A reprodução do lagarto Ameiva ameiva (Linnaeus, 1758) é sazonal e possivelmente relacionada ao clima e a pluviosidade, com o tamanho da ninhada relacionado com o (comprimento rostro-cloacal – CRC) das fêmeas, e podendo variar de 1 a 11 ovos. Esta espécie está amplamente distribuída no Brasil, habitando áreas de Caatinga, Amazônia, Cerrado e Mata Atlântica. Ocorre em diferentes ecossistemas podendo ser encontrada em restingas, savanas, florestas secas, florestas úmidas, várzeas e ambientes antropizados.
Os comportamentos reprodutivos dos lagartos envolvem uma série de comportamentos ritualizados. Nos Teiídeos foram observados perseguição, fricção cloacal, balanço de cabeça, morder o flanco ou a região pélvica da fêmea, padrões de postura durante a intromissão e acompanhamento pós-copulatório.
Neste estudo, fornecemos informações sobre a ecologia e reprodução do lagarto Ameiva ameiva, adicionando a descrição dos comportamentos exibidos pelos lagartos.
O estudo foi realizado na propriedade rural Sítio Fechado (7° 30'58" S, 37° 17'10" O, WSG84; 737 ms; Garmin GPSMAP 64s), uma área de Caatinga localizada no município de Brejinho, estado de Pernambuco, nordeste do Brasil. As coletas de dados para A. ameiva foram realizadas 5 dias por mês, durante 12 meses (julho de 2022 a junho de 2023), das 08h00min às 17h00min, com observações por meio de dois transectos de 500 metros e, com uso de armadilhas fotográficas que ficaram ligadas nos transectos, durante todos os dias em campo. Para cada lagarto encontrado foram anotadas informações como: data, hora do dia, sexo e comportamento. As observações ecológicas e comportamentais foram registradas em campo com auxílio de uma câmera digital (modelo Nikon D3400) e lente 55-300mm Nikon, armadilhas fotográficas (câmera trap), modelo HC900A, 20MP, 1080P, câmera de inspeção boroscópica e dados ecológicos bióticos (comprimento do animal, peso) e abióticos (umidade e temperatura do ar) foram aferidos com balança de precisão (0,01g), paquímetro de precisão (0,05mm), termohigrômetro e, trena (25m), respectivamente.
Com base nas tocas para realização de todos os comportamentos que descrevemos neste trabalho, identificamos nove comportamentos: construir toca, sair da toca, entrar para toca, encher a toca, termorregular com a ponta da cauda na toca, corte (escavar, circular ao redor da toca e circular ao redor da fêmea), cópula, territorialidade e acompanhamento pós-copulatório. As observações mostram que apenas as fêmeas de A. ameiva constroem as tocas, sendo este comportamento observado na espécie Salvator merianae no qual, as fêmeas são encarregadas na construção das tocas - “ninhos”. Já na espécie de Cuba Ameiva auberi ustulata, ambos machos e fêmeas escavam as tocas, sendo que os mesmos escavam repetidamente entrando e saindo da toca até concluir a escavação, e podem utilizar posteriormente a toca para oviposição. Neste estudo, as fêmeas também escavam continuamente entrando e saindo da toca, logo utilizam as tocas para repouso e posteriormente oviposição. Neste trabalho A. ameiva esteve ativo durante todas as horas de amostragem 8h as 17h e apresentou dois picos de atividade, o primeiro no final da manhã das 9h às 12h e o segundo das 14h às 17h, esse padrão bimodal não é relatado na atividade deste lagarto. Na literatura foram observados que a atividade de adultos e juvenis de A. ameiva corresponde das 09h às 16h, compreendendo os horários mais quentes do dia.
Os teiídeos não são considerados territorialistas e apesar de não defenderem territórios, os machos são agressivos uns com os outros e, estabelecem relações de dominância, com machos maiores usualmente sendo mais dominantes que machos menores. Este estudo identificou eventos territoriais com machos repelindo outros machos de seus territórios e afastando-os de próximo da fêmea, além de um confronto físico entre duas fêmeas. Apesar da literatura relatar que teiídeos não são territorialistas eventos territoriais foram relatados para machos da espécie Salvator merianae.
No que se diz respeito ao comportamento de corte, ele é caracterizado pelos eventos: (1) escavar a entrada da toca, (2), circular ao redor da toca e (3) circular ao redor da fêmea. Algumas observações, entretanto, mostraram que essa sequência de acontecimentos nem sempre ocorre integralmente, o macho pode cortejar a fêmea que já esteja em atividade. O comportamento de corte do lagarto A. ameiva é muito semelhante ao registrado para outra população de A. ameiva e para outros teiídeos. Os machos geralmente acompanham as fêmeas após a cópula. A guarda de companheira foi observada em A. ameiva e em outros teiídeos, como Aspidoscelis, Pholidoscelis, Kentropyx e Ameivula.
Comissão Organizadora
XXI Encontro Zoologia do Nordeste
Jesser F. Souza-Filho
Carlos Eduardo Aragão Neves Xavier
Rayanne Gleyce Oliveira dos Santos
Juliano Gomes
Carine Mendes
Geórgia Brennichi Cabral
Aurinete Oliveira Negromonte
Girlene Fábia Segundo Viana
ALINE DOS SANTOS RIOS
Comissão Científica
Jose Souto Rosa Filho
Mauro de Melo Júnior
Julianna de Lemos Santana
Bruna Teixeira
Marina de Sá Leitão C. Araújo
DAVY BARBOSA BERGAMO
Rede Social do evento
Sociedade Nordestina de Zoologia