O fenômeno de ouvir vozes é composto por uma multiplicidade de sentidos, podendo variar de acordo com a cultura, contexto social e história dos sujeitos. Assim, partindo da perspectiva da Reforma Psiquiátrica, da Saúde Mental Coletiva e da noção inter-relacional entre o “eu” e o mundo - conforme os pressupostos fenomenológicos existenciais e humanistas presentes nessa pesquisa - evidencia-se, aqui, uma proposta de despatologização dos ouvidores; por meio da interlocução entre a Psicologia e a Arte enquanto manejo clínico de terapia de grupo. Logo, esse trabalho tem por objetivo propor uma nova abordagem no manejo psicoterapêutico de grupo para pessoas que ouvem vozes, ao inserir a Arte como método de intervenção clínica focada na validação da autonomia, da dimensão integral do ser e da relevância da inscrição das vozes nas vidas dos ouvidores. Para isso, foi realizada uma revisão bibliográfica sobre o fenômeno de ouvir vozes em suas dimensões biológica-histórica-política-social; bem como, mediante literatura sistematizada da Gestalt-terapia, abordagem da Psicologia que fundamenta as intervenções clínicas de grupo desse trabalho, dentre outras, por intermédio de suas características herdadas do Psicodrama. Destarte, discutiu-se sobre por que essas vozes ainda não estão sendo ouvidas? Quais vozes são aceitas e quais são apagadas pela perpetuação da violência do silenciamento? A quem interessa o silenciamento do fenômeno? O que as vozes têm a nos dizer? Nesse ínterim, o Teatro - assim como outras expressões artísticas - vem retratando ao longo dos séculos a experiência humana nas suas mais diversas facetas, podendo ser utilizado como uma técnica criativa no manejo clínico de terapia em grupo voltada ao ouvidor; a fim de proporcionar a compreensão e a criação de vínculos com as vozes, favorecendo a autonomia e o protagonismo do ouvidor diante de seus próprios processos de saúde/doença. Por fim, conclui-se que na medida em que os profissionais de saúde modificam suas práticas, podem promover a disseminação da perspectiva não patológica do fenômeno de ouvir vozes. Fato relevante à luta antimanicomial e à busca por libertação de práticas e discursos arraigados que ainda almejam docilizar corpos, categorizar sujeitos e ditar condutas sobre a loucura e a normalidade. Isso torna a busca por práticas alternativas de cuidado em saúde mental um fator de extrema importância na valorização das subjetividades e das diversas formas de existir no mundo.
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Thalia de Oliveira Lima Neivert
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