A vegetação ripária é de elevada importância para a manutenção da integridade biológica de riachos, por seus efeitos sobre a produtividade primária, temperatura e fornecimento de material alóctone para dentro do canal, principalmente em períodos chuvosos. Estes recursos servem como alimento, sítio reprodutivo e refúgio para diversas espécies. A degradação das matas ripárias altera as relações tróficas entre os organismos, além de afetar a estrutura e a composição da ictioafuna. A perda da integridade da mata ripária poderá resultar no aumento da riqueza e da representatividade de algumas espécies, especialmente aquelas capazes de explorar novas oportunidades que são criadas, em detrimento da redução das populações ou desaparecimento de espécies de hábitos mais especializados. No presente estudo são apresentadas informações a respeito da influência da vegetação ripária e do regime de chuvas na ecologia trófica das cinco espécies de peixe de pequeno porte mais abundantes e frequentes em um riacho de Mata Atlântica no estado de Sergipe. Para tal, os peixes de dois trechos do riacho Tabocas (SE), um florestado e outro desflorestado, foram amostrados bimestralmente de março/2018 a janeiro/2019 e submetidos à análise de dieta. Foram analisados 682 estômagos das espécies nativas Hyphessobrycon parvellus, Compsura heterura e Psalidodon fasciatus, e das espécies não-nativas Poecilia reticulata e Hyphessobrycon eques. O material alóctone no período chuvoso foi responsável pela maior parte do alimento consumido pelos peixes no ponto florestado (77%), enquanto no ponto desflorestado foram itens de origem autóctone (92%). Já no período seco a proporção de itens autóctones foi maior em relação aos alóctones nos pontos florestado (67%) e desflorestado (84%). O consumo dos itens de origem autóctone representou a maior proporção volumétrica, tanto em relação aos períodos quanto no que diz respeito aos pontos, com exceção de P. fasciatus, que se alimentou preferencialmente de itens alóctones no ponto florestado e no período chuvoso. O fato de P. fasciatus ser pelágico, apresentar maior porte que as demais espécies, formar cardumes e capturar presas preferencialmente na superfície, pode ter resultado na segregação espacial em relação às demais espécies de menor porte, ficando a elas a ocupação da porção média e inferior da coluna d’água, com alimentação de itens autóctones, com destaque para as algas. A presença de espécies não nativas estabelecidas como P. reticulata e H. eques pode exercer pressões para as espécies nativas, competindo por espaço e por sítios reprodutivos. O predomínio de itens autóctones no ponto desflorestado do presente estudo se deu, provavelmente, devido à degradação da mata ripária, havendo assim um menor carreamento de nutrientes provenientes do ambiente terrestre e uma maior dependência dos recursos autóctones para manutenção da taxocenose local. A homogeneização e simplificação do ambiente afeta diretamente as populações e comunidades de peixes, favorecendo a presença de espécies invasoras como P. reticulata e H. eques, abundantes no ponto desflorestado do presente estudo. Além disso, o ambiente homogeneizado oferece uma menor riqueza de recursos, o que pode favorecer um aumento na competição, em que espécies menos adaptadas podem desaparecer ao longo do tempo.
Comissão Organizadora
XXI Encontro Zoologia do Nordeste
Jesser F. Souza-Filho
Carlos Eduardo Aragão Neves Xavier
Rayanne Gleyce Oliveira dos Santos
Juliano Gomes
Carine Mendes
Geórgia Brennichi Cabral
Aurinete Oliveira Negromonte
Girlene Fábia Segundo Viana
ALINE DOS SANTOS RIOS
Comissão Científica
Jose Souto Rosa Filho
Mauro de Melo Júnior
Julianna de Lemos Santana
Bruna Teixeira
Marina de Sá Leitão C. Araújo
DAVY BARBOSA BERGAMO
Rede Social do evento
Sociedade Nordestina de Zoologia