“Que horrenda calamidade”: A seca no Piauí e a atuação da Inspetoria de Obras Contra as Secas nas primeiras décadas do século XX

  • Autor
  • Laila Pedrosa da Silva
  • Resumo
  • Este trabalho busca analisar a seca no Piauí na tentativa de identificar suas características particulares, bem como se deu a atuação da Inspetoria de Obras Contra as Secas na implantação das obras públicas nas primeiras décadas do século XX. Neste período, o debate em torno do Piauí enquanto sertão tomou conta dos discursos das elites piauienses. Entre os principais aspectos que atribuía a região respectiva categoria estava o isolamento, o atraso e as doenças. Tal percepção, logo foi associada ao abandono das autoridades governamentais, acusadas de favorecerem os estados do Sul, enquanto os estados do Norte viviam em completo abandono. Esse diagnóstico teve em parte grande contribuição dos médicos Arthur Neiva e Belisário Penna do Instituto Oswaldo Cruz, que em 1912 realizaram uma expedição aos sertões brasileiros e identificaram o abandono e as doenças como responsáveis por esse quadro. Diante disso, as elites piauienses incorporaram em suas narrativas as ideias elaboradas pelos médicos para validarem suas reclamações e passaram a reivindicar medidas que viessem solucionar os problemas do estado na tentativa de integrá-lo ao conjunto da nação, sendo a seca, juntamente com as doenças, apontada como um dos principais obstáculos para o seu desenvolvimento. O flagelo, que não só castigava o Piauí, mas de modo geral as populações nordestinas, tornou-se umas das principais estratégias dos grupos dominantes para conseguir benefícios econômicos e políticos. No entanto, a seca apresentava intensidades múltiplas a depender da região. No sertão do Piauí, por exemplo, ela não ocorreu de forma tão intensa como no Ceará. Logo, assumiu características particulares naquele território. Desse modo, o estado acabou desempenhando o papel de “zona de refúgio ou de passagem” para os retirantes que migravam em busca de sobrevivência. Durante a seca de 1915 e 1919 o Piauí recebeu uma grande quantidade de retirantes que foram empregados nas obras públicas pelo estado. Assim, além de vivenciar o fenômeno em suas dimensões climáticas, mesmo que em menores proporções, aquele espaço sofreu os efeitos da chegada de inúmeros imigrantes famintos, que de certa forma, contribuíram para as elites piauienses justificarem a necessidade de maior intervenção do Governo Federal. Porém, a forma como a seca se manifestava na região pode ter contribuído para definir o modo de atuação da Inspetoria de Obras Contra as Secas, uma vez que os trabalhos realizados pelo órgão foram mais reduzidos do que nas outras áreas que compunham a zona castigada pela seca. 

  • Palavras-chave
  • Sertão, Piauí, Obras Contra as Secas, Retirantes.
  • Área Temática
  • Simpósio Temático 13 - História das Ciências e da Saúde nos sertões brasileiros
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O II Seminário Nacional de História Social dos Sertões/IV Jornada de História dos Sertões – Caminhos e sertões: territórios e culturas, tem como objetivo geral proporcionar um compartilhamento de saberes acadêmicos sobre o domínio temático da História dos Sertões a partir do cruzamento de esforços institucionais que partem da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). O II evento, assim, aposta no fortalecimento desse campo, a partir da confluência de pesquisadores da História e das Humanidades para importantes discussões de temas a ele correlatos. 

Trata-se, aqui, de uma ação de continuidade, que dá prosseguimento ao I Seminário Nacional de História Social dos Sertões – O papel da História na compreensão do “Brasil profundo” realizado na Universidade Regional do Cariri (URCA – Crato-CE) em 2018, bem como, ao I Colóquio de História Social dos Sertões, realizado na Universidade Estadual do Ceará (UECE – Quixadá-CE) em 2016. Em sua segunda edição, o Seminário é promovido pelo Mestrado em História dos Sertões (MHIST-CERES-UFRN) e co-promovido pelo Mestrado em Geografia do CERES (GEOCERES-UFRN), em parceria com o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte - IFRN-Caicó. Conta com apoio das Pró-Reitorias de Graduação (PROGRAD), de Pós-Graduação (PPg) e de Extensão Universitária (PROEx) da UFRN, bem como, do Centro de Ensino Superior do Seridó (CERES) e dos Departamentos de História (DHC-CERES-UFRN) e de Geografia (DGC-CERES-UFRN).

