Introdução: É sabido que o ferro é essencial para a homeostase do nosso organismo, mas em excesso pode ser prejudicial. Intoxicações agudas por ferro podem ocorrer de forma acidental (ex.: ingestão por crianças) mas também intencional (ex.: tentativa de suicídio) e iatrogênica (sobredose oral ou parenteral). Embora os efeitos tóxicos sobre o coração estejam bem definidos, ainda não temos informações sobre os efeitos agudos na vasculatura. Objetivo: Avaliar se a exposição “in vitro” de altas concentrações de Fe2+ é capaz de provocar alterações morfológicas e funcionais no endotélio de aortas de ratos. Métodos: Anéis de aorta de ratos Wistar machos (CCS-UFES-34/2018), foram utilizados para construção de curvas de vasoconstrição concentração-resposta à fenilefrina após incubação de solução padrão ou contendo sulfato ferroso (10, 25, 100, 250, e 1000 µM) por 30 minutos. Nas concentrações Fe2+ 100 e 1000 µM, foram avaliadas as respostas vasodilatadoras dependente e independente do endotélio (acetilcolina e nitroprussiato de sódio, respectivamente), assim como a reatividade vasoconstrictora na ausência do endotélio (E-); para avaliar o potencial mecanismo envolvido, foram utilizados inibidor da sintase de óxido nítrico; “varredor” de OH• e inativadora do H2O2 (L-NAME, DMSO e catalase, respectivamente). Além disso, foi realizada a análise da biodisponibilidade de óxido nítrico (NO) pela fluorescência ao DAF, e feita análise da morfologia e mapeamento elementar do endotélio por microscopia eletrônica de varredura (MEV) e espectroscopia por energia dispersiva (EDS). Diferenças com P<0,05 foram consideradas significantes. Resultados: A incubação com Fe2+ aumentou a reatividade vascular, sendo mais expressivos a partir de 100 µM. Somente a vasodilatação à acetilcolina foi prejudicada pelo Fe2+. O aumento da reatividade provocado pela retirada do endotélio ou pela incubação com L-NAME tiveram menor magnitude nas aortas incubadas com Fe2+ sugerindo redução do papel do óxido nítrico liberado pelo endotélio. De fato, a análise da fluorescência com DAF indicou menor biodisponibilidade de NO nos grupos Fe2+. Além disso, a hiper-reatividade vascular induzida pelo Fe2+ foi prevenida pela co-incubação com catalase e DMSO. A análise de MEV/EDS demonstrou alterações morfológicas na superfície endotelial e deposição de ferro nas amostras incubadas com metal. Conclusão: A incubação “in vitro” com Fe2+ causou danos ao endotélio de forma concentração-dependente com prejuízo na modulação do tônus. O mecanismo provável inclui espécies reativas derivadas do oxigênio em associação à redução da biodisponibilidade de NO liberado pelo endotélio.
Comissão Organizadora
Gustavo Carvalho
Luiza Malacco
Eliana Hiromi Akamine
Profª Drª Luciana Venturini Rossoni
Ana Paula Couto Davel
José Wilson do Nascimento Corrêa
GIULIA ALESSANDRA WIGGERS
Alice Valença Araújo
Comissão Científica