A crescente exposição ocupacional e ambiental ao cádmio (Cd), um metal tóxico não-essencial ao organismo, por sua alta meia-vida e grande capacidade de bioacumulação provoca danos em órgãos e tecidos. No sistema cardiovascular a intoxicação por Cd está relacionada a incidência de acidente vascular encefálico, insuficiência cardíaca, aterosclerose e hipertensão. Estratégias terapêuticas dietéticas podem atuar na prevenção dos efeitos nocivos do Cd, neste sentido um hidrolisado da clara do ovo (HCO) com ação antioxidante, antiinflamatória e antihipertensiva demonstrou ser efetivo na redução dos danos cardiovasculares provocados pelo Cd no tratamento concomitante ao dano induzido. No entanto, a ação protetiva deste HCO nos danos induzidos pelo Cd não foram elucidadas. Assim, avaliamos se o pré-tratamento com HCO protege o sistema cardiovascular, especialmente as artérias de resistência mesentéricas (ARM), dos danos promovidos pela exposição a altos níveis de Cd similar a exposição em acidentes ambientais. Para isso, ratos machos Wistar (± 250g, 12 semanas - CEUA/UNIPAMPA-012/2019) foram divididos em: 1) CT (água da torneira por gavagem + água destilada i.p. por 28 dias); 2) Cd (água da torneira por 28 dias + CdCl2 1 mg/kg i.p. nos últimos 14 dias); 3) HCO (1 mg/kg/dia por gavagem + água destilada i.p. por 28 dias); 4) HCOCd (HCO nos primeiros 14 dias e CdCl2 i.p. + HCO nos últimos 14 dias). A pressão arterial sistólica (PAS) foi mensurada de forma não-invasiva por pletismografia caudal. A medida de Cd foi realizada por espectrometria de massa em sangue e a ARM foi dissecada e seccionada em segmentos de 2mm, montada em miógrafo de arame para ensaios de reatividade vascular. Para esta análise, as ARM foram submetidas a curvas concentração-resposta à acetilcolina (ACh) para verificação da integridade do endotélio, e norepinefrina (NE) para avaliação na resposta contrátil vascular e das vias vasculares envolvidas. Ademais a integridade do músculo liso vascular foi investigada por meio da curva de relaxamento ao nitroprussiato de sódio (NPS). Foram analisados parâmetros bioquímicos de estresse oxidativo e de imunofluorescência vascular. Os resultados estão expressos em média ± EPM com análise de ANOVA 2 vias seguida de post-hoc de Bonferroni (*p < 0,05 vs CT e # vs Cd). O pré-tratamento com o HCO: a) reduziu significativamente o conteúdo de Cd no sangue; b) preveniu o aumento da PAS (CT: 120.3±3.5, Cd: 147.8±3.9*, HCO: 124.7±4.9, HCOCd: 125.6±6.3#); b) reduziu o aumento da resposta contrátil à NE; c) restaurou a resposta vasodilatadora à ACh; d) promoveu melhora da biodisponibilidade de óxido nítrico; e) restaurou a resposta contrátil via redução da ação da NADPH oxidase e da subunidade NOX-1 e proteção antiinflamatória vascular (COX-2 / NS398); f) reduziu as espécies reativas de oxigênio e peroxidação lipídica vascular (ROS (FU) - CT: 179.4±2.1, Cd: 364.7±42.5*, HCO: 177.9±27.1, HCOCd: 241.9±27.6#; TBARS (nMol MDA/mg tecido) – CT: 1069±20.7, Cd: 3157±490.3*, HCO: 1384±54.9, HCOCd: 1201±86.5#) e plasmática; h) reduziu a intensidade de fluorescência de NOX-1, COX-2, TNF?, NFkB e Caspase-3. O HCO protege o sistema cardiovascular dos danos causados pela exposição a altos níveis de Cd em ratos e este alimento funcional é um promissor antiinflamatório, antioxidante e antiapoptótico vascular o que pode ser uma alternativa dietética a intoxicação por este metal.
Comissão Organizadora
Gustavo Carvalho
Luiza Malacco
Eliana Hiromi Akamine
Profª Drª Luciana Venturini Rossoni
Ana Paula Couto Davel
José Wilson do Nascimento Corrêa
GIULIA ALESSANDRA WIGGERS
Alice Valença Araújo
Comissão Científica