Este trabalho discute a inserção de marcas de pontuação em falas de personagens escritas sob a forma de discurso direto, quando uma díade de alunas recém-alfabetizadas (6-8 anos) combinou e escreveu textos em sala de aula. Fundamentado nos estudos em Genética Textual, a partir de uma abordagem enunciativa, identificamos as marcas de pontuação materializadas em cinco manuscritos escolares; em seguida, a partir de registro fílmico, recuperamos o que foi dito pelas alunas ao inserir e/ou rasurar os pontos-dois e o travessão enquanto escreviam “A família F atrapalhada”. No conjunto dos manuscritos escolares, contabilizamos 139 marcas de pontuação. Dessas marcas, 88 acompanhavam as falas de personagens: letra maiúscula (24), dois-pontos (17), travessão (16), espaço entre linhas (10), ponto de exclamação (9), ponto continuidade (7), ponto final (2), indentação (2) e ponto de interrogação (1). Em “A família F atrapalhada”, as falas dos personagens foram acompanhadas por aspecto gráfico-espacial (a cada linha, uma fala) e 50 marcas de pontuação, dentre as quais dois-pontos (8 no total; 3 rasurados) e travessões (7) localizados, predominantemente, no final e no começo da linha gráfica subsequente, circunscrevendo o enunciado de discurso direto. Esse posicionamento sugere que as alunas atribuem uma função enunciativa a essas marcas, associada ao texto dialogal estabelecido entre os personagens. Por meio do acesso ao processo de escritura em tempo real, observou-se que a pontuação foi inserida à medida que o texto estava sendo escrito e que o reconhecimento da necessidade de acréscimo dessas marcas surgiu após a enunciação do verbo “falar” – “e a mãe falou. Dois pontos. Dois pontos, travessão” (aluna I). Além de associar o verbo falar à pontuação, chama atenção a ordem em que as marcas foram enunciadas - “dois-pontos” e “travessão”, o que remete a falas docentes que “fixam” essa sequência. Posteriormente, o uso de pontuação foi relacionado aos diferentes planos enunciativos que caracterizam o discurso direto em narrativas ficcionais: “era o narrador que tava... falando até agora”, disse a aluna N antes da inserção dos dois-pontos e do travessão na história. Somados às inserções, as rasuras e os comentários de I e N, os gestos discentes indicando onde a pontuação deve ser acrescentada indicam conhecimento do uso, da função e da posição gráfico-espacial dessas marcas no texto, como ilustram as falas subsequentes: “não é aí dois pontos!” (aluna N, com o dedo na linha 6), “daí, ó, faz dois pontos. Só dois pontos. Daí aqui que vai travessão” (aluna I, com o dedo nas linhas 6 e 7). O acesso ao registro multimodal desse processo de escritura revela que o uso das marcas de pontuação está associado às práticas de letramento escolar e experiências leitora/escritural das alunas, além de parecer estar vinculado tanto à construção gramatical e semântica do texto escrito, quanto à configuração gráfico-espacial do manuscrito escolar.
O Núcleo de Estudos em Memória e Acervos – NEMA/UESPI promoveu o V Simpósio Nacional de Crítica Genética e Arquivologia em Teresina-PI, ocorrido nos dias 24, 25 e 26 de março de 2021, visando difundir as pesquisas sobre gênese da criação e arquivologia, além de prestar homenagem aos 10 anos do Núcleo de Estudos em Memória e Acervos – NEMA/UESPI – um dos núcleos de pesquisa em crítica genética no Brasil. Esse evento bienal reuniu pesquisadores de todo o país e é organizado dentro das diretrizes nacionais dos estudos do processo de criação na literatura; nas artes em geral, e ainda nos estudos da arquivologia. Em sua quinta edição, o V Simpósio Nacional de Crítica Genética e Arquivologia teve como sede a UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ, numa organização de Extensão e Pesquisa em Literatura do Grupo de Estudos em Memória e Acervos – NEMA, ligado à Pró-reitora de Pesquisa e Pós-graduação da UESPI. Nesse sentido, o V Simpósio Nacional em Crítica Genética e Arquivologia foi organizado em torno da perspectiva de discussão sobre o papel da crítica textual, da publicação de textos e do arquivamento destes, do processo de criação nas artes, da importância das fontes históricas e da edição crítica como produto final do estudo do manuscrito a ser publicado. Além disso, reforçou também as abordagens teóricas do conhecimento científico que ajudam a entender o processo criador e arquivístico, dentre elas: História da Literatura, Teoria da Literatura, Crítica Literária, História, Sociologia, Educação, Biblioteconomia e Arquivologia. Nesse ínterim, o formato prevê conferências, mesas-redondas, oficinas e simpósios temáticos.
Os Anais do V Simpósio Nacional de Crítica Genética e Arquivologia reúne inicialmente os resumos dos trabalhos apresentados ao longo do evento, distribuindo-se em simpósios temáticos coordenados por pesquisadores de todo o Brasil. Os simpósios temáticos abrangeram elementos específicos referentes à edição crítica e à publicação dos mais diversos textos.
Editor(a)
Márcia Edlene Mauriz Lima
Corpo Editorial
Lanna Caroline Almeida (UFPI)
Lueldo Teixeira Bezerra (Centro Universitário Maurício de Nassau/PI)
Raimunda Celestina Mendes da Silva (UESPI-PI/NEMA)
Aparecido José Cirillo (UFES)
Eduardo Calil (UFAL/CNPq)
Rosângela Pereira de Sousa (UESPI)
Maria do Amparo Ferro (UFPI)
Assunção de Maria Sousa e Silva (UESPI/UFPI)
Raffaella Fernandez (UFRJ/PACC)
Sergio Romanelli (UFSC)
Christiane Stallaert (Antwerpen Universiteit)
Edina Regina Pugas Panichi (UEL)
Livia Sprizão de Oliveira (UEL)
Rosa Borges dos Santos (UFBA)
Mabel Meira Mota (UFBA)
Ana Cristina Meneses de Sousa (UESPI)
Paula Guerra (Universidade do Porto)
Douglas De Sousa (UEMA)
Emanoel Cesar Pires de Assis (UEMA)
Henrique Borralho (UEMA)
Silvana Maria Pantoja dos Santos (UEMA/UESPI)
Elizabeth Hazin (UnB)
Maria Aracy Bonfim (UFMA)
Cacio José Ferreira (UFAM)
Francisco Hudson Pereira da Silva (NEMA/UESPI)
Diagramação
Francisco Hudson Pereira da Silva
Revisão
Os autores.
Periodicidade
Bianual
Núcleo de Estudos em Memória e Acervo - NEMA/UESPI
R. João Cabral - Matinha, Teresina - PI, 64002-150 - Teresina - Piauí
Telefone: (86) 3213-7441