Em meio aos vários personagens e episódios que marcaram a infância do narrador de Menino de engenho (1932), romance de estreia de José Lins do Rego, é possível encontrar a representação literária de práticas religiosas e de crenças populares típicas dos engenhos nordestinos do início do século XX. Abrir o “quarto dos santos” da casa-grande em dias de festa, tratar as divindades com aproximação e familiaridade, acender velas e pagar promessas são apenas alguns exemplos das manifestações religiosas tipicamente brasileiras presentes em meio às lembranças de um narrador adulto que reelabora, através de um discurso memorialista e melancólico, a infância que vivenciou no engenho de seu avô materno, marcada, sobretudo, por vários signos da perda e da morte. Além de narrar tais episódios, o narrador também se recorda das lendas de lobisomens, de zumbis e de outras entidades sobrenaturais que povoam o imaginário popular até os dias de hoje, principalmente a lenda do lobisomem, segundo a qual um homem se transforma em um monstro com características humanas e de lobo, em noites de lua cheia, e sai para saciar sua sede de sangue humano. Tendo isso em vista, o principal objetivo deste trabalho é apresentar, a partir de pesquisa bibliográfica, algumas reflexões sobre as práticas religiosas e os temas da cultura popular brasileira representados em Menino de engenho e vinculados ao projeto estético de José Lins do Rego, voltado, sobretudo, para a revalorização das tradições culturais passadas de geração em geração.
Comissão Organizadora
Flávio Zancheta Faccioni
Paulo Henrique Pressotto
Comissão Científica