O objetivo deste trabalho é relatar a experiência e os desafios enfrentados pela equipe do Projeto de Catalogação da Coleção Pessoal Nélida Piñon doada pela escritora e acadêmica à biblioteca do Instituto Cervantes do Rio de Janeiro. Uma das características que singularizam esta coleção é a marginalia presente nos documentos, cuja variedade de aspectos informacionais (ex-libris, dedicatórias manuscritas, marcações e anotações de próprio punho, marcas de proveniência etc.) constitui um dos principais desafios encontrados pela equipe de catalogação no que se refere à representação descritiva, bem como para atender os requisitos normativos e técnicos do catálogo coletivo da Rede de Bibliotecas do Instituto Cervantes (RBIC): Reglas de Catalogación, Classificação Decimal Universal (CDU), Descrição Bibliográfica Internacional Normalizada (ISBD), norma de catalogação de Recursos, Descrição e Acesso (RDA) e formato MARC21.
Pesquisou-se na literatura especializada em arquivos e coleções pessoais por fundamentação teórica e prática que pudesse fornecer orientação ao processamento técnico deste tipo de fundos. Constatou-se que, tanto na literatura nacional quanto internacional, há poucos estudos relativos à representação descritiva com grau de detalhamento extensivo que atenda aos pormenores presentes em coleções pessoais, como a marginalia, o que levou à elaboração de um glossário com as especificidades da coleção e a normatização tipológica das marcas de proveniência.
Instituição criada pelo Governo da Espanha em 1991, o Instituto Cervantes tem por missão promover o ensino do espanhol e difundir a cultura espanhola e hispano-americana. Um dos pilares para alcançá-la é a RBIC, a maior rede de bibliotecas espanholas no mundo, integrante do sistema de bibliotecas estatais do Governo Espanhol. A biblioteca do Instituto Cervantes do Rio de Janeiro é uma de suas unidades informacionais no Brasil. Devido às relações históricas e culturais entre o Brasil e a Espanha, a biblioteca do Instituto Cervantes no Rio de Janeiro recebeu excepcionalmente o nome de um autor de língua portuguesa, Nélida Piñon, escritora brasileira de origem galega, ganhadora de vários prêmios literários internacionais, como o de Literatura Latinoamericana y del Caribe Juan Rulfo (1995), o Menéndez Pelayo (2003) e o Príncipe de Asturias de las Letras (2005), entre outros, que refletem a importância de sua pessoa e obra dentro do contexto cultural ibero-americano. Em retribuição a este gesto, Nélida Piñon doou sua biblioteca pessoal ao Instituto Cervantes do Rio de Janeiro, cabendo a este a missão de preservar a memória da escritora e difundir e disponibilizar o seu acervo à sociedade.
Neste sentido, o Projeto de Catalogação, desde o seu início em 2021, tem sido norteado por identificar e registrar os rastros deixados pela escritora em cada obra, possibilitando assim ao investigador interessado em sua vida e obra descobrir vestígios de suas impressões culturais, literárias, pessoais, etc. Para atingir esse objetivo, a representação descritiva desses rastros ocupa um lugar de destaque dentro deste Projeto que visa difundir a coleção no catálogo coletivo da RBIC. Para tanto, as fichas catalográficas contêm a transcrição das dedicatórias manuscritas, entre outros aspectos, acompanhadas das imagens digitalizadas das capas e dedicatórias manuscritas de cada documento.
Trata-se de relato de experiência de natureza descritiva com abordagem qualitativa, discorrendo sobre a relevância da representação descritiva da marginalia de modo a tornar o acervo pessoal da escritora Nélida Piñon acessível ao público.
Constata-se que o objetivo deste trabalho de relatar os desafios e a importância da representação descritiva no Projeto de Catalogação da Coleção Nélida Piñon, ainda em desenvolvimento, foi atingido. Para cada informação diferenciada contida nos documentos, buscou-se uma solução de forma a adequá-la à normativa da RBIC, preservando os rastros deixados por Nélida Piñon.
Prezados(as) participantes,
É com grande satisfação que apresentamos o Caderno de Resumos do I Seminário Arquivos Pessoais e Sociedade: Preservação e Acesso na Contemporaneidade, realizado nos dias 8 a 10 de abril.
Este evento é fruto de uma parceria exitosa entre o Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil (CPDOC FGV) , a Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, por meio do Laboratório e Grupo de Pesquisa APP e a Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ). Agradecemos ao CPDOC-FGV por abrir suas portas para este encontro e à FAPERJ pelo apoio financeiro que permitiu a realização de um evento de alto nível científico.
