A ordem na desordem: diagnóstico e desafios na organização do arquivo pessoal de Castro Faria

  • Autor
  • Leticia Souza da Costa Sampaio
  • Co-autores
  • Everaldo Pereira Frade
  • Resumo
  •  

    O arquivo pessoal do antropólogo Luiz de Castro Faria (CF) (1913-2004) foi doado ao Museu de Astronomia e Ciências Afins (MAST) em 2000. Esse arquivo é um caso significativo para se estudar o respeito à ordem original em arquivos pessoais, por possuir uma organização prévia dotada de algumas inconsistências com os critérios arquivísticos. 

    A comunicação objetiva discutir, através do referido estudo de caso, os limites para a manutenção da ordem original na organização de arquivos pessoais e suas possíveis consequências na recuperação e acesso às informações. Esta pesquisa é qualitativa e de abordagem exploratória. Foi realizada uma revisão de literatura.

    Os documentos de arquivo são aqueles produzidos naturalmente em razão das atividades de seu produtor (BELLOTTO, 2006). O princípio da ordem original é um dos pilares da teoria arquivística, balizando os processos de organização de arquivos institucionais desde a sistematização proposta no Manual dos Arquivistas Holandeses em 1898. Em relação aos arquivos pessoais, embora a tendência mais geral também seja pela aplicação do princípio, a utilização da organização já existente, no momento da captação da documentação, suscita debates ainda longe do consenso.

    A existência de uma organização prévia dos documentos em um arquivo pessoal, elaborada pelo produtor ou terceiros, não é uma prática comum, algo comprovado, por exemplo, no Arquivo da História da Ciência do MAST, onde dos cerca de 70 arquivos pessoais captados, menos de 10% são dotados de alguma forma de organização geral prévia. Nos casos em que isso ocorre, outros problemas surgem para os arquivistas e profissionais de arquivo relacionados à inadequação da organização original para a inteligibilidade do conjunto documental.

    A organização pode ser um processo desafiador em arquivos pessoais desorganizados ou com múltiplas interferências, incluindo as realizadas pelo próprio produtor ao longo do tempo, mas é fundamental compreender a lógica por trás da acumulação ao reorganizar o fundo (DUCROT, 1998; MACÊDO, 2019).

    Em um documento publicado pelo Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil (1986), está disposto que a ordem original dos documentos deve ser priorizada na construção do arranjo, o qual deve, portanto, considerar a organização advinda com a doação do acervo sempre que possível. Contudo, “[...] nos casos em que a organização existente se mostra inadequada à recuperação das informações contidas no arquivo, determina-se o arranjo a ser adotado” (CENTRO DE PESQUISA E DOCUMENTAÇÃO DE HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA DO BRASIL, 1986, p. 9 APUD MACÊDO, 2018, p. 41). Assim, há casos em que as interferências pelas quais os arquivos doados sofreram faz com que seja preciso pensar em novos arranjos.

    O estudo do arquivo pessoal de CF resultou na compreensão de que há divergências entre a organização atual do acervo e os critérios arquivísticos. O arranjo atual apresenta uma classificação de documentos entre “antigos” e “novos”, inexistência de relações entre documentos criados por uma mesma atividade, não utilização da ordem cronológica ou alfabética no posicionamento dos registros, entre outras divergências que ocasionam a quebra da organicidade dos documentos. Seguir com esse arranjo imputa em perpetuar as dificuldades atuais quanto a recuperação e acesso das informações.

    É preciso pensar nos limites entre o respeito à ordem em que os documentos são recebidos e as possibilidades de garantir o acesso aos documentos. As intervenções no acervo, refletidas no atual sumário, tornam fundamental pensar em metodologias arquivísticas que possibilitem alcançar a lógica da acumulação do acervo e pautar a elaboração de um quadro de arranjo, conciliando o respeito à ordem original com a garantia do acesso.

    As considerações preliminares do estudo apontam para necessidade de pensar em uma flexibilização das práticas arquivísticas que compreendam as especificidades dos arquivos pessoais e possibilitem seu acesso.

  • Palavras-chave
  • Arquivos pessoais; Organização; Museu da Astronomia e Ciências Afins; Luiz de Castro Faria.
  • Modalidade
  • Comunicação oral
  • Área Temática
  • GT 2 - Estudos de Caso e Relatos de Experiência
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Prezados(as) participantes,

 

É com grande satisfação que apresentamos o Caderno de Resumos do I Seminário Arquivos Pessoais e Sociedade: Preservação e Acesso na Contemporaneidade, realizado nos dias 8 a 10 de abril.

Este evento é fruto de uma parceria exitosa entre o Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil (CPDOC FGV) , a Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, por meio do Laboratório e Grupo de Pesquisa APP e a Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ). Agradecemos ao CPDOC-FGV por abrir suas portas para este encontro e à FAPERJ pelo apoio financeiro que permitiu a realização de um evento de alto nível científico.