Os caminhos, aqui, são entendidos a partir de um duplo significado: nos referimos tanto aos percursos vividos por homens e mulheres, na construção de suas vivências empíricas nos espaços, quanto àqueles de natureza intelectual, responsáveis pela constituição de um saber sobre os sertões. O ponto de partida para se pensar em caminhos é a enunciação da palavra sertão – e seu plural, sertões – no processo histórico da ocidentalização, no contexto das navegações marítimas e suas conquistas em terras afastadas da Península Ibérica, empreendidas a partir do século XV por portugueses. 

Antes desse período, a palavra sertão era utilizada, no âmbito de Portugal, para designar lugares afastados da costa. Viajando junto com os exploradores portugueses, ela foi utilizada em diferentes partes das Índias Orientais (Península Arábica, Índia, China) e Ocidentais (Ceuta, Angola, Brasil) para designar espacialidades com os sentidos de mata, vegetação contínua, floresta, oposto ao mar, interior, afastado, coração da terra, travessia, verde, árido, vazio. Diferentes caminhos, assim, foram sendo traçados pelos homens e mulheres que se lançaram ao mar e depararam-se, inclusive, com uma nova natureza, proporcionada pelo impacto com o desconhecido.

A transformação da natureza, pelo homem, culminou em processos de territorialização que geraram formas institucionais e não institucionais de controle do espaço, como as feitorias, fortalezas e, a partir da colonização, sítios, fazendas, ribeiras, currais, povoados, vilas, cidades, termos, e freguesias. Os sertões foram sendo construídos, dessa maneira, a partir da confluência de muitos caminhos, que podemos enxergar na experiência histórica de pessoas saídas da Ibéria e que, ao cruzarem os oceanos, construíram novos modos de vida em espaços afastados de seu lugar de origem, vivências essas intercruzadas com os nativos encontrados nas novas terras e com as populações que vieram da Costa da África. 

Ao longo do tempo, no âmbito da história traçada no que hoje chamamos de Brasil, sertão, enquanto conceito, foi apropriado de diferentes maneiras, pelas pessoas que dominaram o saber burocrático (padres, escrivães, tabeliães) e/ou geográfico (cosmógrafos, pilotos, agrimensores), por cronistas e viajantes – nativos ou não da América –, mas, também, por homens e mulheres sem conhecimento técnico e que tiveram a experiência do viver nos sertões. Esse conceito foi retomado e reapropriado, a partir do século XIX, pelos saberes acadêmicos em construção no Brasil, sobretudo no Instituto Histórico e Geográfico e Brasileiro, e, posteriormente, no pensamento social brasileiro e nas universidades, constituindo, pouco a pouco, um domínio temático, a História dos Sertões, campo de estudos sem o qual é praticamente impossível compreender a História do Brasil.

Os Anais aqui apresentados, pois, registram a memória dos trabalhos apresentados durante esse importante encontro de todas as gentes que pesquisam os sertões no Brasil e fora dele.

 

Ane Mecenas
Helder Macedo
Juciene Andrade
Alda Dantas
Matheus Barbosa
Organizadores do II SEHIS

