Partículas eloquentes, raras, supreendentes: sobre o nascimento de um romance “não convencional”

  • Autor
  • Francismar Ramírez Barreto
  • Resumo
  • No campo da História, acredita Michel de Certeau, tudo começa com o gesto de colocar à parte, "de reunir, de transformar em documentos, alguns objetos de outro modo repartidos". Não se diferencia muito este "início procedimental" daquele que o escritor pernambucano Osman Lins utilizava ao empreender as suas obras de ficção. Muitas das ideias que vinham na sua mente eram colocadas no papel, possivelmente com o intuito de "não perder", de "não esquecer". A interlocução que mantinha consigo, e com algumas “fontes vivas” (por escrito a maior parte das vezes, em folhas destacadas e em correspondências), parecia um processo interminável, construído para que o fluxo intelectual do autor estivesse em permanente debate. O aspecto formal de A Rainha dos Cárceres da Grécia (discutido de forma manifesta nas primeiras páginas) vem a ser, curiosamente, um reflexo (o reflexo acabado) da intensa discussão que Lins sustém (na frente da máquina de escrever ou com a caneta na mão) antes de empreender o texto literário.

     

    Não poucas vezes se associa o arquivo à História. Ainda hoje, que tanto se fala da narrativa dos discursos oficiais, que tanta importância conservam as “fontes” na credibilidade de um conteúdo, a ponte faz sentido. Este trabalho recorrerá a alguns historiadores preocupados pelo tema, visto que os textos literários (ainda que construídos sobre tijolos de natureza diversa) também têm a sua história (“história” com minúsculo, sublinhando a ideia de percurso). Não resultam tão dissímeis, quando vistas de perto, as investigações para o estabelecimento de uma lei, um caso policial, a reconstrução de um episódio colonial ou a recomposição de um romance a partir de peças transcritas, recolhidas, muito ou pouco tempo arquivadas. O primeiro deles (já mencionado), de origem francesa, é conhecido no Brasil pelos volumes sobre A invenção do cotidiano. Ao refletir sobre a memória, De Certeau desliça a discussão ao terreno do arquivo. A historiadora Lila Caimari, professora da Universidad de San Andrés, reconstrói processos judiciais na Argentina da primeira metade do século XX sendo enfática, porém, no processo da pesquisa (isto no ensaio La vida en el archivo). Por último, a historiadora francesa Arlette Farge, especializada no estudo de materiais setecentistas, também ajudará na delimitação desta base argumental.

     

    O material mais importante, porém, será o conjunto selecionado de notas de Lins utilizado para alimentar o seu último romance publicado. O texto que chega nas mãos do leitor (o publicado) encontra-se, por vezes, distante dos pensamentos rascunhados (sem deixar de ser, tanto a discussão como o resultado, um reflexo perfeito de sua poética). O que o leitor/pesquisador encontrará nos documentos referenciados (sob a guarda do Arquivo-Museu de LIteratura Brasileira - Fundação Casa de Rui Barbosa) serão partículas eloquentes, raras e surpreendentes que deixarão à vista a mente pródiga de Lins, o seu empenho na criação de uma obra vanguardista, a sua aposta por um leitor se não preparado pelo menos dotado de imensa curiosidade e a sua constante preocupação pela discussão teórica (emoldurada, como é de se esperar, na teoria literária).

     

  • Palavras-chave
  • Osman Lins, A Rainha dos Cárceres da Grécia, Teoria Literária, Arquivo Literário
  • Área Temática
  • “QUANDO AGORA FOI OUTRORA?”: NOVAS LEITURAS DO TEXTO OSMANIANO A PARTIR DE INCURSÕES EM ARQUIVOS
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O Núcleo de Estudos em Memória e Acervos – NEMA/UESPI promoveu o V Simpósio Nacional de Crítica Genética e Arquivologia em Teresina-PI, ocorrido nos dias 24, 25 e 26 de março de 2021, visando difundir as pesquisas sobre gênese da criação e arquivologia, além de prestar homenagem aos 10 anos do Núcleo de Estudos em Memória e Acervos – NEMA/UESPI – um dos núcleos de pesquisa em crítica genética no Brasil. Esse evento bienal reuniu pesquisadores de todo o país e é organizado dentro das diretrizes nacionais dos estudos do processo de criação na literatura; nas artes em geral, e ainda nos estudos da arquivologia. Em sua quinta edição, o V Simpósio Nacional de Crítica Genética e Arquivologia teve como sede a UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ, numa organização de Extensão e Pesquisa em Literatura do Grupo de Estudos em Memória e Acervos – NEMA, ligado à Pró-reitora de Pesquisa e Pós-graduação da UESPI. Nesse sentido, o V Simpósio Nacional em Crítica Genética e Arquivologia foi organizado em torno da perspectiva de discussão sobre o papel da crítica textual, da publicação de textos e do arquivamento destes, do processo de criação nas artes, da importância das fontes históricas e da edição crítica como produto final do estudo do manuscrito a ser publicado. Além disso, reforçou também as abordagens teóricas do conhecimento científico que ajudam a entender o processo criador e arquivístico, dentre elas: História da Literatura, Teoria da Literatura, Crítica Literária, História, Sociologia, Educação, Biblioteconomia e Arquivologia. Nesse ínterim, o formato prevê conferências, mesas-redondas, oficinas e simpósios temáticos.

Os Anais do V Simpósio Nacional de Crítica Genética e Arquivologia reúne inicialmente os resumos dos trabalhos apresentados ao longo do evento, distribuindo-se em simpósios temáticos coordenados por pesquisadores de todo o Brasil. Os simpósios temáticos abrangeram elementos específicos referentes à edição crítica e à publicação dos mais diversos textos.

Editor(a)

Márcia Edlene Mauriz Lima

 

Corpo Editorial

Lanna Caroline Almeida (UFPI)

Lueldo Teixeira Bezerra (Centro Universitário Maurício de Nassau/PI)

Raimunda Celestina Mendes da Silva (UESPI-PI/NEMA)

Aparecido José Cirillo (UFES)

Eduardo Calil (UFAL/CNPq)

Rosângela Pereira de Sousa (UESPI)

Maria do Amparo Ferro (UFPI)

Assunção de Maria Sousa e Silva (UESPI/UFPI)

Raffaella Fernandez (UFRJ/PACC)

Sergio Romanelli (UFSC)

Christiane Stallaert (Antwerpen Universiteit)

Edina Regina Pugas Panichi (UEL)

Livia Sprizão de Oliveira (UEL)

Rosa Borges dos Santos (UFBA)

Mabel Meira Mota (UFBA)

Ana Cristina Meneses de Sousa (UESPI)

Paula Guerra (Universidade do Porto)

Douglas De Sousa (UEMA)

Emanoel Cesar Pires de Assis (UEMA)

Henrique Borralho (UEMA)

Silvana Maria Pantoja dos Santos (UEMA/UESPI)

Elizabeth Hazin (UnB)

Maria Aracy Bonfim (UFMA)

Cacio José Ferreira (UFAM)

Francisco Hudson Pereira da Silva (NEMA/UESPI)

 

Diagramação

Francisco Hudson Pereira da Silva

 

Revisão

Os autores.

 

Periodicidade

Bianual

 

Núcleo de Estudos em Memória e Acervo - NEMA/UESPI

R. João Cabral - Matinha, Teresina - PI, 64002-150 - Teresina - Piauí

Telefone: (86) 3213-7441