O Seminário reuniu pesquisadores, estudantes, profissionais de arquivo e interessados da área, para discutir os desafios e oportunidades da preservação e do acesso aos arquivos pessoais. Ao longo de três dias, foram apresentados 29 trabalhos,distribuídos em três modalidades, que abordam uma ampla gama de temas, desde a organização de acervos pessoais até a relação destes com a memória coletiva.

No GT1 - Pesquisas Acadêmicas foram apresentados trabalhos resultantes de pesquisas acadêmicas, como TCCs, dissertações, teses e projetos de pesquisa, que abordaram as mais diversas perspectivas teóricas sobre arquivos pessoais e sociedade.

No GT2 - Estudos de Caso e Relatos de Experiência os participantes compartilharam suas experiências práticas no trabalho com arquivos pessoais em instituições e espaços de custódia. Os relatos e estudos de caso apresentaram soluções inovadoras e desafios enfrentados no dia a dia.

E a Seção de Pôsteres foi dedicada à apresentação de trabalhos desenvolvidos por graduandos, que abordaram temas como pesquisa de iniciação científica, projetos de extensão e projetos de ensino.

Os trabalhos apresentados demonstraram uma grande diversidade de abordagens e temáticas, evidenciando a riqueza e a complexidade do campo dos estudos sobre arquivos pessoais. Fruto de grande esforço de pesquisa, os trabalhos apresentam originalidade e relevância nos temas abordados. A combinação de pesquisas acadêmicas com estudos de caso práticos enriqueceram o debate e contribuíram para a consolidação do evento como um espaço de referência para a discussão de questões relacionadas à preservação e ao acesso aos arquivos pessoais. 

Nesse sentido, muito nos alegra ter feito parte deste momento, e acreditamos que o evento "Arquivos Pessoais e Sociedade", carinhosamente chamado de apenas “APS”, contribuiu significativamente para o avanço dos estudos sobre arquivos pessoais no Brasil. E esperamos que os debates e as reflexões gerados durante o evento inspirem novas pesquisas e iniciativas na área.

É por isso que encerramos, já aproveitando para convidá-los a estarmos juntos novamente em nossa próxima edição do do evento que está prevista para acontecer em 2026.

 

Abraços afetuosos

Patricia, Renato e Carolina

Poderão submeter resumos graduandos (postêr) e profissionais graduados em Arquivologia ou áreas afins que atuem no segmento de arquivos privados e pessoais (apresentação oral). Serão aceitos trabalhos originais, resultados de pesquisas acadêmicas, para o GT 1, relatos de experiências profissionais, para o GT 2, e projetos de graduandos, para a Seção de Pôsteres.

O resumo expandido deve conter no mínimo 2.000 e no máximo 4.000 caracteres, com espaços. Ser redigido em fonte Arial, tamanho 12, com espaçamento entre linhas 1,5 e alinhamento justificado, recuo de 1,25 cm no início de cada parágrafo e sem espaçamento entre parágrafos. Para as referências, aplicar a norma ABNT [NBR 6023:2018].

O resumo expandido deverá conter: Indicação de GT ao qual se direciona; Título do trabalho; de 3 a 5 palavras-chaves. O resumo pode ser dividido em parágrafos, mas não em seções, e deve apresentar introdução, metodologia, resultados e conclusões. Os nomes dos autores não devem ser mencionados no resumo. Não devem conter imagens, gráficos e tabelas no resumo expandido.

Para a submissão completa, é necessário preencher todos os campos solicitados pela plataforma e anexar um documento editável com o resumo, de acordo com o template disponibilizado. O texto do resumo do campo de submissão e o do documento anexado devem ser os mesmos. A lista de referências deve constar apenas no documento anexado, sendo dispensada para o campo de preenchimento na plataforma.

Os resumos aprovados serão apresentados oralmente no Seminário Arquivos Privados e Sociedade. As apresentações acontecerão apenas em formato presencial.

Serão permitidos até 3 autores em cada trabalho. Cada autor/coautor poderá submeter até 2 trabalhos.


GT 1 - PESQUISAS ACADÊMICAS

O GT 1 destina-se à apresentação de trabalhos resultados de pesquisas acadêmicas, com enfoque em perspectivas teóricas sobre arquivos pessoais e sociedade. Serão recebidos trabalhos originados de TCC, dissertações, teses e projetos de pesquisa diversos que contemplem arquivos pessoais em suas mais diversas abordagens.

GT 2 - ESTUDOS DE CASO E RELATOS DE EXPERIÊNCIA

O GT 2 destina-se à apresentação de relatos de experiências práticas realizadas em instituições e espaços de custódia de arquivos pessoais. Os relatos e estudos de caso têm por finalidade apresentar as realidades vivenciadas por profissionais que atuem com arquivos pessoais a partir do entendimento de que espaços de custódia são espaços de geração de conhecimento e soluções sobre o tratamento de arquivos pessoais. Os trabalhos deste GT não dispensam abordagem teórica, mas seu foco encontra-se na prática com arquivos pessoais.

