Resumo
Intui-se neste trabalho, anunciar a possibilidade da inserção da pedagogia dos multiletramentos como ferramenta de emancipação e justiça social, corroborando para construção de práticas pedagógicas que valorizam e incorporam os movimentos nos/dos cotidianos permeados pelas relações dialéticas nos espaçostempos, atravessadas e impactadas pelas identidades e subjetividades dos sujeitos participantes no/do processo de aprendizagem. A pedagogia dos multiletramentos e o uso das multilinguagens, são metodologias que favorecem a criação de currículos pensadospraticados na perspectiva de uma educação em Direitos Humanos que possibilite o empoderamento social e coletivo dos sujeitos na escola, anunciando suas vozes e vivências num currículo que pode ser pensado para e com os educandos.
Este artigo narra a observação de uma experiência promovida por uma professora de uma escola pública da Rede Municipal de Niterói com crianças do 5° ano do Ensino Fundamental. Será apresentado o rap como expressão artística, movimento político e cultural apreciado pelos estudantes dentrofora do espaço escolar. Considerando este estilo musical, apreciado pelos estudantes, como instrumento dos seus cotidianos, o qual, através da oralidade, letras, batalhas de rimas e dança, anunciam seus costumes, gostos e reivindicações. A proposta pedagógica foi realizada num projeto de articulação educacional com o referenciado estilo musical após a observação do interesse que os educandos demonstravam pelo rap durante as aulas assistindo vídeos de performances em plataformas virtuais da internet como o TIKTOK e o Instagram e produzindo dentro do espaço escolar rodas de batalha de rima com seus pares. A ilustração desta proposta, insere-se nas práticas pedagógicas onde docentes e estudantes assumem a imprescindível autoria na produção de um currículo pensado/praticado a partir das riquezas e saberes oriundos da cultura e arte popular periférica, dita marginal e deslegitimada na escola e em outros espaços socioculturais que reproduzem padrões hegemônicos normativos para validação científica do saber. Faz-se urgente não só investir e incentivar formações pedagógicas no viés de uma educação transformadora, mas também evidenciar as fabulações e caminhos que tem sido criados pelos educadores e agentes educacionais, ainda que no micro, para institucionalização de currículos decoloniais, rompendo com um padrão antropofágico da cultura eurocentrada.
Palavras Chaves: Práticas. Multiletramentos. Cotidianos.
XII SEMINÁRIO INTERNACIONAL AS REDES EDUCATIVAS E AS TECNOLOGIAS: Tessituras de solidariedade e de convivências nos diferentes espaçostempos educativos
Cantar, dançar e viver a experiência mágica de suspender o céu é comum em muitas tradições. Suspender o céu é ampliar o nosso horizonte; não o horizonte prospectivo, mas um existencial. (...) Definitivamente não somos iguais, e é maravilhoso saber que cada um de nós que está aqui é diferente do outro, como constelações. O fato de podermos compartilhar esse espaço, de estarmos juntos viajando não significa que somos iguais; significa exatamente que somos capazes de atrair uns aos outros pelas nossas diferenças, que deveriam guiar o nosso roteiro de vida. (Ailton Krenak, 2020, p. 14/15)
O XII Seminário Internacional As Redes educativas e as tecnologias: tessituras de solidariedade e de convivências nos diferentes espaçostempos educativos, é a décima segunda edição do evento bienal que vem estabelecendo diálogos entre pesquisas desenvolvidas no Brasil e no exterior relacionada às diferentes formas de existência numa sociedade onde todas, todos e todes tenham seus direitos garantidos e mantidos através do fortalecimento da democracia e do acesso e permanência aos processos formais de educação.
