A urbanização em áreas litorânea normalmente gera modificação e degradação de habitats naturais costeiros, aumentando a necessidade de construção de estruturas artificiais como estratégia para minimizar os impactos e proteger a linha da costa. A interface marinho-continental oferece habitats para uma ampla variedade faunística, como por exemplo os poliquetas, que possuem adaptações únicas para viverem nessas áreas. O objetivo deste trabalho foi caracterizar a comunidade de poliquetas em uma praia severamente impactada pela presença de obras de defesa costeira no litoral de Pernambuco. Foram realizadas coletas de sedimento na praia no Janga, no município de Paulista, com auxílio de amostrador cilíndrico de PVC. As amostras foram peneiradas em tela de nylon, lavadas em laboratório e os poliquetas triados em nível de família. As amostragens ocorreram em março de 2022 em quatro transectos situados em duas diferentes áreas: a primeira (A1), constitui uma área em que houve grande deposição de sedimento decorrente da presença de um quebra-mar paralelo a linha da costa, fechando um lado da praia onde foram estabelecidos dois transectos (T1 e T2); a segunda (A2) constitui uma área com grande deposição de sedimento, mas sem a formação do istmo, mantendo a praia com ambos os lados abertos. Nesta área foram situados um primeiro transecto (T3) na face de praia e um segundo (T4) em área rasa adjacente à abertura do quebra-mar. A variabilidade entre transectos foi avaliada por meio dos índices univariados e as dissimilaridades foram comparadas através da PERMANOVA, com comparações entre pares de amostras, realizadas a posteriori por permutações, quando necessário. O nível de significância adotado foi de 5%. Para a análise do hábito alimentar, cada táxon foi classificado como detritívoro, filtrador, herbívoro e carnívoro. A comunidade de poliquetas foi representada por 314 organismos, distribuídos em 13 famílias e 7 táxons. A maior abundância e riqueza de poliquetas foi encontrada no T4. Com relação aos índices univariados, T3 e T4 apresentaram valores mais elevados para riqueza (S) e diversidade (H’), quando comparados aos outros transectos. A equitabilidade (J’) não apresentou um padrão claro de variação. Na ordenação MDS foi possível verificar uma separação entre os grupos quanto às áreas, formando dois agrupamentos A1 (T1 e T2) e A2 (T3 e T4). Essa dissimilaridade foi comprovada pela PERMANOVA (Pseudo-F = 6.9673; p = 0,0001). Quando separados em grupos tróficos, A1 foi majoritariamente dominada por detritívoros oportunistas das famílias Spionidae e Capitellidae, evidenciando que essa região sofre mais com o impacto da presença da obra de defesa. Já A2 foi dominada por detritívoros da família Opheliidae e Magelonidae, poliquetas que possuem padrão de alimentação mais flexível. Através dos nossos resultados, podemos inferir que a presença de obras de defesa costeira e consequente alteração no sedimento das áreas são fatores determinantes para a estruturação da comunidade de poliquetas.
Comissão Organizadora
XXI Encontro Zoologia do Nordeste
Jesser F. Souza-Filho
Carlos Eduardo Aragão Neves Xavier
Rayanne Gleyce Oliveira dos Santos
Juliano Gomes
Carine Mendes
Geórgia Brennichi Cabral
Aurinete Oliveira Negromonte
Girlene Fábia Segundo Viana
ALINE DOS SANTOS RIOS
Comissão Científica
Jose Souto Rosa Filho
Mauro de Melo Júnior
Julianna de Lemos Santana
Bruna Teixeira
Marina de Sá Leitão C. Araújo
DAVY BARBOSA BERGAMO
Rede Social do evento
Sociedade Nordestina de Zoologia