), indicando-se a internação involuntária, a fim de evitar mais traumas à filha e contato com autoridades que reforçariam seu delírio de perseguição. Contudo, os pais, em contato por mensagem, recusaram essa opção, alegando que Beatriz estava mais “controlada" e que preferiam esperar mais tempo, na esperança de sua melhora. O estudo de caso ilustra a distorção de crenças e percepções de Beatriz sobre a realidade, como o negacionismo em relação às vacinas e à confiança na ciência. Apesar da colaboração entre a equipe de saúde e líderes religiosos, os pais mantêm uma postura resistente às intervenções de saúde mental necessárias para prevenir agravamentos e promover o bem-estar da jovem, que descreve os obstáculos da prática.
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CENAT
Mariana Sade
Thalia de Oliveira Lima Neivert
Alef
Lanna - CENAT
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