SEÇÃO DE PÔSTERES

A seção de pôsteres se destina à apresentação de trabalhos desenvolvidos por graduandos, acompanhados de seus orientadores. Os trabalhos apresentados podem envolver pesquisas de iniciação científica, projetos de extensão, projetos de ensino, entre outras formas de pesquisa desenvolvidas durante a graduação. As propostas aprovadas deverão enviar os pôsteres, em formato digital, para apresentação. A data de envio e o modelo do pôster serão divulgados posteriormente.

  • GT 1 - Pesquisas Acadêmicas
  • GT 2 - Estudos de Caso e Relatos de Experiência
  • Seção de Pôsteres

Comissão Científica

Patricia Ladeira Penna Macêdo

Professora Adjunta do curso de Arquivologia na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO). Em exercício provisório no Departamento de Ciência da Informação na Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Docente Permanente do Programa de Pós-Graduação em Gestão da Informação e do Conhecimento (PPGIC/UFRN) e Docente Colaboradora do Programa de Pós-Graduação em Gestão de Documentos e Arquivos (PPGARQ/UNIRIO). Líder do grupo de pesquisa: Acervos privados e pessoais: memórias, políticas e patrimônio (Grupo APP). Pesquisadora do Laboratório Multidimensional de Estudos sobre acervos privados e pessoais (LABAPP-UNIRIO). Doutora em Ciência da Informação pelo Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal Fluminense (UFF) com graduação em História e Arquivologia, também pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Atua principalmente nos seguintes temas: gestão de instituições arquivísticas, memória, acervos pessoais, gestão da informação, preservação e conservação de documentos, história e biografia e questões de gênero.

Renato Crivelli Duarte

É doutor e mestre em Ciência da Informação pelo Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da Universidade Estadual Paulista ?Júlio de Mesquita Filho? ? UNESP - Faculdade de Filosofia e Ciências de Marília. Possui graduação em Arquivologia pela mesma instituição. Foi arquivista do Centro de Documentação e Apoio à Pesquisa (CEDAP) da Faculdade de Ciências e Letras de Assis da Universidade Estadual Paulista ?Júlio de Mesquita Filho? ? UNESP no período de 2014 a 2019. Atualmente é professor adjunto no Departamento de Arquivologia da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO) e Professor Permanente junto ao Programa de Pós-Graduação em Gestão de Documentos e Arquivos (PPGARQ), da mesma instituição.. É líder do Grupo de Pesquisa "Acervos Privados e Pessoais: memórias, políticas e patrimônio" (dgp.cnpq.br/dgp/espelhogrupo/2718794724114957), com atuação na linha de pesquisa "Instituições (d)e custódia de arquivos privados e pessoais". Tem experiência na área de Ciência da Informação, com ênfase em Arquivologia, atuando principalmente nos seguintes temas: arquivologia, memória individual e memória coletiva, arquivos pessoais, patrimônio e patrimônio documental e instituições de custódia.

Carolina Gonçalves Alves

Doutora pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (PPCIS UERJ), mestre em Ciências Sociais pelo mesmo programa e graduada em Ciências Sociais pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). É Analista de Documentação e Informação da FGV CPDOC, professora permanente do Programa de Pós-Graduação em História, Política e Bens Culturais da mesma instituição (PPHPBC FGV CPDOC), e atualmente coordena a Documentação (2023). Além disso, é integrante do Comitê Executivo da Rede Arquivos de Mulheres (RAM), fruto de uma parceria entre o CPDOC e o IEB da USP e coordenadora do Núcleo de Estudos de Gênero, Raça e Interseccionalidades (NEGRI) da Escola de Ciências Sociais/CPDOC da Fundação Getúlio Vargas - RJ. Sua atuação está voltada para a área de Sociologia, com ênfase em Sociologia da Cultura, sendo seus principais temas de interesse: raça, gênero, poder e representação. Seu trabalho envolve a organização e gestão de documentos históricos, e dedica-se a refletir sobre a sub-representação de mulheres nas instituições arquivísticas. Suas áreas de pesquisa compreendem a Sociologia, Sociologia da Cultura, Memória e Documentação.

 

 

 

Contato:

Coordenadores do I Seminário Arquivos Pessoais e Sociedade

Patricia Ladeira Penna Macêdo (UNIRIO/UFRN)

Renato Crivelli Duarte (UNIRIO)

Carolina Gonçalves Alves (CPDOC FGV)

 

Secretaria do evento

Rayssa Lisbôa França
Isabela Puppin de Oliveira Ribeiro

 

Designer Gráfico

Hugo Braga de Oliveira

 

Editoração dos Anais

Patricia Ladeira Penna Macêdo

Renato Crivelli Duarte 

Carolina Gonçalves Alves

 

Financiamento

Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro - FAPERJ.