O povoamento na atual região do Município de Caruru, município agrestinense do Semiárido pernambucano, surgiu nas margens do intermitente rio Ipojuca no entorno de uma fazenda e mais tarde uma feira de gado, local de pousio dos tangedores das boiadas do Sertão para o Litoral e ainda encruzilhada da estrada entre Alagoas e o Sertão paraibano. Se a localização fomentou o rápido crescimento populacional, ter água para o consumo humano, os animais e plantios sempre foi um desafio. Em pesquisa realizada no Jornal Vanguarda, uma publicação local, observamos como a temática água foi noticiada. Em agosto de 1934 o citado jornal informava a inauguração das “fontes de águas thermaes de Carapotós”. Em perspectivas aparentemente contraditórias, os conteúdos jornalísticos se diferenciaram, com indícios evocando as particularidades nas relações da cidade com as “suas” águas. Por um lado, conteúdos enaltecendo as virtudes, a exemplo da empresa que listava os minerais e a alta qualidade terapêutica das águas. De outro, em outubro do mesmo ano, foi publicado um “Comunicado do Pôsto de Higiene”, recomendando os cuidados para evitar a contaminação com a febre tifoide e outras doenças transmitidas no consumo das águas em Caruaru. Ambos os conteúdos fazem pensar acerca dos indícios de convergência das iniciativas de sujeitos privados e da ineficiência da gestão pública. Os impedimentos do rio Ipojuca, fonte natural e inicial de abastecimento, constituíram uma permanente mobilizações de esforços de captação do inestimado líquido. As ideias ganham corpo em 13 de janeiro de 1916 com a aprovação pela Câmara Municipal de um projeto para o primeiro sistema de abastecimento a partir da serra dos cavalos, inviabilizado devido elevado valor das obras. Entregue a iniciativa do empresário Antônio Joaquim Alves Menino, que identificou a dupla oportunidade de exploração do abastecimento da cidade e a unidade fabril. Foram necessários a construção de uma barragem, 14 km de tubulações, caixa receptora e três chafarizes para atendimento da cidade de Caruaru com uma população aproximada de 10.000 habitantes ao preço de uma lata por dois vinténs ($020). Após quase duas décadas na prestação conturbada do serviço e na incapacidade de investimentos diante da crescente demanda, o sistema foi incorporado como patrimônio da municipalidade, que nos primeiros instantes apresenta acréscimos significativos de renda ao erário público. Após as sucessivas mudanças de titularidade dos serviços e diversificadas formas de transporte das águas por canos, trem e caminhão. Na atualidade, a cidade de Caruaru é inteiramente dependente das transposições de águas entre as bacias hidrográficas dos Rios Ipojuca, Una e Capibaribe, aguardando a solução “definitiva” advinda do Rio São Francisco.
O II Seminário Nacional de História Social dos Sertões/IV Jornada de História dos Sertões – Caminhos e sertões: territórios e culturas, tem como objetivo geral proporcionar um compartilhamento de saberes acadêmicos sobre o domínio temático da História dos Sertões a partir do cruzamento de esforços institucionais que partem da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). O II evento, assim, aposta no fortalecimento desse campo, a partir da confluência de pesquisadores da História e das Humanidades para importantes discussões de temas a ele correlatos.
Trata-se, aqui, de uma ação de continuidade, que dá prosseguimento ao I Seminário Nacional de História Social dos Sertões – O papel da História na compreensão do “Brasil profundo” realizado na Universidade Regional do Cariri (URCA – Crato-CE) em 2018, bem como, ao I Colóquio de História Social dos Sertões, realizado na Universidade Estadual do Ceará (UECE – Quixadá-CE) em 2016. Em sua segunda edição, o Seminário é promovido pelo Mestrado em História dos Sertões (MHIST-CERES-UFRN) e co-promovido pelo Mestrado em Geografia do CERES (GEOCERES-UFRN), em parceria com o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte - IFRN-Caicó. Conta com apoio das Pró-Reitorias de Graduação (PROGRAD), de Pós-Graduação (PPg) e de Extensão Universitária (PROEx) da UFRN, bem como, do Centro de Ensino Superior do Seridó (CERES) e dos Departamentos de História (DHC-CERES-UFRN) e de Geografia (DGC-CERES-UFRN).