O Seminário reuniu pesquisadores, estudantes, profissionais de arquivo e interessados da área, para discutir os desafios e oportunidades da preservação e do acesso aos arquivos pessoais. Ao longo de três dias, foram apresentados 29 trabalhos,distribuídos em três modalidades, que abordam uma ampla gama de temas, desde a organização de acervos pessoais até a relação destes com a memória coletiva.
No GT1 - Pesquisas Acadêmicas foram apresentados trabalhos resultantes de pesquisas acadêmicas, como TCCs, dissertações, teses e projetos de pesquisa, que abordaram as mais diversas perspectivas teóricas sobre arquivos pessoais e sociedade.
No GT2 - Estudos de Caso e Relatos de Experiência os participantes compartilharam suas experiências práticas no trabalho com arquivos pessoais em instituições e espaços de custódia. Os relatos e estudos de caso apresentaram soluções inovadoras e desafios enfrentados no dia a dia.
E a Seção de Pôsteres foi dedicada à apresentação de trabalhos desenvolvidos por graduandos, que abordaram temas como pesquisa de iniciação científica, projetos de extensão e projetos de ensino.
Os trabalhos apresentados demonstraram uma grande diversidade de abordagens e temáticas, evidenciando a riqueza e a complexidade do campo dos estudos sobre arquivos pessoais. Fruto de grande esforço de pesquisa, os trabalhos apresentam originalidade e relevância nos temas abordados. A combinação de pesquisas acadêmicas com estudos de caso práticos enriqueceram o debate e contribuíram para a consolidação do evento como um espaço de referência para a discussão de questões relacionadas à preservação e ao acesso aos arquivos pessoais.
Nesse sentido, muito nos alegra ter feito parte deste momento, e acreditamos que o evento "Arquivos Pessoais e Sociedade", carinhosamente chamado de apenas “APS”, contribuiu significativamente para o avanço dos estudos sobre arquivos pessoais no Brasil. E esperamos que os debates e as reflexões gerados durante o evento inspirem novas pesquisas e iniciativas na área.
É por isso que encerramos, já aproveitando para convidá-los a estarmos juntos novamente em nossa próxima edição do do evento que está prevista para acontecer em 2026.
Abraços afetuosos
Patricia, Renato e Carolina
Poderão submeter resumos graduandos (postêr) e profissionais graduados em Arquivologia ou áreas afins que atuem no segmento de arquivos privados e pessoais (apresentação oral). Serão aceitos trabalhos originais, resultados de pesquisas acadêmicas, para o GT 1, relatos de experiências profissionais, para o GT 2, e projetos de graduandos, para a Seção de Pôsteres.
O resumo expandido deve conter no mínimo 2.000 e no máximo 4.000 caracteres, com espaços. Ser redigido em fonte Arial, tamanho 12, com espaçamento entre linhas 1,5 e alinhamento justificado, recuo de 1,25 cm no início de cada parágrafo e sem espaçamento entre parágrafos. Para as referências, aplicar a norma ABNT [NBR 6023:2018].
O resumo expandido deverá conter: Indicação de GT ao qual se direciona; Título do trabalho; de 3 a 5 palavras-chaves. O resumo pode ser dividido em parágrafos, mas não em seções, e deve apresentar introdução, metodologia, resultados e conclusões. Os nomes dos autores não devem ser mencionados no resumo. Não devem conter imagens, gráficos e tabelas no resumo expandido.
Para a submissão completa, é necessário preencher todos os campos solicitados pela plataforma e anexar um documento editável com o resumo, de acordo com o template disponibilizado. O texto do resumo do campo de submissão e o do documento anexado devem ser os mesmos. A lista de referências deve constar apenas no documento anexado, sendo dispensada para o campo de preenchimento na plataforma.
Os resumos aprovados serão apresentados oralmente no Seminário Arquivos Privados e Sociedade. As apresentações acontecerão apenas em formato presencial.
Serão permitidos até 3 autores em cada trabalho. Cada autor/coautor poderá submeter até 2 trabalhos.
GT 1 - PESQUISAS ACADÊMICAS
O GT 1 destina-se à apresentação de trabalhos resultados de pesquisas acadêmicas, com enfoque em perspectivas teóricas sobre arquivos pessoais e sociedade. Serão recebidos trabalhos originados de TCC, dissertações, teses e projetos de pesquisa diversos que contemplem arquivos pessoais em suas mais diversas abordagens.
GT 2 - ESTUDOS DE CASO E RELATOS DE EXPERIÊNCIA
O GT 2 destina-se à apresentação de relatos de experiências práticas realizadas em instituições e espaços de custódia de arquivos pessoais. Os relatos e estudos de caso têm por finalidade apresentar as realidades vivenciadas por profissionais que atuem com arquivos pessoais a partir do entendimento de que espaços de custódia são espaços de geração de conhecimento e soluções sobre o tratamento de arquivos pessoais. Os trabalhos deste GT não dispensam abordagem teórica, mas seu foco encontra-se na prática com arquivos pessoais.
