Compreendendo o arquivo como um território de disputa, Celia Pedrosa et al. (2018) argumentam que existem modos de leitura autoritários ou nômades nos quais o arquivo recebe sentidos ora fixos e estáveis, ora randômicos e novos. Dessa forma, o arquivo não pode mais ser compreendido apenas como um repositório de narrativas oficiais e/ou únicas, mas sim como um espaço a partir do qual pensamos os restos, os traços e os vestígios como significativos de outras vozes, especialmente daquelas existências consideradas mínimas (LAPOUJADE, 2017). Indago neste trabalho quais as possibilidades de novos sentidos na prática arquivista a partir do que sentimos como maneiras de desestabilizar formas de ser/estar no mundo. Analisando duas expressões artísticas do arquivo de narrativas sobre o assassinato de Matthew Shepard (1976-1998), este trabalho recusa, ecoando Halberstam (2005), a leitura do arquivo como uma construção de uma narrativa única. A canção “Scarecrow” de Melissa Etheridge e a peça The Laramie Project de Moisés Kaufman, lançadas respectivamente em 1999 e 2000, oferecem representações afetivas do assassinato de Shepard em 1998 no qual fora espancado e pendurado como um espantalho na cidade de Laramie no estado de Wyoming (Estados Unidos). As expressões artísticas escolhidas configuram possibilidades de negociar afetos negativos ou “sentimentos feios” (NGAI, 2005) como tentativas de recusar a despotencialização de políticas LGBTQ+. Se é possível em novas leituras, como indicam Pedrosa et al. (2018), soprar uma nova vida, mesmo que espectral, para o arquivo, argumento que as expressões artísticas de Kaufman e Etheridge possam ser lidas como uma tarefa política de recusa de narrativas únicas e estereotipadas de sujeitos LGBTQ+. Assim, pensar o arquivo, em especial o arquivo de Shepard, se torna um desafio de desocupação da heteronormatividade (BOURCIER, 2020) na qual o próprio arquivo é interrogado em suas expressões autoritárias. Para a análise proposta, entrelaço teorizações sobre os afetos e os estudos queer com o intuito de sugerir novas formas de queerizar/estranhar o arquivo e suas interpretações.
O Núcleo de Estudos em Memória e Acervos – NEMA/UESPI promoveu o V Simpósio Nacional de Crítica Genética e Arquivologia em Teresina-PI, ocorrido nos dias 24, 25 e 26 de março de 2021, visando difundir as pesquisas sobre gênese da criação e arquivologia, além de prestar homenagem aos 10 anos do Núcleo de Estudos em Memória e Acervos – NEMA/UESPI – um dos núcleos de pesquisa em crítica genética no Brasil. Esse evento bienal reuniu pesquisadores de todo o país e é organizado dentro das diretrizes nacionais dos estudos do processo de criação na literatura; nas artes em geral, e ainda nos estudos da arquivologia. Em sua quinta edição, o V Simpósio Nacional de Crítica Genética e Arquivologia teve como sede a UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ, numa organização de Extensão e Pesquisa em Literatura do Grupo de Estudos em Memória e Acervos – NEMA, ligado à Pró-reitora de Pesquisa e Pós-graduação da UESPI. Nesse sentido, o V Simpósio Nacional em Crítica Genética e Arquivologia foi organizado em torno da perspectiva de discussão sobre o papel da crítica textual, da publicação de textos e do arquivamento destes, do processo de criação nas artes, da importância das fontes históricas e da edição crítica como produto final do estudo do manuscrito a ser publicado. Além disso, reforçou também as abordagens teóricas do conhecimento científico que ajudam a entender o processo criador e arquivístico, dentre elas: História da Literatura, Teoria da Literatura, Crítica Literária, História, Sociologia, Educação, Biblioteconomia e Arquivologia. Nesse ínterim, o formato prevê conferências, mesas-redondas, oficinas e simpósios temáticos.
Os Anais do V Simpósio Nacional de Crítica Genética e Arquivologia reúne inicialmente os resumos dos trabalhos apresentados ao longo do evento, distribuindo-se em simpósios temáticos coordenados por pesquisadores de todo o Brasil. Os simpósios temáticos abrangeram elementos específicos referentes à edição crítica e à publicação dos mais diversos textos.
Editor(a)
Márcia Edlene Mauriz Lima
Corpo Editorial
Lanna Caroline Almeida (UFPI)
Lueldo Teixeira Bezerra (Centro Universitário Maurício de Nassau/PI)
Raimunda Celestina Mendes da Silva (UESPI-PI/NEMA)
Aparecido José Cirillo (UFES)
Eduardo Calil (UFAL/CNPq)
Rosângela Pereira de Sousa (UESPI)
Maria do Amparo Ferro (UFPI)
Assunção de Maria Sousa e Silva (UESPI/UFPI)
Raffaella Fernandez (UFRJ/PACC)
Sergio Romanelli (UFSC)
Christiane Stallaert (Antwerpen Universiteit)
Edina Regina Pugas Panichi (UEL)
Livia Sprizão de Oliveira (UEL)
Rosa Borges dos Santos (UFBA)
Mabel Meira Mota (UFBA)
Ana Cristina Meneses de Sousa (UESPI)
Paula Guerra (Universidade do Porto)
Douglas De Sousa (UEMA)
Emanoel Cesar Pires de Assis (UEMA)
Henrique Borralho (UEMA)
Silvana Maria Pantoja dos Santos (UEMA/UESPI)
Elizabeth Hazin (UnB)
Maria Aracy Bonfim (UFMA)
Cacio José Ferreira (UFAM)
Francisco Hudson Pereira da Silva (NEMA/UESPI)
Diagramação
Francisco Hudson Pereira da Silva
Revisão
Os autores.
Periodicidade
Bianual
Núcleo de Estudos em Memória e Acervo - NEMA/UESPI
R. João Cabral - Matinha, Teresina - PI, 64002-150 - Teresina - Piauí
Telefone: (86) 3213-7441