A progesterona (P4) parece exercer um papel no sistema cardiovascular. Contudo, ainda faltam esclarecimentos a respeito de sua ação sobre o leito coronariano em modelo de hipertensão. Assim, este estudo busca investigar a ação aguda da P4 no leito coronariano de ratos espontaneamente hipertensos (SHR) de ambos os sexos e os possíveis mediadores endoteliais envolvidos nesta ação. Nossa hipótese é que a P4 exerça uma ação vasodilatadora no leito coronariano de SHR de ambos os sexos e que essa ação envolva diferentes mediadores. Para tanto, foram utilizamos SHR de ambos os sexos, com 12 semanas de idade (150 - 250 gramas), em protocolos previamente aprovados pela CEUA-UFES (#24/2021). Os dados foram expressos como média ± erro padrão da média (EPM). A normalidade foi confirmada pelo teste Shapiro–Wilk e os dados foram analisados por meio de teste t não pareado, análise de variância de uma via ou duas vias, seguido pelo teste post hoc de Tukey ou Sidak, quando apropriado. Foram considerados significativos valores com p < 0,05. O ciclo estral das fêmeas foi monitorado por análise citológica do fluido vaginal. A pressão arterial foi mensurada por pletismografia de cauda e, após a confirmação da hipertensão, os protocolos experimentais de reatividade vascular do leito coronariano foram conduzidos pelo método de Langendorff modificado. A pressão de perfusão coronariana (PPC) basal foi determinada e a ação da P4 foi avaliada por meio de curva dose resposta (0,1 – 50 ?M, in bolus), administrada antes e após a perfusão com indometacina (INDO, 2,8 ?M), N?-nitro-L-arginine methyl ester (L-NAME, 100 ?M), clotrimazol (CLOT, 0,75 ?M), de forma individual ou simultânea, e mifepristona (MIFE, 1 ?M). A PPC basal foi maior em fêmeas do que em machos (fêmeas (F) 124 ± 3,6 mmHg, n = 60; machos (M) 87,5 ± 3,4 mmHg, n = 38) e a P4 foi capaz de promover vasodilatação similar em ambos os sexos (F 22,5 ± 2,6 mmHg, n = 9; M 19,2 ± 2,9 mmHg, n = 8). Nas fêmeas a vasodilatação induzida pela P4 foi similar em todas as fases do ciclo estral (proestro 19,7 ± 4,4 %, n = 6; estro 17,0 ± 4,5 %, n = 5; metaestro 20,4 ± 3,2 %, n = 6; diestro 22,3 ± 3,2 %, n = 5). Após a inibição com INDO nenhuma diferença foi observada. Após inibição com L-NAME foi observado um efeito potencializado do relaxamento induzido pela P4 apenas em machos (M 19,5 ± 1,8 % vs. 29,4 ± 2,8 %, n = 8). Já na inibição simultânea com INDO e L-NAME foi observada diminuição na resposta vasodilatadora em fêmeas (F 19,1 ± 3,4 % vs. 13,6 ± 2,1 %, n = 7) e um relaxamento novamente potencializado em machos (M 19,8 ± 3,1 % vs. 33,9 ± 3,6 %, n = 7). Após a inibição com CLOT foi observada uma redução no relaxamento em fêmeas (F 29,5 ± 4,5 % vs. 18,2 ± 2,1 %, n = 5) e, após a inibição simultânea com INDO, L-NAME e CLOT, as fêmeas tiveram novamente uma redução na resposta (F 23,4 ± 5,2 % vs. 12,5 ± 2,4 %, n = 5), enquanto os machos tiveram a resposta novamente potencializada como na inibição apenas com L-NAME (M 13,9 ± 3,7 % vs. 22,7 ± 2,1 %, n = 6). Após a inibição com MIFE apenas as fêmeas tiveram uma redução na resposta (F 21,8 ± 4,8 % vs. 8,2 ± 0,8 %, n = 2). Os resultados sugerem que a P4 é capaz de modular a reatividade vascular coronariana por meio de uma ação vasodilatadora sexo-específica mediada por diferentes vias endoteliais. Esses resultados podem contribuir para um melhor entendimento das ações da P4 no leito coronariano em condição de hipertensão.
Comissão Organizadora
Gustavo Carvalho
Luiza Malacco
Eliana Hiromi Akamine
Profª Drª Luciana Venturini Rossoni
Ana Paula Couto Davel
José Wilson do Nascimento Corrêa
GIULIA ALESSANDRA WIGGERS
Alice Valença Araújo
Comissão Científica