  • Simpósio Temático 1 - Uma História dos Sertões em perspectivas institucionais
  • Simpósio Temático 2 - História, Subjetividades e Narrativas Sertanejas
  • Simpósio Temático 3 - História, natureza e ciência nos sertões
  • Simpósio Temático 4 - Fronteiras, conexões e impérios: dinâmicas de conquista e ocupação nos diferentes sertões das Américas ibéricas (séculos XVI-XVIII)
  • Simpósio Temático 5 - Territorialidades indígenas nos sertões
  • Simpósio Temático 6 - Agentes, agências e ofícios administrativos nos sertões do Império luso (sécs. XVII-XIX)
  • Simpósio Temático 7 - Cultura material, patrimônios e territórios
  • Simpósio Temático 8 - Catolicismo em perspectiva: poderes, culturas e sociabilidades nos sertões (sécs. XVI -XVIII)
  • Simpósio Temático 9 - Grande sertão d’aquém e e’além mar: caminhos e veredas no Brasil e na África portuguesa
  • Simpósio Temático 10 - Sertões coloniais: dinâmicas e redes de sociabilidades
  • Simpósio Temático 11 - Intelectuais, intelectualidade e cultura popular dos sertões
  • Simpósio Temático 12 - História, sertões e narrativas: diálogos e distanciamentos
  • Simpósio Temático 13 - História das Ciências e da Saúde nos sertões brasileiros
  • Simpósio Temático 14 - Representações, espaço e região no “Brasil profundo”
  • Simpósio Temático 15 - História Econômica e Social dos sertões: caminhos e perspectivas
  • Simpósio Temático 16 - Sertões e integração nacional nos séculos XX e XXI
  • Simpósio Temático 17 - Seca, trabalho e migração
  • Simpósio Temático 18 - Experiências de pesquisa sobre cultura visual nos sertões brasileiros
  • Simpósio Temático 19 - História Ambiental: sociedade e natureza nos sertões
  • Simpósio Temático 20 - Percorrendo a trilha dos conceitos: pensar o sertão como categoria social
  • Simpósio Temático 32 - Sertões da (des)ordem: crimes, revoltas e outras agências
  • Simpósio Temático 22 - A morte, o morrer e os mortos nos sertões
  • Simpósio Temático 23 - O sertão do rio São Francisco: sujeitos, diversidade e temporalidades
  • Simpósio Temático 24 - O sertão na História da Arte e as artes do sertão
  • Simpósio Temático 25 - História da água no sertão: entre chuvas, rios e reservatórios
  • Simpósio Temático 26 - História do cangaço: sociedade, cultura sertaneja e herança histórica
  • Simpósio Temático 27 - História Ambiental dos Sertões
  • Simpósio Temático 28 - Imagens do sertão na História
  • Simpósio Temático 29 - Territórios e culturas: o sertão de Goiás entre os séculos XVIII ao XX
  • Simpósio Temático 30 - O Brasil, o agrário, a civilização e o sertão
  • Simpósio Temático 31 - Devoções sertanejas: os espaços sagrados e práticas devocionais construídos nos sertões
  • Simpósio Temático 32 - Fora da lei: crimes, revoltas e outras faces dos sertões da (des)ordem
  • Simpósio Temático 33 - O sertão Amazônico colonial: práticas políticas e dinâmicas socioeconômicas
  • Simpósio Temático 34 - Coronelismo, messianismo e cangaços: elementos constitutivos dos sertões nordestinos, dos meados do século XIX a meados do século XX
  • Simpósio Temático 35 - Trabalho, conflito e sociabilidades nos sertões da Amazônia Oitocentista
  • Simpósio Temático 21 - Crimes, revoltas e outras faces dos sertões da (des)ordem
  • Simpósio Temático 21 - Lutas populares no sertão do Norte: política e resistência no alvorecer do longo século XIX

