A classe Trematoda compreende helmintos com ciclos de vida complexos que envolvem vários tipos de hospedeiros e acarretam doenças como a paragonimose, clonorquiose, equinostomose e a esquistossomose. Dos dois estágios larvais infectantes desses animais, miracídio e cercária, este último corresponde a fase em que o parasita emerge de moluscos límnicos e que, de forma ativa ou passiva, infecta seus hospedeiros intermediários ou definitivos e, no caso do ser humano, leva ao desenvolvimento de doenças. Além do papel ecológico e de saúde pública, vale ressaltar que o estudo das interações entre parasita-hospedeiro pode revelar aspectos da diversidade biológica dos ecossistemas, uma vez que a ocorrência de cercárias é indicador indireto da presença de hospedeiros desses helmintos. Considerando isso, objetivamos investigar os tipos cercarianos que parasitam moluscos de um rio do semiárido piauiense, a fim de subsidiar discussões sobre os possíveis hospedeiros envolvidos no ciclo desse grupo. A coleta dos moluscos associados à macrófitas e ao sedimento ocorreu no período de seca da região (setembro/outubro de 2022), em três pontos estabelecidos no Rio Itaueira (próximo à nascente, à porção média e foz). Esse corpo d’água é um dos afluentes do Rio Parnaíba e está localizado na porção sudoeste do Estado do Piauí. Para avaliação quanto a infecção por trematódeos, os caramujos foram inspecionados três vezes na semana, durante 30 dias e as cercárias fixadas em lâminas semipermanentes para registro fotográfico. Foram amostrados 475 moluscos distribuídos em sete espécies de Gastropoda e três Bivalvia. Somente indivíduos de Biomphalaria straminea Dunker, 1848 (n = 3) e Melanoides tuberculata Müller, 1774 (n = 2) estiveram parasitados. A primeira espécie liberou cercárias dos tipos Estrigeocercária e Equinostoma, enquanto M. tuberculata, Pleurolofocerca. As larvas do tipo Estrigeocercária representam parasitas intestinais de aves e mamíferos e podem pertencer as famílias Diplostomidae e Strigeidae. O morfotipo Equinostoma ocorre para espécies das famílias Echinostomatidae e Psilostomidae. Esse tipo cercariano encista ao ser liberado pelos caramujos, aderindo a outros moluscos, peixes ou anfíbios. No continente asiático há registros de equinostomíase em humanos causada por esse tipo cercariano. As larvas do tipo Pleurolofocerca podem pertencer às famílias Cryptogonimidae, parasitos de peixes; além de Heterophyidae e Opisthorchiidae, parasitos de aves e mamíferos. Os resultados obtidos neste estudo revelam que o Rio Itaueira possui uma notável diversidade de moluscos límnicos, não esperada para rios do semiárido. Além disso, foram identificados tipos cercarianos que estão envolvidos em interações com diferentes grupos animais, chamando a atenção para uma diversidade ainda não catalogada. É importante destacar a presença das cercárias do tipo Equinostoma e Pleurolofocerca, pois há relatos de danos à saúde humana causados por esses parasitos. Esses achados podem fornecer insights valiosos para estudos de biogeografia e relações parasito-hospedeiro no futuro.
Comissão Organizadora
XXI Encontro Zoologia do Nordeste
Jesser F. Souza-Filho
Carlos Eduardo Aragão Neves Xavier
Rayanne Gleyce Oliveira dos Santos
Juliano Gomes
Carine Mendes
Geórgia Brennichi Cabral
Aurinete Oliveira Negromonte
Girlene Fábia Segundo Viana
ALINE DOS SANTOS RIOS
Comissão Científica
Jose Souto Rosa Filho
Mauro de Melo Júnior
Julianna de Lemos Santana
Bruna Teixeira
Marina de Sá Leitão C. Araújo
DAVY BARBOSA BERGAMO
Rede Social do evento
Sociedade Nordestina de Zoologia