A hipertensão arterial (HA) é associada a disbiose da microbiota intestinal em ratos espontaneamente hipertensos (SHR) adultos; alteração essa que está ausente na fase jovem (pré-hipertensiva), mas é precedida por modificações no ambiente intestinal, que culminam no aumento da permeabilidade, fibrose e inflamação na idade adulta. O tratamento de SHR adultos com fármacos moduladores do sistema renina angiotensina (SRA) é capaz de reverter essa patologia intestinal e estabelecer a eubiose, o que sugere a participação do SRA local no desenvolvimento das alterações intestinais associadas a HA. Uma vez que trabalhos indicam a influência do ambiente pós-natal na ativação do SRA renal em SHR, o objetivo do presente trabalho foi avaliar como a troca do ambiente pós-natal (amamentação cruzada) modifica o SRA intestinal e o remodelamento das artérias mesentéricas de resistência (AMRs) em SHR de 6 semanas de vida. Assim, ratos Wistar (W) e SHR (S) foram amamentados por suas mães, formando os grupos WW (n:24) e SS (n:23); ou por fêmeas da linhagem oposta, nos grupos WS (n:17) e SW (n:16). A pressão arterial (PA) foi avaliada por pletismografia e o remodelamento das AMRs foi estudado em miógrafo de pressão, avaliando: o diâmetro interno (Di), a razão parede/lúmen (P/L) e a rigidez arterial (ângulo ?), na ausência de cálcio. Segmentos de intestino grosso foram avaliados por ELISA para quantificação de angiotensina II (Angio II) ou por qRT-PCR para avaliação da expressão gênica do receptor de Angio II do tipo I (ATR1) e da enzima conversora de Angio II (ECA 1). Os níveis de mRNA foram determinados pelo cálculo 2 – ??Ct. Análise estatística: ANOVA duas vias ($p<0,05 vs. WW e @p<0,05 vs. SS). Aprovação CEUA nº:1946260318. Os ratos SS apresentaram um pequeno, porém significativo, aumento da PA em comparação aos WW, e a amamentação cruzada não modificou tal perfil (WW:117±0,97 vs. WS:116±0,86 vs. SS:127±0,99$ vs. SW:127±1,34$ mmHg). As AMRs dos SS tinham menor Di (80mmHg: WW:300±17,6 vs. WS:302±18,7 vs. SS:259±16,5$ vs. SW:300±21,1@ µm); maior razão P/L (80mmHg: WW:0,12±0,01 vs. WS:0,13±0,005 vs. SS:0,18±0,01$ vs. SW:0,13±0,004@) e maior ângulo ? (WW:5,14±0,21 vs. WS:4,99±0,16 vs. SS:6,13±0,31$ vs. SW:5,36±0,27@), quando comparado aos WW e aos SW; enquanto esses parâmetros não diferiram entre os WS e os WW. A concentração de Angio II estava aumentada no intestino dos SS e dos WS em comparação com os WW, mas era reduzida nos SW frente ao grupo SS (WW: 0,90±0,04 vs. WS:1,67±0,15$ vs. SS:1,83±0,23$ vs. SW:1,01±0,11@ pg/mL/µg). Adicionalmente, a expressão gênica do ATR1 e da ECA 1 era semelhante entre os grupos. Assim, com os resultados apresentados, concluímos que a mudança do ambiente pós-natal melhora o prognóstico do remodelamento estrutural e mecânico das AMRs dos SW já em 6 semanas; fenótipo esse acompanhado de menor concentração intestinal de Angio II. A menor produção desse peptídeo no intestino pode reduzir os danos nesse órgão alvo na idade adulta, contribuindo para o estabelecimento da eubiose, para o remodelamento eutrófico para fora em AMRs e melhora do prognóstico da HA nos SW. Já nos WS (que não apresentam remodelamento em 6 semanas de vida), a maior atividade do SRA pode prejudicar o ambiente intestinal e o estabelecimento da microbiota, contribuindo como um fator de risco para o remodelamento observado nesses animais na vida adulta, caracterizado como sendo eutrófico para dentro nas AMRs.
Comissão Organizadora
Gustavo Carvalho
Luiza Malacco
Eliana Hiromi Akamine
Profª Drª Luciana Venturini Rossoni
Ana Paula Couto Davel
José Wilson do Nascimento Corrêa
GIULIA ALESSANDRA WIGGERS
Alice Valença Araújo
Comissão Científica