Nas primeiras décadas do século XX, o etnólogo explorador Theodore Koch partiu do porto de Manaus em direção à floresta Amazônica em busca de um material inestimável para suas pesquisas: o registro da essência humana. Assim como tantos aventureiros, que compartiam missões semelhantes, este alemão voltou ao seu país de origem com um material pronto para publicação: o livro Von Roroima zum Orinoco – produto de uma série de anotações, fotos e gravações registrando a tradição folclórica e melódica captadas nas manifestações rituais características dos povos nativos dos arredores do Monte Roraima. Dentre elas lia-se, pela primeira vez, as aventuras e descrições do deus mítico Makunaima.
Fruto do espanto que acomete o homem ante as forças da Natureza, este personagem, concebido pela capacidade inventiva daqueles povos, surge como explicação numênica para as imponentes formações rochosas do norte do país. Uma paisagem que desperta a cintila criadora e leva a imaginação a se refugiar nos poderes sobrenaturais em busca de soluções reconfortantes, que respondam aos seus anseios: de onde viemos – o passado – e como sobreviveremos – o futuro. Um conjunto de saberes que atravessa gerações e vai se aperfeiçoando em fórmulas narrativas metafóricas que entrelaçam os mistérios imanentes regentes das interações entre o ser e ambiente que o circunda.
Foram essas histórias, carregadas de simbologias e dimensões psicológicas, que forneceram as imagens geradoras para a conclusão da obra modernista Macunaíma, um herói sem nenhum caráter, escrita por Mário de Andrade e publicada em 1928. Este livro, que poderia ser considerado um reconto das tradições orais, bebeu na fonte mitológica dos índios Taulipang e Arekuná, e expandiu sua cosmogonia para a contemporaneidade, entrando em conflito com a elite crítica parnasiana da época, acostumada aos padrões de comportamento europeus. Incomodava-os ter como modelo heroico para o povo brasileiro a figura de um personagem preguiçoso, malandro e safado.
Meio século depois da primeira edição, com a intenção de comemorar o cinquentenário da obra, o crítico Antonio Bento, organiza e publica pela da Editora da Universidade de São Paulo, uma luxuosa edição contendo mais de quarenta ilustrações produzidas pelo artista plástico Carybé, inspirado na obra Andradina que, segundo ele, ampliam “os limites plásticos da própria obra de Mário” (BENTO, 1979).
Podemos, aqui, observar a clássica linhagem sequencial do tema narrativo que encontra sua gênese nas tradições orais, seu crescimento e multiplicação sob a forma de livros-texto impressos e alcança a síntese na produção artística visual.
Este artigo se propõe a traçar paralelos entre o mítico, o textual e o imagético, tendo como ponto de partida as origens ancestrais de Makunaima – registradas por Theodore Koch; as influências que estes textos exerceram sobre o processo criativo de Mário de Andrade – apoiadas nas obras biográficas de Telê Ancona Lopez (2015), M. Cavalcanti Proença (1950) e Gilda Mello de Souza (2003) e a identificação de passagens selecionadas no livro Macunaíma, um herói sem nenhum caráter que, possivelmente, serviram de inspiração para a caracterização visual do personagem central, sob o olhar de Carybé.
O Núcleo de Estudos em Memória e Acervos – NEMA/UESPI promoveu o V Simpósio Nacional de Crítica Genética e Arquivologia em Teresina-PI, ocorrido nos dias 24, 25 e 26 de março de 2021, visando difundir as pesquisas sobre gênese da criação e arquivologia, além de prestar homenagem aos 10 anos do Núcleo de Estudos em Memória e Acervos – NEMA/UESPI – um dos núcleos de pesquisa em crítica genética no Brasil. Esse evento bienal reuniu pesquisadores de todo o país e é organizado dentro das diretrizes nacionais dos estudos do processo de criação na literatura; nas artes em geral, e ainda nos estudos da arquivologia. Em sua quinta edição, o V Simpósio Nacional de Crítica Genética e Arquivologia teve como sede a UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ, numa organização de Extensão e Pesquisa em Literatura do Grupo de Estudos em Memória e Acervos – NEMA, ligado à Pró-reitora de Pesquisa e Pós-graduação da UESPI. Nesse sentido, o V Simpósio Nacional em Crítica Genética e Arquivologia foi organizado em torno da perspectiva de discussão sobre o papel da crítica textual, da publicação de textos e do arquivamento destes, do processo de criação nas artes, da importância das fontes históricas e da edição crítica como produto final do estudo do manuscrito a ser publicado. Além disso, reforçou também as abordagens teóricas do conhecimento científico que ajudam a entender o processo criador e arquivístico, dentre elas: História da Literatura, Teoria da Literatura, Crítica Literária, História, Sociologia, Educação, Biblioteconomia e Arquivologia. Nesse ínterim, o formato prevê conferências, mesas-redondas, oficinas e simpósios temáticos.
Os Anais do V Simpósio Nacional de Crítica Genética e Arquivologia reúne inicialmente os resumos dos trabalhos apresentados ao longo do evento, distribuindo-se em simpósios temáticos coordenados por pesquisadores de todo o Brasil. Os simpósios temáticos abrangeram elementos específicos referentes à edição crítica e à publicação dos mais diversos textos.
Editor(a)
Márcia Edlene Mauriz Lima
Corpo Editorial
Lanna Caroline Almeida (UFPI)
Lueldo Teixeira Bezerra (Centro Universitário Maurício de Nassau/PI)
Raimunda Celestina Mendes da Silva (UESPI-PI/NEMA)
Aparecido José Cirillo (UFES)
Eduardo Calil (UFAL/CNPq)
Rosângela Pereira de Sousa (UESPI)
Maria do Amparo Ferro (UFPI)
Assunção de Maria Sousa e Silva (UESPI/UFPI)
Raffaella Fernandez (UFRJ/PACC)
Sergio Romanelli (UFSC)
Christiane Stallaert (Antwerpen Universiteit)
Edina Regina Pugas Panichi (UEL)
Livia Sprizão de Oliveira (UEL)
Rosa Borges dos Santos (UFBA)
Mabel Meira Mota (UFBA)
Ana Cristina Meneses de Sousa (UESPI)
Paula Guerra (Universidade do Porto)
Douglas De Sousa (UEMA)
Emanoel Cesar Pires de Assis (UEMA)
Henrique Borralho (UEMA)
Silvana Maria Pantoja dos Santos (UEMA/UESPI)
Elizabeth Hazin (UnB)
Maria Aracy Bonfim (UFMA)
Cacio José Ferreira (UFAM)
Francisco Hudson Pereira da Silva (NEMA/UESPI)
Diagramação
Francisco Hudson Pereira da Silva
Revisão
Os autores.
Periodicidade
Bianual
Núcleo de Estudos em Memória e Acervo - NEMA/UESPI
R. João Cabral - Matinha, Teresina - PI, 64002-150 - Teresina - Piauí
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