SEÇÃO DE PÔSTERES
A seção de pôsteres se destina à apresentação de trabalhos desenvolvidos por graduandos, acompanhados de seus orientadores. Os trabalhos apresentados podem envolver pesquisas de iniciação científica, projetos de extensão, projetos de ensino, entre outras formas de pesquisa desenvolvidas durante a graduação. As propostas aprovadas deverão enviar os pôsteres, em formato digital, para apresentação. A data de envio e o modelo do pôster serão divulgados posteriormente.
Comissão Científica
Patricia Ladeira Penna Macêdo
Professora Adjunta do curso de Arquivologia na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO). Em exercício provisório no Departamento de Ciência da Informação na Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Docente Permanente do Programa de Pós-Graduação em Gestão da Informação e do Conhecimento (PPGIC/UFRN) e Docente Colaboradora do Programa de Pós-Graduação em Gestão de Documentos e Arquivos (PPGARQ/UNIRIO). Líder do grupo de pesquisa: Acervos privados e pessoais: memórias, políticas e patrimônio (Grupo APP). Pesquisadora do Laboratório Multidimensional de Estudos sobre acervos privados e pessoais (LABAPP-UNIRIO). Doutora em Ciência da Informação pelo Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal Fluminense (UFF) com graduação em História e Arquivologia, também pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Atua principalmente nos seguintes temas: gestão de instituições arquivísticas, memória, acervos pessoais, gestão da informação, preservação e conservação de documentos, história e biografia e questões de gênero.
Renato Crivelli Duarte
É doutor e mestre em Ciência da Informação pelo Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da Universidade Estadual Paulista ?Júlio de Mesquita Filho? ? UNESP - Faculdade de Filosofia e Ciências de Marília. Possui graduação em Arquivologia pela mesma instituição. Foi arquivista do Centro de Documentação e Apoio à Pesquisa (CEDAP) da Faculdade de Ciências e Letras de Assis da Universidade Estadual Paulista ?Júlio de Mesquita Filho? ? UNESP no período de 2014 a 2019. Atualmente é professor adjunto no Departamento de Arquivologia da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO) e Professor Permanente junto ao Programa de Pós-Graduação em Gestão de Documentos e Arquivos (PPGARQ), da mesma instituição.. É líder do Grupo de Pesquisa "Acervos Privados e Pessoais: memórias, políticas e patrimônio" (dgp.cnpq.br/dgp/espelhogrupo/2718794724114957), com atuação na linha de pesquisa "Instituições (d)e custódia de arquivos privados e pessoais". Tem experiência na área de Ciência da Informação, com ênfase em Arquivologia, atuando principalmente nos seguintes temas: arquivologia, memória individual e memória coletiva, arquivos pessoais, patrimônio e patrimônio documental e instituições de custódia.
Carolina Gonçalves Alves
Doutora pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (PPCIS UERJ), mestre em Ciências Sociais pelo mesmo programa e graduada em Ciências Sociais pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). É Analista de Documentação e Informação da FGV CPDOC, professora permanente do Programa de Pós-Graduação em História, Política e Bens Culturais da mesma instituição (PPHPBC FGV CPDOC), e atualmente coordena a Documentação (2023). Além disso, é integrante do Comitê Executivo da Rede Arquivos de Mulheres (RAM), fruto de uma parceria entre o CPDOC e o IEB da USP e coordenadora do Núcleo de Estudos de Gênero, Raça e Interseccionalidades (NEGRI) da Escola de Ciências Sociais/CPDOC da Fundação Getúlio Vargas - RJ. Sua atuação está voltada para a área de Sociologia, com ênfase em Sociologia da Cultura, sendo seus principais temas de interesse: raça, gênero, poder e representação. Seu trabalho envolve a organização e gestão de documentos históricos, e dedica-se a refletir sobre a sub-representação de mulheres nas instituições arquivísticas. Suas áreas de pesquisa compreendem a Sociologia, Sociologia da Cultura, Memória e Documentação.
Contato:
Coordenadores do I Seminário Arquivos Pessoais e Sociedade
Patricia Ladeira Penna Macêdo (UNIRIO/UFRN)
Renato Crivelli Duarte (UNIRIO)
Carolina Gonçalves Alves (CPDOC FGV)
Secretaria do evento
Rayssa Lisbôa França
Isabela Puppin de Oliveira Ribeiro
Designer Gráfico
Hugo Braga de Oliveira
Editoração dos Anais
Patricia Ladeira Penna Macêdo
Renato Crivelli Duarte
Carolina Gonçalves Alves
Financiamento
Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro - FAPERJ.