Introdução: A coexistência de obesidade e sepse têm se tornado frequente na prática clínica. No entanto, o impacto da obesidade no prognóstico cardiovascular de sobreviventes à sepse ainda não está claro. Portanto, o objetivo deste estudo foi investigar as respostas cardiovasculares de camundongos obesos alimentados com dieta de cafeteria (CAF) que sobreviveram à sepse polimicrobiana experimental. Métodos: Para a indução da sepse, usamos o modelo de ligadura e perfuração do ceco (CLP). Camundongos Balb/c machos (8 semanas de idade) foram divididos em quatro grupos: (1) Controle, (2) CLP, (3) CAF e (4) CAF-CLP. Os grupos Controle e CLP receberam dieta padrão, enquanto os grupos CAF e CAF-CLP receberam dieta de cafeteria por 30 dias. No 14º dia da dieta, os grupos CLP e CAF-CLP foram submetidos à ligadura e punção cecal para indução de sepse subletal, enquanto os grupos Controle e CAF foram submetidos apenas à exposição cecal. Curva de sobrevida, método de perfusão de Langendorff, medição da contratilidade dos cardiomiócitos e reatividade vascular da aorta torácica foram realizados. CEUA: 383/2016. Resultados: Apesar de não influenciar a mortalidade à sepse (CLP:60,8%, n=46;CAF-CLP:63,0,n=46), a obesidade induzida por dieta CAF aumentou significativamente a função basal do coração isolado e dos cardiomiócitos do grupo CAF-CLP (PDVE: 47,8±9,9,n=5; Vmax contração:66,9±3,8,n=3), quando comparado ao grupo CLP (PDVE: 11,7±3,5,n=5; Vmax contração: 35,2±2,6,n=3). No entanto, frente ao estímulo farmacológico com isoprenalina, a responsividade cardíaca do grupo CAF-CLP (PDVE:128,3±15,8,n=5) foi significativamente reduzida em relação ao grupo CLP (Emax PDVE: 333,2±30,4,n=5). A vasoconstrição induzida pela fenilefrina foi prejudicada no grupo CAF (Emax:2.6±0,2,n=10) e esse prejuízo foi acentuado no grupo CAF-CLP (Emax: 2,0±0,1,n=11), que se mostrou hiporreativo em comparação aos demais grupos (Controle-Emax: 3,4±0,1,n=9;CLP-Emax:3,2±0,2,n=9). A hiporreatividade aórtica do CAF-CLP foi completamente restaurada pela remoção mecânica do endotélio (CLP-Emax:3,9±0.2,n=10; CAF-CLP-Emax:3,8±0,3,n=9). A incubação com L-NAME ou ODQ aumentou significativamente a vasoconstrição do grupo CAF-CLP, restaurando a resposta contrátil apresentada por esse grupo (L-NAME:CLP- Emax:4,3±0.2,n=11;CAF-CLP-Emax:4,4±0,2,n=8;ODQ:CLP-Emax:3,3±0.1,n=3;CAF-CLP-Emax: 4,2±0,2,n=4). Além disso, a incubação com PD98059 reduziu a vasoconstrição dos grupos experimentais à níveis similares, revertendo a hiporreatividade apresentada pelo grupo CAF-CLP (CLP-Emax:1,4±0,1,n=6; CAF-CLP-Emax:1,3±0,1,n=8). Já a incubação com Ibuprofeno reduziu a resposta contrátil dos grupos experimentais ao nível da resposta mostrada pelo grupo CAF-CLP, de forma que a hiporreatividade vascular verificada neste grupo deixou de existir (CLP-Emax:2,3±0,2,n=11;CAF-CLP-Emax:2,2±0,2,n=9). Conclusão: A obesidade induzida pela dieta CAF, apesar de não influenciar a mortalidade à sepse, foi capaz de provocar alteraç?es significativas nas respostas cardiovasculares em camundongos que sobreviveram à sepse, que se caracterizam, sobretudo, pelo aumento da função cardíaca e prejuízo da contratilidade aórtica. Essa hiporreatividade aórtica é essencialmente mediada por vias de sinalização endoteliais, envolvendo tanto um aumento do estímulo vasodilatador por meio da NOS/NO/sGC, quanto um prejuízo do estímulo vasoconstritor por meio de ERK1/2 e COX.
Comissão Organizadora
Gustavo Carvalho
Luiza Malacco
Eliana Hiromi Akamine
Profª Drª Luciana Venturini Rossoni
Ana Paula Couto Davel
José Wilson do Nascimento Corrêa
GIULIA ALESSANDRA WIGGERS
Alice Valença Araújo
Comissão Científica