Introdução: A interação entre os sistemas nervoso e imunológico demonstrou estar relacionada aos efeitos negativos do estresse na vasculatura, por mecanismos ainda desconhecidos. Sabe-se que estresse crônico leva ao aumento da produção de espécies reativas de oxigênio (EROs), causando dano vascular. O aumento de EROs ocasiona a liberação de DNA mitocondrial (mtDNA) no citosol, e mtDNA promove a ativação de inflamassomas que tem papel no estabelecimento da disfunção endotelial. Assim, a hipótese do presente estudo é de que durante o estresse crônico, o estresse oxidativo causa liberação de mtDNA no citosol, através do aumento na expressão vascular de gasdermina D (GSDMD) e VDAC, ativando inflamassomas e levando à disfunção endotelial e, consequentemente, à hipertensão. Métodos: Protocolo aprovado pelo comitê institucional de cuidados e uso de animais da Universidade da Carolina do Sul (IACUC #2571-101654-102521). Camundongos C57BL/6 machos e fêmeas (8-10 semanas; 20-25g) foram submetidos ao protocolo de estresse crônico imprevisível por 28 dias através da exposição a diferentes estressores. O grupo controle (CTL) foi composto por camundongos machos e fêmeas que não foram expostos ao ECI. Ao final do protocolo a pressão arterial sistólica (PAS) foi aferida através de pletismografia de cauda. Após eutanásia, artérias mesentéricas de resistência (AMRs) e aorta foram coletadas para estudos da função vascular em miógrafo. Curvas concentração-resposta para fenilefrina (PE; 1nM-30µM) e acetilcolina (ACh; 1nM-30µM) foram realizadas. A expressão de GSDMD foi quantificada em AMRs por western blot. O tecido cardíaco foi removido para avaliação da expressão gênica do inflamassoma NLRP3, e das interleucinas IL-1b e IL-18 pela técnica de PCR. As curvas concentração-resposta foram analisadas utilizando análise de regressão não linear. A análise de variância ANOVA one-way ou teste t de Student foram utilizados para determinar a significância estatística (p<0,05). Os dados foram analisados através do GraphPad Prism e apresentados como média ± erro padrão da média (EPM). Resultados: Em camundongos submetidos ao ECI, a PAS (mmHg) encontrou-se elevada em machos (ECI 123±4 vs. CTL 103±3) e fêmeas (ECI 138±5 vs. CTL 111±6), quando comparado ao grupo CTL. Observou-se um aumento da resposta contráctil à PE em AMRs de machos ECI, com um aumento da resposta máxima (mN; EMAX ECI 9±1 vs. CTL 6±2), o que não foi observado em fêmeas. Houve uma redução do relaxamento em AMRs de machos e fêmeas submetidos ao ECI, com redução da potência à ACh em machos (pEC50 ECI 7±0,5 vs. CTL 6±0,6) e em fêmeas (pEC50 ECI 7±0,3 vs. CTL 6±0,5). A aorta de machos ECI apresentou uma redução da resposta contráctil à PE e da resposta máxima (mN; EMAX ECI 3±0,2 vs. CTL 5±0,5), o que não foi observado em fêmeas. A expressão tecidual de GSDMD encontrou-se elevada em AMRs de machos e fêmeas submetidos ao ECI. Ademais, o tecido cardíaco de camundongos expostos ao ECI apresentou aumento da expressão gênica do inflamassoma NLRP3 e das interleucinas IL-1b e IL-18. Conclusão: Em ambos os sexos, o ECI induziu disfunção vascular observada por reatividade prejudicada à ACh e PE, de maneira dependente do sexo, culminando no aumento da pressão arterial. A expressão aumentada de GSDMD sugere a liberação de mtDNA como possível mecanismo. No tecido cardíaco, o aumento da expressão gênica de NLRP3 evidencia o papel desse inflamassoma no estabelecimento da hipertensão frente ao estresse crônico.
Comissão Organizadora
Gustavo Carvalho
Luiza Malacco
Eliana Hiromi Akamine
Profª Drª Luciana Venturini Rossoni
Ana Paula Couto Davel
José Wilson do Nascimento Corrêa
GIULIA ALESSANDRA WIGGERS
Alice Valença Araújo
Comissão Científica