Introdução: A obesidade é uma condição fisiopatológica crônica que resulta em maior propensão ao desenvolvimento de doenças cardiovasculares. O tecido adiposo perivascular (PVAT) regula o tônus vascular em condições fisiológicas. Entretanto, na obesidade ocorrem mudanças funcionais neste tecido que resultam em estresse oxidativo, favorecendo a liberação de substâncias vasoconstritoras. A produção de espécies reativas de oxigênio (ERO) na vasculatura é mediada por diferentes estímulos, incluindo a endotelina-1 (ET-1), peptídeo que promove um balanço entre respostas vasoconstritoras e vasodilatadores. Entre as vias de sinalização intracelular capazes de neutralizar as ERO, o fator transcricional nuclear E2 relacionado ao fator 2 (NRF2) promove a transcrição de genes antioxidantes. Hipótese: Na obesidade há aumento da produção de ET-1 no PVAT, e que tal aumento regula negativamente NRF2, aumentando a geração de ERO e promovendo disfunção deste tecido. Métodos: Procedimentos aprovados pela CEUA-FMRP/USP (#1070/2022). Foram utilizados camundongos machos C57BL/6 de aproximadamente 25 gramas. Estes receberam dieta controle ou hiperlipídica para o desenvolvimento da obesidade, durante 18 semanas. Cada grupo recebeu veículo (salina) ou antagonista de receptor ETA e ETB (bosentan, 100mg/kg/dia por 7 dias). A função vascular foi avaliada em anéis de aorta torácica, em presença ou ausência de PVAT, obtendo-se curvas concentração-efeito para fenilefrina e acetilcolina. O PVAT de todos os grupos e adipócitos marrons de linhagem WT-1 em cultura foram utilizados para estudo de mecanismos. Resultados: No PVAT de camundongos obesos houve maior produção de ET-1 (pg/mL – Eutrófico: 1,16±0,06 n=5; Obeso: 1,65±0,05 n=5) e expressão dos genes ECE1 (2-??Ct – Eutrófico: 1,20±0,04 n=5; Obeso: 1,51±0,04 n=5) e ETA (Eutrófico: 0,89±0,07 n=5; Obeso: 1,26±0,05 n=5) em relação aos camundongos eutróficos. Os valores são expressos em relação à contração desencadeada por 120mM de KCl [Emáx (%KCl)]. Em camundongos eutróficos, o PVAT diminuiu a resposta contrátil em anéis de aorta [PVAT(-): 86,1±2,1 n=6; PVAT(+): 46,3±2,1 n=6]. Em camundongos obesos houve perda do efeito anticontrátil do PVAT [PVAT(-): 99,1±3,9 n=6; PVAT(+): 89,1±4,3 n=6). A presença do PVAT não alterou a vasodilatação em resposta à acetilcolina em camundongos eutróficos [valores são expressos em relação à contração desencadeada por 2µM de fenilefrina (Emax % Relaxamento) – PVAT(-): 89,9±2,2 n=6; PVAT(+): 93,6±2,0 n=6]. No entanto, a presença do PVAT promoveu redução na vasodilatação em camundongos obesos (Emax % Relaxamento – PVAT(-): 80,1±2,1 n=6; PVAT(+): 67,5±1,8 n=6]. Camundongos obesos tratados com bosentan, o efeito anticontrátil do PVAT foi restaurado [PVAT(+): 86,9±3,7 n=6; PVAT(+)_bosentan: 54,1±2,1 n=6]. Além disso, nestes camundongos, a vasodilatação em resposta à acetilcolina foi parcialmente preservada [PVAT(+): 65,7±1,6 n=6; PVAT(+)_bosentan: 80,5±1,9 n=6]. Adipócitos marrons tratados com ET-1 (0,1µM) mostraram aumento na geração ERO (intensidade de fluorescência da DHE – Basal: 99,9±1,9 n=7; ET-1: 145,1±5,9 n=7) e redução na translocação de NRF2 (% controle – Basal: 100±0,1 n=5; ET-1: 84,3±1,3 n=5) após 1 hora de estímulo. Conclusão: ET-1 está relacionada à disfunção do PVAT na obesidade, através do aumento da geração de ERO e provável diminuição da ação antioxidante de NRF2. Apoio financeiro: Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP).
Comissão Organizadora
Gustavo Carvalho
Luiza Malacco
Eliana Hiromi Akamine
Profª Drª Luciana Venturini Rossoni
Ana Paula Couto Davel
José Wilson do Nascimento Corrêa
GIULIA ALESSANDRA WIGGERS
Alice Valença Araújo
Comissão Científica