Ms. Abimael Esdras Carvalho de Moura Lira – Doutorando – UFRN
Dr. Abrahão Sanderson N. F. da Silva – UFRN 
Ms. Adson Rodrigo Silva Pinheiro – Doutorando – Universidade Federal Fluminense - UFF
Dr. André Ricardo Heráclio do Rêgo – Ministério das Relações Exteriores - MRE 
Dr. Antonio José de Oliveira – UFRN 
Dr. Antônio Zilmar da Silva – Universidade Estadual do Ceará – UECE  
Ms. Artur Vitor de Araújo Santana – Doutorando – Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP 
Ma. Avohanne Isabelle Costa de Araújo – Doutoranda – Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ)
Dr. Bruno Kawai Souto Maior de Melo – Universidade Federal de Pernambuco – UFPE 
Dr. Cassio Expedito Galdino Pereira – URCA 
Dr. Darlan de Oliveira Reis Júnior – URCA 
Dr.ª Débora Strieder Kreuz – Universidade Estadual do Piauí – UESPI 
Ms. Elson de Assis Rabelo – Universidade Federal do Vale do São Francisco – UNIVASF 
Dr. Eurípedes Antônio Funes – Universidade Federal do Ceará – UFC 
Dr.ª Fabíola Cristina Alves – UFRN 
Dr. Fernando Bagiotto Botton – UESPI 
Dr. Francisco Ramon de Matos Maciel - Doutor – UFC 
Dr. Francisco Ruy Gondim Pereira – Secretaria de Educação do Ceará 
Dr. Gabriel Pereira de Oliveira – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte – IFRN 
Dr.ª Gabriela Berthou de Almeida – UESPI 
Ms. Israel da Silva Aquino - Doutorando – Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS 
Dr.ª Janaína Freire dos Santos – Instituto de Apoio à Universidade de Pernambuco – IAUPE 
Ma. Janille Campos Maia – Doutoranda – FIOCRUZ 
Dr. João Fernando Barreto de Brito - Doutor – Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ 
Dr. João Paulo Peixoto Costa – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Piauí – IFPI 
Dr. Joaquim dos Santos – URCA 
Ms. Johnnys Jorge Gomes Alencar – Doutorando – Universidade Federal da Bahia – UFBA 
Dr. José Ferreira Júnior – Faculdade de Formação de Professores de Serra Talhada – FAFOPST 
Dr. José Leonardo do Nascimento – Universidade Estadual Paulista – UNESP  
Dr. José Vieira da Cruz – Universidade Federal de Sergipe – UFS 
Dr.ª Juciene Batista Félix Andrade – UFRN 
Dr. Kamillo Karol Ribeiro e Silva – Faculdade do Vale do Jaguaribe – FVJ 
Dr. Kleiton Souza de Moraes – UFC 
Ma. Laila Pedrosa da Silva – Doutoranda – FIOCRUZ 
Ma. Layra de Sousa Cruz Sarmento - Doutoranda – Universidade de Brasília (UnB)
Dr.ª Leda Agnes Simões – Doutora – Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ 
Ms. Lucas Gomes de Medeiros – Doutorando – Universidade Federal Rural de Pernambuco –UFRPE 
Dr. Mairton Celestino da Silva – Universidade Federal do Piauí – UFPI 
Dr. Marcio Antônio Both da Silva – Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE 
Ms. Márcio dos Santos Rodrigues – Doutorando – Universidade Federal do Pará - UFPA
Dr. Marcos Antonio de Menezes – Universidade Federal de Jataí – UFJ 
Dr. Marcos Luã Almeida de Freitas – Doutor – Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC  
Dr.ª Marina Monteiro Machado – UERJ 
Dr.ª Michelle Ferreira Maia – Centro Universitário UNINTA 
Ms. Milton Stanczyk Filho – UNIOESTE 
Dr. Pedro Abelardo de Santana – Universidade Federal de Alagoas – UFAL 
Dr. Rafael Ricarte da Silva – UFPI 
Dr. Raimundo Moreira das Neves Neto – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará - IFPA
Dr. Raimundo Nonato Rodrigues de Souza – Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA 
Dr.ª Renata Felipe Monteiro – Secretaria Municipal de Educação de Fortaleza – CE 
Ms. Roberto Viana de Oliveira Filho – Doutorando – UFC 
Dr. Robson William Potier – Secretaria de Estado da Educação do Rio Grande do Norte – SEEC-RN 
Dr.ª Sônia Maria de Magalhães – Universidade Federal de Goiás – UFG 
Dr.ª Tatiana Gonçalves de Oliveira – UESPI  
Dr. Thiago Reisdorfer – UESPI 
Dr. Tiago Bonato – Universidade Federal da Integração Latino-Americana - UNILA
Dr. Tyrone Apollo Pontes Cândido – UECE  
Dr. Valério Rosa de Negreiros – UESPI 
Dr. Valter Gomes Santos de Oliveira – Universidade do Estado da Bahia – UNEB 
Dr.ª Wania Alexandrino Viana – Universidade Federal do Oeste do Pará – UFOPA 

 

Anais do II Seminário Nacional de História Social dos Sertões – SEHIS
IV Jornada de História dos Sertões
Caminhos e sertões: territórios e culturas
Caicó, 2021
 
Realização
Programa de Pós-Graduação em História - Mestrado em História dos Sertões
Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN
Centro de Ensino Superior do Seridó – CERES/Campus de Caicó
Prédio das Pós-Graduações – Rua Joaquim Gregório, sn, Penedo
Caicó-RN – CEP 59374-000
E-mail: sertoes@ceres.ufrn.br 
 
Organizadores
Dr.ª Ane Luíse Silva Mecenas Santos – UFRN
Dr. Helder Alexandre Medeiros de Macedo – UFRN
Dr.ª Juciene Batista Félix Andrade – UFRN
Maria Alda Jana Dantas de Medeiros - Mestranda em História dos Sertões - UFRN
Matheus Barbosa Santos - Mestrando em História dos Sertões - UFRN
 
Projeto gráfico
Maria da Conceição da Silva da Costa - Licencianda em História - UFRN
Mara Gabrielly Batista de Macêdo - Licencianda em História - UFRN
 
Revisão
Flávia Bezerra de Almeida - Licencianda em História - UFRN
Inês Denize Dantas - Licencianda em História - UFRN
Prentice Geovanni da Silva Costa - Licencianda em História - UFRN