Cinema, Ditadura e Representações do Sertão: Uma Análise de Vidas Secas de Graciliano Ramos e sua Adaptação Fílmica

Cinema, Ditadura e Representações do Sertão: Uma Análise de Vidas Secas de Graciliano Ramos e sua Adaptação Fílmica

• Autor
• Cristiane Maria Da Silva
• Co-autores
• Cristiano Cezar Gomes da Silva , Grace Ane Nunes de Lira
• Resumo

• Este artigo propõe uma análise da obra Vidas Secas, de Graciliano Ramos, e sua adaptação cinematográfica dirigida por Nelson Pereira dos Santos, com o objetivo de compreender os impactos do cinema nacional em períodos de repressão política no Brasil. A pesquisa concentra-se em dois recortes temporais distintos, mas igualmente marcados por autoritarismo: a década de 1930, durante o Estado Novo, e o ano de 1964, com o início da ditadura civil-militar. Publicado em 1938, o romance surge em um contexto de transição entre a República Velha e o governo de Getúlio Vargas, período caracterizado pela centralização do poder e pela criação do Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), responsável pela censura e controle das produções culturais. A obra literária de Graciliano Ramos, ao expor com realismo a miséria, a seca e a exclusão social no sertão nordestino, torna-se um símbolode resistência ao discurso oficial de progresso e ordem. Em 1963, Vidas Secas foi adaptado para o cinema, integrando o movimento do Cinema Novo, que buscava uma estética engajada, voltada para a denúncia das desigualdades sociais do país. A produção fílmica foi concluída pouco antes do golpe de 1964, que instaurou mais de duas décadas de ditadura no Brasil. Nesse contexto, o filme enfrentou resistência do regime, chegando a ter suas cópias recolhidas sob alegações de que apresentava uma imagem negativa do Brasil para o exterior. A censura, nesse caso, novamente agiu como mecanismo de silenciamento das críticas sociais e de tentativa de controle do imaginário coletivo. Tal controle do imaginário é analisado por Sandra Pesavento (2003), ao refletir sobre as formas como o cinema constrói imagens do passado e da sociedade, interferindo diretamente na memória coletiva. A análise da obra em suas duas linguagens — literária e cinematográfica — permite identificar como o sertão nordestino é representado como espaço de sofrimento e resistência, revelando as estruturas de opressão e os efeitos perversos da negligência estatal. A trajetória da família de retirantes, composta por Fabiano, Sinhá Vitória, seus dois filhos e a cachorra Baleia, serve como alegoria da luta pela sobrevivência e da desumanização promovida por um sistema excludente. O filme, ao manter essa narrativa e traduzi-la para o audiovisual, reforça a crítica ao abandono histórico das populações do interior do país e desafia a tentativa de invisibilização imposta pelos regimes autoritários. Neste ponto, autores como Marc Ferro (1992) e Jean- Claude Bernardet (1985) contribuem para entender o cinema como meio de leitura crítica da história, com potencial político e pedagógico. Além disso, Mônica Kornis (2008), em sua obra Cinema, televisão e história, oferece uma reflexão sobre como os meios de comunicação constroem versões do passado e operam como espaços de disputa pela memória e pela representação do real.Dessa forma, o artigo evidencia o papel do cinema como instrumento de memória, denúncia e resistência, destacando a relevância de Vidas Secas enquanto obra atemporal que continua provocando reflexões sobre a realidade brasileira, a censura e a luta por direitos fundamentais.

• Palavras-chave
• Cinema Novo; Ditadura Militar; Graciliano Ramos; Sertão Nordestino; Censura; Vidas Secas.
• Modalidade
• Comunicação oral
• Área Temática
• Campus III