INTRODUÇÃO: Tanto o consumo excessivo de etanol quanto a alteração da microbiota intestinal são fatores de risco para doenças cardiovasculares (DCV). Considerando que a disbiose intestinal induzida pelo etanol pode estar relacionada ao desenvolvimento de DCV, o objetivo do estudo é avaliar se a disbiose intestinal, bem como alteração de metabólitos derivados da microbiota, contribuem para disfunção vascular induzida pelo etanol. MÉTODOS: Camundongos machos C57Bl6 (6-7 sem., 20-25 g) foram divididos em 2 grupos:1) Controle (C): receberam água e ração ad libitum; 2) Etanol (E): receberam solução de etanol 10% e ração ad libitum por 10 dias, e uma dose em binge no 11° dia (5 g/kg). O grupo E passou por período de adaptação de 1 semana com etanol 5%. Após 2 ou 9 h, amostras foram coletadas para as análises. A análise estatística envolveu teste t ou ANOVA one-way (p<0,05) (CEUA: nº1007/2021). RESULTADOS: Os níveis de etanol no sangue dos animais do grupo E foram de 298,4±17,2 mg/dL (n=8). O etanol induziu disbiose intestinal, caracterizada por alteração da composição da microbiota e redução da riqueza e diversidade; aumento da permeabilidade intestinal, caracterizado pelo aumento de níveis sanguíneos de FITC-dextran [µg/mL, C: 0,9±0,1; E: 1,6±0,2 (n=9-10)]; redução da expressão gênica de ocludina [C: 1±0,2; E: 0,4±0,2 (n=4-6)] no cólon; aumento dos níveis séricos de LPS [EU/mL, C: 0,02±0,003; E: 0,1±0,03 (n=7-9)] e TNF? no cólon [pg/mg prot., C: 7,4±0,7; E: 14,6±2,8 (n=6-7)]. Em fezes do cólon, houve redução de ácidos graxos de cadeia curta (AGCC) totais [área total, C: 446037±42872; E: 207310±42358 (n=7)] e aumento da % de propionato [C: 15,9±0,4; E: 22,7±3,4 (n=6-8)]. Animais do grupo E também apresentaram aumento de células Th17 e Treg em linfonodo cecal; níveis plasmáticos elevados (pg/mL) de IL-1? [C: 15,4±1,8; E: 69,7±17 (n=9-10)], IL-6 [C: 19,8±0,3; E:2 6,2±2,7(10)] e IL-22 [C: 5,2±0,6; E: 19,2±4,6 (n=4-5)]. No PVAT da aorta abdominal (AA) houve aumento de IL-17a [C: 1478±212,5; E: 3452±616,3 (n=4)]; infiltração de macrófagos M1; aumento da expressão gênica de 16S [C: 1±1,3; E: 3,9±1,5 (n= 5-6)], indicando translocação de bactérias para o PVAT; e estresse oxidativo, avaliado por DHE e representado pelo aumento de ROS. Essas alterações foram acompanhadas por redução da contração induzida por fenilefrina em AA sem PVAT [PVAT(-): Emáx, C: 4,9±0,2; E: 2,4±0,2 (n=6-9)]. Não foi observado efeito anti-contrátil do PVAT em animais do grupo C; porém, observamos efeito pró-contrátil no grupo E [PVAT(+): Emáx, C: 5,8±0,1; E: 5,2±0,2 (n=9-10)]. Não observamos alteração de NO em AA, mas sim aumento de níveis plasmáticos de NO [µM, C: 98,7±9,9; E: 152,0±12,0 (n=7-8)] e redução no PVAT [µM/mg prot., C: 15,4±2,9; E: 7,5±1,5 (n=5-6)]. Apesar das alterações de função vascular, não observamos alterações na pressão arterial sistólica ou, em análise de H&E, alterações estruturais. Houve redução de colágeno, determinado por coloração de picrosirius (%, C: 12,3±2,3; E: 5,7±0,7 (n=4)]. CONCLUSÃO: O consumo crônico de etanol associado a uma dose em binge induz disbiose intestinal, alteração de metabólitos derivados de bactérias, aumento da permeabilidade intestinal e translocação de bactérias do intestino para a circulação, bem como ativação do sistema imune, processo inflamatório, estresse oxidativo, impactando negativamente a função do PVAT e levando à disfunção vascular. O papel da microbiota e fMLP/FPR-1 serão investigados. Apoio financeiro: FAPESP.
Comissão Organizadora
Gustavo Carvalho
Luiza Malacco
Eliana Hiromi Akamine
Profª Drª Luciana Venturini Rossoni
Ana Paula Couto Davel
José Wilson do Nascimento Corrêa
GIULIA ALESSANDRA WIGGERS
Alice Valença Araújo
Comissão Científica