A despeito da sua diversidade étnico-racial, as relações étnico-raciais no Brasil são marcadas pela rigidez dos seus processos históricos de exclusão. Em decorrência disso, a invisibilidade dos povos indígenas e a discriminação da população negra continuam repercutindo enquanto manifestação do racismo à brasileira, inclusive na escola. Nesse cenário, a Psicologia Escolar também é convocada para desenvolver estratégias para o processo educativo, numa perspectiva antirracista, ética e emancipadora, estando atenta para os efeitos das profundas desigualdades que caracterizam a sociedade brasileira. A pesquisa desenvolvida teve como objetivo analisar a atuação das psicólogas escolares frente às relações étnico-raciais na escola, investigando suas representações sociais sobre as relações étnico-raciais, bem como a formação destas profissionais acerca da temática étnico-racial, sendo ainda feito um levantamento das estratégias de intervenção utilizadas nesse contexto e do perfil biossociodemográfico e profissional das participantes. Participaram da pesquisa seis psicólogas e um psicólogo atuantes na área escolar, em instituições de ensino de nível básico, da rede pública e da rede privada no município de São Luís. Foi realizado um estudo de campo descritivo, de caráter qualitativo e quantitativo. Os instrumentos utilizados foram um questionário biossociodemográfico e profissional, e um roteiro de entrevista semi-estruturada. Os dados obtidos por meio do questionário foram analisados a partir da estatística descritiva (frequência absoluta). Já a análise das falas das entrevistadas ocorreu mediante o processamento dessas informações no software de análises de dados textuais, IRAMUTEQ. Neste estudo, o tipo de análise escolhida foi a Classificação Hierárquica Descendente (CHD) ou método de Reinert, fornecendo cinco classes de palavras que dizem respeito aos conteúdos semânticos das falas das psicólogas entrevistadas. Para este trabalho, foram selecionadas a Classe 1 (Opiniões sobre preconceito e discriminação) e a Classe 4 (Percepções e intervenções na escola), que além de apresentarem uma aproximação dos seus conteúdos semânticos, relacionam-se às representações sociais das relações étnico-raciais, forjadas pelas participantes. Os resultados demonstraram que essas representações versam sobre: a negação dos impactos das relações étnico-raciais no contexto escolar; resumir à temática étnico-racial ao combate de casos pontuais de racismo; reconhecer o racismo nas relações interpessoais e negá-lo ao nível institucional; afirmar que tema das relações étnico-raciais não é uma demanda nas escolas onde a maioria dos estudantes são negros; perceber situações de preconceito e discriminação racial na escola como casos isolados e descontextualizados da comunidade escolar, ou ainda entendidos como elementos de fora da rotina escolar, trazidos e potencializados por quem se queixa. Por outro lado, as intervenções conduzidas nos casos de preconceito e discriminação narradas pelas participantes tiveram dois tipos de conduta: nas situações ocorridas na Educação Infantil, a abordagem aconteceu apenas com as crianças negras ofendidas e seus pais; já nas escolas envolvidas com uma cultura agregadora, de abertura ao diálogo e que considera a diversidade da sua comunidade escolar, a atuação profissional das psicólogas escolares priorizou atividades em grupo, numa ação multiprofissional. No entanto, em sua maioria, os trabalhos desenvolvidos não contemplam ações institucionais. Conclui-se que as representações sociais sobre as relações étnico-raciais na escola e, por conseguinte, as intervenções utilizadas nesse contexto, estão estreitamente associadas à insuficiência ou à ausência de formação sobre a temática étnico-racial, pelas psicólogas entrevistadas. Sendo assim, é de extrema importância que a Psicologia observe com maior afinco a temática das relações étnico-raciais, favorecendo uma formação profissional compromissada com o respeito à diversidade e com a superação das desigualdades.