A sepse é uma disfunção orgânica causada por uma resposta desregulada do hospedeiro a uma infecção. O choque séptico é um agravamento caracterizado por hipotensão severa e refratária a vasoconstritores, o que está atrelado a uma alta taxa de mortalidade. O modelo experimental de ligadura e perfuração cecal (CLP) é amplamente utilizado no estudo da sepse. Porém, a alta invasividade e variabilidade são limitações do modelo. Uma alternativa menos invasiva é a injeção intraperitoneal de uma suspensão de conteúdo cecal (CS, do inglês cecal slurry). Entretanto, esse modelo experimental ainda é pouco descrito na literatura, limitando a sua aplicação em estudos que buscam terapias para a sepse com foco no sistema cardiovascular. Neste estudo, o objetivo foi padronizar o modelo CS em ratos Wistar e avaliar sua capacidade de reproduzir a disfunção cardiovascular observada na sepse, comparado ao modelo CLP. Foram utilizados ratos machos (90 dias; 300-400g; CEUA UFSC: 9785211221). Os animais foram submetidos à sepse por CLP (sob anestesia inalatória com isoflurano 3%) ou CS (1 g/kg i.p. de conteúdo cecal de ratos doadores, sem anestesia), e avaliados após 24 horas. Animais NAIVE (sem intervenção) foram utilizados como controles. A pressão arterial média basal foi mensurada por uma cânula acoplada a um transdutor (Powerlab 8/30) na carótida dos animais anestesiados (cetamina 90 mg/kg i.p.; xilazina 10 mg/kg i.p.). A magnitude e duração da resposta pressórica foi avaliada após administração intravenosa de vasoconstritores em doses crescentes e não cumulativas. Além disso, a reatividade vascular foi avaliada em anel de aorta isolado, sem tecido perivascular e com endotélio. Foi observado hipotensão nos grupos CLP (75,92 ± 7,15mmHg) e CS (64,08 ± 11,9 mmHg) em comparação à NAIVE (101,1 ± 13,7 mmHg) (n = 10-11; ANOVA; p<0,05), além da diminuição da resposta pressórica a fenilefrina (AUC: NAIVE: 54,29 ± 5,48 ua; CLP: 39,14 ± 6,75 ua; CS: 35,83 ± 5,54 ua) e angiotensina II (AUC: NAIVE: 44,89 ± 5,63 ua; CLP: 20,19 ± 5,04 ua; CS: 16,74 ± 3,61 ua) (n = 9-11; ANOVA; p<0,05). Houve diminuição significativa da resposta contrátil à fenilefrina em vaso isolado nos grupos CLP (Emáx 0,95 ± 0,19 g) e CS (Emáx 1,1 ± 0,18 g) em comparação a NAIVE (Emáx 1,5 ± 0,19 g) (n = 8; ANOVA; p<0,05). Tais alterações cardiovasculares já foram amplamente descritas no modelo CLP. Entretanto, são parcialmente relatadas no modelo CS. Portanto, os resultados indicam que o modelo CS reproduziu a disfunção hemodinâmica e hiporreatividade vascular induzida pela sepse de forma consistente. Esse estudo representa um avanço para o refinamento dos modelos experimentais de sepse, pois fornece uma alternativa menos invasiva e que oferece vantagem na padronização e aplicação em comparação ao modelo CLP.
Comissão Organizadora
Gustavo Carvalho
Luiza Malacco
Eliana Hiromi Akamine
Profª Drª Luciana Venturini Rossoni
Ana Paula Couto Davel
José Wilson do Nascimento Corrêa
GIULIA ALESSANDRA WIGGERS
Alice Valença Araújo
Comissão Científica