As meninas aletradas na correspondência e no arquivo de Guimarães Rosa (1966 e 1967)

  • Autor
  • Camila Rodrigues
  • Resumo
  •  

    Para abordar a relação entre arquivo e epistemologia, partimos das “lembranças de infância das netas mais novas do diplomata e escritor João Guimarães Rosa - Beatriz Helena Tess (4 e 5 anos) e Vera Lucia Tess “Ooó” (3 e 4 anos) -, em menções no seu acervo, especialmente nos seus Cadernos Literários (arquivo IEB USP/Fundo JGR)  e também nos seus exemplares no de sua esposa Aracy C. Guimarães Rosa (IEB USP/Fundo ACGR). Cotejar esse material  ao conteúdo das missivas  de Ooó do vovô: correspondência de João Guimarães Rosa, o vovô  Joãozinho, com Vera e Beatriz Helena Tess (2003) e Cartas a William Agel de Melo (2003),  pode nos revelar dinâmicas daquela escritura. Os postais destinados às meninas que moravam em São Paulo e que ainda eram “aletradas” (apartadas do letramento), são convites a passar uma temporada no Rio de Janeiro com os avós. Para isso o escritor lançou mão de linguagens não verbais (DAVIS, 1979) como desenhos (MÉREDIEU,2006), transcrições de corruptelas infantis (BENJAMIN, 1992) e canções (ZUMTHOR, 2010), em uma correspondência no limite entre o oral e o escrito, cara ao seu projeto literário (COUTINHO, 1991). Também nas cartas ao cônsul William Angel, as menções  à Ooó expressam um desejo de compreender a criança e discutem as possibilidades da inserção de suas múltiplas linguagens (EDWARDS; FORMAN& GANDINI,1999) em seu processo de criação literária. Quando as netinhas  são citadas nos Cadernos ou em seus anexos, já estão participando da elaboração do processo de composição de personagens infantis. Nossa proposta é relevante para os estudos de Crítica Genética, pois repensar a tensão entre oral e escrito é determinante para nossa História Cultural e literária, ainda que bastante pontuais nas análises dos manuscritos brasileiros  (PINO;Zular,2007, p. 98). No caso da escritura de Rosa, que se estrutura a partir da herança de séculos de cultura oral, não é possível ignorá-la, mas nossas fontes a abordam a partir de um ponto de vista original: a criativa linguagem infantil.

    Referências

    BENJAMIN, Walter. A Berlin Chronicle. In: One-way Street and another writtings.       Trad. Edmund Jephcott e Kingsley Shorter.London: Verso, 1992.

    COUTINHO, Eduardo (org). Guimarães Rosa. 2a.ed. Rio de Janeiro: Civilização           Brasileira, 1991.

    DAVIS, Flora. A Comunicação não verbal. Trad. Antonio Dimas. São Paulo:      Summus,1979.

    EDWARDS, Carolyn; FORMAN, George & GANDINI, Lella.  As Cem Linguagens da            Criança – A abordagem de  Reggio  Emilia  na  Educação  da  Primeira           Infância.  Trad. Dayse Batista, Porto  Alegre:Artmed,1999.

    MÈRIDIEU,  Florence. O desenho  infantil. Trad. Álvaro Lorencini, Sandra  Nitrini.       São Paulo:Cultrix,2006.

    PINO, Claudia Amigo & ZULAR, Roberto. Escrever sobre escrever – uma introdução à crítica genética.São Paulo: Martins Fontes, 2007.

    ROSA, João Guimarães. Cartas a William Agel de Mello. Cotia: Ateliê Editorial, 2003.

    _____.Ooó do vovô: correspondência de João Guimarães Rosa, o vovô  Joãozinho, com            Vera e Beatriz Helena Tess, de setembro de 1966 a novembro de 1967. São          Paulo Edusp; Imprensa oficial:Ed.    PUC/ Minas, 2003.

    ZUMTHOR, Paul. Introdução à poesia oral. Trad. Jerusa Pires Ferreira, Maria Lucia

                Diniz Pochat e Maria Inês de Almeida. Belo Horizonte: Editora UFMG,2010.

     

     

     

     

  • Palavras-chave
  • Guimarães Rosa, linguagem verbal x não verbal, Cadernos literários, Infância, correspondência;
  • Área Temática
  • ARQUIVO E EPISTOLOGRAFIA: UNIVERSO LITERÁRIO
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O Núcleo de Estudos em Memória e Acervos – NEMA/UESPI promoveu o V Simpósio Nacional de Crítica Genética e Arquivologia em Teresina-PI, ocorrido nos dias 24, 25 e 26 de março de 2021, visando difundir as pesquisas sobre gênese da criação e arquivologia, além de prestar homenagem aos 10 anos do Núcleo de Estudos em Memória e Acervos – NEMA/UESPI – um dos núcleos de pesquisa em crítica genética no Brasil. Esse evento bienal reuniu pesquisadores de todo o país e é organizado dentro das diretrizes nacionais dos estudos do processo de criação na literatura; nas artes em geral, e ainda nos estudos da arquivologia. Em sua quinta edição, o V Simpósio Nacional de Crítica Genética e Arquivologia teve como sede a UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ, numa organização de Extensão e Pesquisa em Literatura do Grupo de Estudos em Memória e Acervos – NEMA, ligado à Pró-reitora de Pesquisa e Pós-graduação da UESPI. Nesse sentido, o V Simpósio Nacional em Crítica Genética e Arquivologia foi organizado em torno da perspectiva de discussão sobre o papel da crítica textual, da publicação de textos e do arquivamento destes, do processo de criação nas artes, da importância das fontes históricas e da edição crítica como produto final do estudo do manuscrito a ser publicado. Além disso, reforçou também as abordagens teóricas do conhecimento científico que ajudam a entender o processo criador e arquivístico, dentre elas: História da Literatura, Teoria da Literatura, Crítica Literária, História, Sociologia, Educação, Biblioteconomia e Arquivologia. Nesse ínterim, o formato prevê conferências, mesas-redondas, oficinas e simpósios temáticos.

Os Anais do V Simpósio Nacional de Crítica Genética e Arquivologia reúne inicialmente os resumos dos trabalhos apresentados ao longo do evento, distribuindo-se em simpósios temáticos coordenados por pesquisadores de todo o Brasil. Os simpósios temáticos abrangeram elementos específicos referentes à edição crítica e à publicação dos mais diversos textos.

Editor(a)

Márcia Edlene Mauriz Lima

 

Corpo Editorial

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Rosângela Pereira de Sousa (UESPI)

Maria do Amparo Ferro (UFPI)

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