Introdução: O termo má nutrição se refere a deficiências, excessos ou desequilíbrios na ingestão e utilização de nutrientes, e inclui tanto subnutrição quanto obesidade. Ambos são fatores de risco para doenças cardiovasculares e doenças metabólicas, como diabetes. O funcionamento adequado da microvasculatura das ilhotas pancreáticas é essencial para a atividade secretora das células beta e, portanto, para a homeostase glicêmica, de modo que estratégias para controle glicêmico deveriam incluir como alvo a disfunção vascular nas ilhotas. A restrição proteica em fases iniciais do desenvolvimento prejudica a atividade secretora das células beta, e o dano é potencializado pela obesidade induzida por dieta hiperlipídica (H) na fase adulta. A coexistência de subnutrição e obesidade ao longo da vida caracteriza a dupla carga de má nutrição, e pouco se sabe sobre seu impacto na vasculatura e os possíveis mecanismos associados. Nesse sentido, as células endoteliais exercem importante controle local da função vascular incluindo regulação do tônus arterial, estado redox e inflamatório, além de capilarização. Hipótese e Objetivos: Levantamos a hipótese de que a restrição proteica em fase inicial do desenvolvimento pós-natal programa disfunção endotelial e alteração da vascularização do pâncreas endócrino, e esse prejuízo pode ser ainda maior quando associado à dieta H na fase adulta. Os objetivos serão investigar se a dupla carga de má nutrição impacta a reatividade da artéria lieno-pancreática, responsável pela irrigação do pâncreas endócrino, e o diâmetro dos capilares das ilhotas. In vitro será investigado o efeito de dois fatores de risco cardiometabólicos (restrição de aminoácidos e ácido palmítico), isoladamente e em conjunto na função e sobrevivência de células endoteliais. Métodos: Camundongos machos C57Bl/6JUnib (28 dias) receberão dieta controle (C, 14% proteína) ou dieta restrita (R, 6% proteína) por 6 semanas. Em seguida, os grupos serão divididos para receber dieta C ou H (45% lipídios) por 10 semanas formando quatro grupos: CC, RC, CH e RH. O peso dos animais e a ingestão alimentar e hídrica serão acompanhados semanalmente. A pressão arterial sistólica será medida na 6ª e 16ª semanas do protocolo experimental e serão realizados testes de tolerância à glicose e à insulina. A reatividade da artéria lieno-pancreática será avaliada pelo relaxamento induzido por acetilcolina, por nitroprussiato de sódio e por insulina, em miógrafo de arame. A técnica de fatias pancreáticas vivas será utilizada para verificar o diâmetro dos capilares e através da imuno-histoquímica será feita marcação de células endoteliais, músculo liso, pericito e célula beta. Será também utilizada linhagem de células endoteliais da microvasculatura da ilhota (MS-1) submetidas a meio com restrição de aminoácidos e com palmitato, mimetizando a dupla carga in vitro, para avaliar: migração e morte celular, produção de NO, H2S, ROS e transcriptoma. Resultados esperados: Espera-se que a dupla carga de má nutrição leve a alterações estruturais e funcionais que potencializem os prejuízos causados pela restrição proteica e obesidade individualmente. Assim, com o desenvolvimento do presente projeto, pretendemos avançar no conhecimento da integração da fisiologia vascular e endócrina e dos mecanismos fisio(pato)lógicos envolvidos nas Origens Desenvolvimentistas da Saúde e da Doença (DOHaD).
Comissão Organizadora
Gustavo Carvalho
Luiza Malacco
Eliana Hiromi Akamine
Profª Drª Luciana Venturini Rossoni
Ana Paula Couto Davel
José Wilson do Nascimento Corrêa
GIULIA ALESSANDRA WIGGERS
Alice Valença Araújo
Comissão Científica