I-ching, croquis e uma virada processual na elaboração de uma pequena aparição animada

I-ching, croquis e uma virada processual na elaboração de uma pequena aparição animada

• Autor
• Cláudia Maria França da Silva
• Resumo

• A presente comunicação refere-se ao exercício da observação e descrição, em Desenho, Fotografia e Escrita. Trata-se de uma proposta realizada em residência artística em Córdoba, na Argentina, por meio da Casa Estúdio B'atz, entre 27/06 e 23/07 de 2015. Ali propus-me a fazer três vertentes experimentais que lidam com o fenômeno do olhar. Aqui, detenho-me em apenas uma delas, em Desenho.

  Trata-se de uma série realizada com lápis 3H, borracha e papel. A experiência constou de desenhos de observação diários, ao redor do meio-dia, de um conjunto de 3 garrafas de vidro e três copos transparentes. Munida de 3 moedas iguais e do guia de interpretação do I-Ching, eu jogava todos os dias as moedas e, dos números resultantes, obtinha um padrão gráfico (linhas cheias e linhas interrompidas), que era transposto para o conjunto de garrafas e copos, não em suas posições, mas como garrafas ou copos vazios e cheios de água. Em seguida, desenhava o conjunto de transparências e refrações obtidas, em um intervalo pouco menor do que duas horas, em função da melhor oportunidade de iluminação solar. Iniciava a ocupação do espaço bidimensional à esquerda, com a data, a grafia do I-Ching obtida e um pequeno croquis de 60 segundos, da composição. No espaço resultante, fazia o desenho “oficial” de observação, tentando finalizá-lo sem uso de sombreamentos, utilizando majoritariamente a linha pura de contorno.

  Ao fim da série, pude perceber que os pequenos croquis me interessavam até mais do que os desenhos mais elaborados; nestes, era perceptível o esforço de ver e traduzir a complexidade das refrações e transparências dos objetos vítreos. Cada croquis, no entanto, se resolvia em um minuto, no máximo, diferentemente do desenho mais elaborado, em que gastava pouco mais de 90 minutos.

  A partir desse novo interesse, copiei cada unidade de croquis em papel vegetal para sobreposição posterior, como se formasse um pequeno “caderno” de desenhos. Esta reorganização me fez perceber as linhas de contorno das garrafas e dos copos trêmulas e instáveis, uma espécie de perda de nitidez, similar aos problemas de visão adquiridos nos últimos anos e minimizados por óculos de grau. Colocando o "bloquinho de desenho" contra a luz, percebia nas formas não nítidas, o retorno às dificuldades de ver, antes de usar óculos. 

   

  A partir desse desdobramento, ocorreu-me, ainda, realizar no agora uma pequena aparição animada da cena, tipo stop-motion, a qual está em processo. Por outro lado, a reorganização dos desenhos em um caderno fricciona a hierarquia no processo de elaboração e realização dos desenhos demorados de observação. Se antes, eles eram a finalidade da experiência, aos poucos colocaram-se à margem do processo. Os croquis materializam não apenas essa virada de intenção poética, deixando de ser apenas recurso instrumental, mas também materializam experiências de condensação temporal no processo. Se antes, ocorriam fragmentária e sutilmente dentro de diários, em um momento intermediário tornam-se um caderno próprio, para, depois, tornarem-se uma breve aparição animada, de temporalidade próxima ao tempo de execução de cada unidade de croquis.

   

• Palavras-chave
• Desenho de observação; caderno; animação; dinâmica do processo de criação.
• Área Temática
• PROCESSOS CRIATIVOS E PRÁXIS INTERDISCIPLINARES EM ARTES VISUAIS, MÚSICA E CINEMA

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