Os caminhos, aqui, são entendidos a partir de um duplo significado: nos referimos tanto aos percursos vividos por homens e mulheres, na construção de suas vivências empíricas nos espaços, quanto àqueles de natureza intelectual, responsáveis pela constituição de um saber sobre os sertões. O ponto de partida para se pensar em caminhos é a enunciação da palavra sertão – e seu plural, sertões – no processo histórico da ocidentalização, no contexto das navegações marítimas e suas conquistas em terras afastadas da Península Ibérica, empreendidas a partir do século XV por portugueses.
Antes desse período, a palavra sertão era utilizada, no âmbito de Portugal, para designar lugares afastados da costa. Viajando junto com os exploradores portugueses, ela foi utilizada em diferentes partes das Índias Orientais (Península Arábica, Índia, China) e Ocidentais (Ceuta, Angola, Brasil) para designar espacialidades com os sentidos de mata, vegetação contínua, floresta, oposto ao mar, interior, afastado, coração da terra, travessia, verde, árido, vazio. Diferentes caminhos, assim, foram sendo traçados pelos homens e mulheres que se lançaram ao mar e depararam-se, inclusive, com uma nova natureza, proporcionada pelo impacto com o desconhecido.
A transformação da natureza, pelo homem, culminou em processos de territorialização que geraram formas institucionais e não institucionais de controle do espaço, como as feitorias, fortalezas e, a partir da colonização, sítios, fazendas, ribeiras, currais, povoados, vilas, cidades, termos, e freguesias. Os sertões foram sendo construídos, dessa maneira, a partir da confluência de muitos caminhos, que podemos enxergar na experiência histórica de pessoas saídas da Ibéria e que, ao cruzarem os oceanos, construíram novos modos de vida em espaços afastados de seu lugar de origem, vivências essas intercruzadas com os nativos encontrados nas novas terras e com as populações que vieram da Costa da África.
Ao longo do tempo, no âmbito da história traçada no que hoje chamamos de Brasil, sertão, enquanto conceito, foi apropriado de diferentes maneiras, pelas pessoas que dominaram o saber burocrático (padres, escrivães, tabeliães) e/ou geográfico (cosmógrafos, pilotos, agrimensores), por cronistas e viajantes – nativos ou não da América –, mas, também, por homens e mulheres sem conhecimento técnico e que tiveram a experiência do viver nos sertões. Esse conceito foi retomado e reapropriado, a partir do século XIX, pelos saberes acadêmicos em construção no Brasil, sobretudo no Instituto Histórico e Geográfico e Brasileiro, e, posteriormente, no pensamento social brasileiro e nas universidades, constituindo, pouco a pouco, um domínio temático, a História dos Sertões, campo de estudos sem o qual é praticamente impossível compreender a História do Brasil.
Os Anais aqui apresentados, pois, registram a memória dos trabalhos apresentados durante esse importante encontro de todas as gentes que pesquisam os sertões no Brasil e fora dele.