Temos acompanhado impactados a crescente onda de violência que vem atingindo várias instâncias sociais, entre elas as instituições educativas. Tais ações levam ao recrudescimento de lógicas e práticas de não reconhecimento da legitimidade “da outra, do outro e de outre” e, assim, naturalizando-se a sua extinção. No extremo, as premissas de eliminação das diferenças em que o conservadorismo ressoa como pauta das ações políticas e comportamentos sociais, tornam as práticas docentes alvos de questionamentos, perseguições e ataques. Somos, então, alvos, justamente por problematizarmos a progressiva desautorização da autonomia e do saber profissional docente, embates que estão intensificados tanto na produção dos currículos, quanto nas práticas cotidianas, tensão essa que vem se disseminando com o recrudescimento dos pensamentos e ações conservadoras (LACERDA, 2019). Essa intensificação dos conservadorismos, em nossa compreensão, vem atingindo diversos espaçostempossociais e trazendo questões que se referem ao debate sobre os sentidos da educação escolarizada e dos conhecimentossignificações produzidos nos currículos. No atual contexto, a complexidade das práticas docentes e curriculares nos cotidianos das escolas vem sendo atravessada por pautas do conservadorismo, ou que se utilizam de discursos e sentidos mais conservadores para dissimular projetos de sociedade pautados em premissas ultraliberais, que impõem perdas significativas de direitos e da própria ideia de direito à população (MOURA, 2018; GARCIA e GOUVÊA, 2018). Um dos pontos comuns aos projetos de poder dos setores que se aliaram em torno da anulação das pautas de democratização, parece enfraquecer a legitimidade das lutas por direitos ou mesmo do direito a ter direitos.
Como contraponto a tudo o que temos vivido nos últimos anos, o XII Seminário Redes foi um espaço de encontros solidários, onde práticas de valorização do estarmos juntos se tornaram centrais. Inspirados pela certeza de que o caminho se constrói no caminhar coletivo (PAIS, 2003), refletimos juntos sobre as diversas redes de aprendizagens culturais que emergem das vivências cotidianas. Essas redes, ao circularem outras lógicas, sentidos, significados, saberes e práticas, revelaram-se capazes de alimentar deslocamentos necessários em tempos de violência, desde que percebidas e visibilizadas.
Durante o seminário, os diálogos promovidos por nossas pesquisas contribuíram para explorar práticas mais solidárias e convivências mais dialogais e coletivas, atingindo os objetivos desta edição, que foram: debater o contexto de ódio e violência presente na sociedade brasileira e outros contextos internacionais, seus reflexos nos espaços educativos; socializar formas de solidariedade e bem-viver identificadas em nossas pesquisas nas universidades, considerando as conjunturas atuais; discutir formas de resistência aos discursos e práticas de ódio e violência que permeiam os espaços educativos e as relações sociais; investigar o extremismo contemporâneo, especialmente em relação ao seu impacto entre jovens adolescentes e à disseminação de atos de violência ideologicamente motivados; e debater pesquisas recentes sobre políticas e ações educativas contraextremistas.
O evento reafirmou o potencial transformador do diálogo, das práticas solidárias e das tessituras coletivas como resposta aos desafios de nosso tempo, por meio de uma programação diversificada composta por atividades acadêmicas e culturais realizadas na Universidade do Estado do Rio de Janeiro, com transmissão simultânea pelo canal do evento no YouTube.
O Seminário contou com mais de 1.000 participantes inscritos, 446 trabalhos apresentados nas modalidades virtual e presencial, 10 oficinas, 9 mesas redondas presenciais e 11 comunicações encomendadas online, que incluíram tradução em Libras, inglês e francês. Entre os participantes, destacaram-se 13 convidados estrangeiros de diversos países e universidades. Além disso, a programação do Seminário incluiu as reuniões da Associação Brasileira de Currículo (ABdC) e do GE Cotidianos: éticas, estéticas e políticas (ANPEd).
As atividades culturais foram um destaque do evento. Durante a abertura, ocorreram a palestra do professor e escritor indígena Daniel Munduruku e a apresentação do coro Coroá Canto Coral, sob a regência de Ignez Perdigão. Também foram lançados 30 livros que abordam temas como cotidianos, memórias docentes, práticas pedagógicas e resistências. A programação incluiu ainda a II Mostra Audiovisualidades Negras, que trouxe reflexões urgentes a partir da perspectiva da negritude como um ponto de partida potente para repensar nosso cotidiano e imaginário. O encerramento foi marcado pela apresentação da Bateria Feminina Fina Batucada, sob a regência de Mestre Ryco.
Animados pelo que os dias de evento trouxeram de conhecimentos, inspirações, questões e experiências, convidamos à leitura dos textos que compõem os Anais do XII Seminário Internacional As Redes educativas e as tecnologias: tessituras de solidariedade e de convivências nos diferentes espaçostempos educativos.