Ane Mecenas
Helder Macedo
Juciene Andrade
Alda Dantas
Matheus Barbosa
Organizadores do II SEHIS
Ms. Abimael Esdras Carvalho de Moura Lira – Doutorando – UFRN
Dr. Abrahão Sanderson N. F. da Silva – UFRN
Ms. Adson Rodrigo Silva Pinheiro – Doutorando – Universidade Federal Fluminense - UFF
Dr. André Ricardo Heráclio do Rêgo – Ministério das Relações Exteriores - MRE
Dr. Antonio José de Oliveira – UFRN
Dr. Antônio Zilmar da Silva – Universidade Estadual do Ceará – UECE
Ms. Artur Vitor de Araújo Santana – Doutorando – Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP
Ma. Avohanne Isabelle Costa de Araújo – Doutoranda – Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ)
Dr. Bruno Kawai Souto Maior de Melo – Universidade Federal de Pernambuco – UFPE
Dr. Cassio Expedito Galdino Pereira – URCA
Dr. Darlan de Oliveira Reis Júnior – URCA
Dr.ª Débora Strieder Kreuz – Universidade Estadual do Piauí – UESPI
Ms. Elson de Assis Rabelo – Universidade Federal do Vale do São Francisco – UNIVASF
Dr. Eurípedes Antônio Funes – Universidade Federal do Ceará – UFC
Dr.ª Fabíola Cristina Alves – UFRN
Dr. Fernando Bagiotto Botton – UESPI
Dr. Francisco Ramon de Matos Maciel - Doutor – UFC
Dr. Francisco Ruy Gondim Pereira – Secretaria de Educação do Ceará
Dr. Gabriel Pereira de Oliveira – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte – IFRN
Dr.ª Gabriela Berthou de Almeida – UESPI
Ms. Israel da Silva Aquino - Doutorando – Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS
Dr.ª Janaína Freire dos Santos – Instituto de Apoio à Universidade de Pernambuco – IAUPE
Ma. Janille Campos Maia – Doutoranda – FIOCRUZ
Dr. João Fernando Barreto de Brito - Doutor – Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ
Dr. João Paulo Peixoto Costa – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Piauí – IFPI
Dr. Joaquim dos Santos – URCA
Ms. Johnnys Jorge Gomes Alencar – Doutorando – Universidade Federal da Bahia – UFBA
Dr. José Ferreira Júnior – Faculdade de Formação de Professores de Serra Talhada – FAFOPST
Dr. José Leonardo do Nascimento – Universidade Estadual Paulista – UNESP
Dr. José Vieira da Cruz – Universidade Federal de Sergipe – UFS
Dr.ª Juciene Batista Félix Andrade – UFRN
Dr. Kamillo Karol Ribeiro e Silva – Faculdade do Vale do Jaguaribe – FVJ
Dr. Kleiton Souza de Moraes – UFC
Ma. Laila Pedrosa da Silva – Doutoranda – FIOCRUZ
Ma. Layra de Sousa Cruz Sarmento - Doutoranda – Universidade de Brasília (UnB)
Dr.ª Leda Agnes Simões – Doutora – Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ
Ms. Lucas Gomes de Medeiros – Doutorando – Universidade Federal Rural de Pernambuco –UFRPE
Dr. Mairton Celestino da Silva – Universidade Federal do Piauí – UFPI
Dr. Marcio Antônio Both da Silva – Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE
Ms. Márcio dos Santos Rodrigues – Doutorando – Universidade Federal do Pará - UFPA
Dr. Marcos Antonio de Menezes – Universidade Federal de Jataí – UFJ
Dr. Marcos Luã Almeida de Freitas – Doutor – Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC
Dr.ª Marina Monteiro Machado – UERJ
Dr.ª Michelle Ferreira Maia – Centro Universitário UNINTA
Ms. Milton Stanczyk Filho – UNIOESTE
Dr. Pedro Abelardo de Santana – Universidade Federal de Alagoas – UFAL
Dr. Rafael Ricarte da Silva – UFPI
Dr. Raimundo Moreira das Neves Neto – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará - IFPA
Dr. Raimundo Nonato Rodrigues de Souza – Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA
Dr.ª Renata Felipe Monteiro – Secretaria Municipal de Educação de Fortaleza – CE
Ms. Roberto Viana de Oliveira Filho – Doutorando – UFC
Dr. Robson William Potier – Secretaria de Estado da Educação do Rio Grande do Norte – SEEC-RN
Dr.ª Sônia Maria de Magalhães – Universidade Federal de Goiás – UFG
Dr.ª Tatiana Gonçalves de Oliveira – UESPI
Dr. Thiago Reisdorfer – UESPI
Dr. Tiago Bonato – Universidade Federal da Integração Latino-Americana - UNILA
Dr. Tyrone Apollo Pontes Cândido – UECE
Dr. Valério Rosa de Negreiros – UESPI
Dr. Valter Gomes Santos de Oliveira – Universidade do Estado da Bahia – UNEB
Dr.ª Wania Alexandrino Viana – Universidade Federal do Oeste do Pará – UFOPA