Alexandra Garcia
Denize Sepulveda
Gustavo Coelho
REFERÊNCIAS
GARCIA, A.; GOUVÊA, T. da “Furando “a grande onda”: tensões e sentidos de docência e currículos frente ao conservadorismo. Communitas, [S. l.], v. 2, n. Esp, p.28–46, 2018. Disponível em: https://periodicos.ufac.br/index.php/COMMUNITAS/article/view/2226. Acesso em: 7 jun. 2023.
KRENAK, A. Ideias para adiar o fim do mundo. São Paulo: Companhia das Letras, 2019.
LACERDA, M. B. O novo conservadorismo brasileiro: de Reagan a Bolsonaro. Porto Alegre: Zouk, 2019.
MOURA, F. P. Conservadorismo cristão e perseguição aos estudos de gênero C: a quarta versão da BNCC. Communitas, v. 2, 2018.
PAIS, J. M. Vida cotidiana: enigmas e revelações. São Paulo: Cortez, 2003.
Comissão Organizadora
Creare Solutions
Comissão Organizadora
Denize Sepulveda
Gustavo Coellho
Alexandra Garcia Ferreira Lima
LIVIA MARTINS BARBOSA PEREIRA
Evelyn Louise do Carmo Barcellar
Rafaela da Costa Fernandes
Jamily Pereira Pinto
Isabella de Fátima Siqueira Barboza
Rafaella Mattos
Comissão Científica
MARISTELA PETRY CERDEIRA
Saulo Quintanilha
Luciana Velloso
Maria Celi Vasconcelos
Talita Vidal Pereira
Flávia Barbosa da Silva Dutra
Dilton Ribeiro Couto Junior
Adriana Almeida
Gilcilene de Oliveira Damasceno Barao
Andrea da Paixão Fernandes
Coordenação Geral
Alexandra Garcia
Denize Sepulveda
Gustavo Coelho
Coordenador do Comitê Científico
Gustavo Coelho
Coordenadores das Atividades Culturais
Mailsa Carla Pinto Passos
Alexandre Guerreiro
Secretaria
Alexandre Pereira Mérida
Lívia Martins
Francy Marroquín
Fernanda Dias
Izadora Agueda Ovelha
Maristela Petry Cerdeira
Nathalia Neves
Saulo Quintanilha
Eixo 1
Tessituras de solidariedade e de convivências nos diferentes espaços-tempos educativos cotidianos e nas práticas culturais
Coordenação: Luciana Velloso
Eixo 2
Tessituras de solidariedade e de convivências nas instituições educativas e suas histórias
Coordenação: Maria Celi Vasconcellos
Eixo 3
Tessituras de solidariedade e de convivências nos diferentes espaços-tempos educativos com os currículos
Coordenação: Talita Vidal Pereira
Eixo 4
Tessituras de solidariedade e de convivências nos diferentes espaços-tempos educativos da educação inclusiva
Coordenação: Flávia Dutra
Eixo 5
Tessituras de solidariedade e de convivências nas infâncias e nas juventudes
Coordenação: Dilton Ribeiro do Couto Junior
Eixo 6
Tessituras de solidariedade e de convivências nos diferentes espaços-tempos educativos, processos formativos e frente às desigualdades sociais
Coordenação: Adriana de Almeida
Eixo 7
Tessituras de solidariedade e convivências nos espaços-tempos educativos: outras formas de conceber formação em periferias
Coordenação: Gilcilene de Oliveira Damasceno Barão
Eixo 8
Tessituras de solidariedade e de convivências nos diferentes espaços-tempos educativos do ensino em Educação Básica
Coordenação: Andrea da Paixão Fernandes
ProPEd/UERJ, ABdC (Associação Brasileira de Currículo)
PPGedu-FFP/UERJ, PPGECC-FEBF/UERJ, PPGEB-Cap/UERJ, ANPEd (GTs Currículo; Educação e Comunicação; Educação e relações étnico-raciais e GE Cotidianos - éticas, estéticas e políticas), CIRNEF – Normandie Université, FAPERJ – Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro, CAPEs – Fundação Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, CNPq - Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico