AS CRIANÇAS DO QUILOMBO GAMELEIRO E A PRODUÇÃO DE SUAS INFÂNCIAS CINGIDAS NAS/PELAS RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS

AS CRIANÇAS DO QUILOMBO GAMELEIRO E A PRODUÇÃO DE SUAS INFÂNCIAS CINGIDAS NAS/PELAS RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS

• Autor
• Roseane Abreu Ferreira
• Co-autores
• Maria do Socorro Barbosa Macedo
• Resumo

• No Sertão alagoano, refletir sobre as crianças negras quilombolas a partir do território tem motivado pesquisadores(as) a buscar abordagens filosóficas, antropológicas, sociológicas e geográficas que evidenciem as crianças tecendo suas infâncias. Esse processo revela subjetividades historicamente (in)visibilizadas por meio do viés político e denunciativo inerente ao ato de pesquisar. Embora escassas, pesquisas que adotam a escuta das crianças como metodologia têm construído importantes aprendizagens com e para elas. Esta pesquisa, desenvolvida no âmbito do PIBIC – UNEAL e financiada pela FAPEAL, teve como objetivo compreender como as crianças do Quilombo Gameleiro constroem suas infâncias, considerando os atravessamentos étnico-raciais que conformam seus modos de ser quilombola-criança nos territórios da escola e do quilombo. Por meio das narrativas docentes, compreendeu-se como os percursos formativos contribuem para a construção de um currículo que valorize as diferenças e reconheça múltiplas infâncias. Além disso, analisaram-se práticas crianceiras coletivas, brinquedos, brincadeiras e espaços brincantes. A metodologia baseou-se em abordagem qualitativa, ancorada nos estudos decoloniais e no campo multidisciplinar dos estudos das infâncias, tais como a Sociologia, Geografia e Antropologia da Infância, e em autores como Arroyo (2014, 2018), Dussel (2005), Quijano (2005), Akotirene (2019), Lopes (2006, 2008), Noguera e Alves (2019). A coleta de dados envolveu a triangulação de instrumentos: observação, diário de campo, fotografias, desenhos produzidos pelas crianças e entrevistas narrativas com anciãos e crianças. Os resultados evidenciaram que o racismo estrutural e cotidiano atravessam as vivências infantis desde a tenra idade, configurando uma violência simbólica que ultrapassa gerações (Santiago, 2022). As relações familiares também são permeadas por estereótipos racializados e uma negação da identidade quilombola e racial, muitas vezes uma estratégia de sobrevivência frente a sistemas historicamente marginalizadores, mas também revelou a influência dos padrões da branquitude como métrica de existência. O espaço escolar, apesar de permitir práticas antidiscriminatórias, ainda reproduz manifestações do racismo estrutural e cotidiano nas interações, brincadeiras e práticas pedagógicas. As narrativas docentes revelaram práticas pedagógicas incipientes e a ausência de letramento racial consistente, bem como a carência de formações que incentivem ações antirracistas contínuas. O racismo é frequentemente minimizado, confundido com bullying ou “brincadeiras de mau gosto”, o que contribui para sua naturalização. Apesar desses desafios, as infâncias quilombolas criam modos singulares de habitar a comunidade e a escola, reinventando espaços e práticas, injetando na cultura do lugar, contribuições de sua cultura infantil. Destacou-se também o uso crescente de aparelhos tecnológicos (celulares) nos momentos de ócio entre as crianças, que tem contribuído para o enfraquecimento das trocas presenciais e dos encontros comunitários, essenciais para a construção coletiva das infâncias quilombolas. Diante disso, a pesquisa reafirma a urgência de repensar as práticas escolares com compromisso ético, político e estético pelas infâncias negras e quilombolas, construindo uma educação que reconheça e valorize saberes ancestrais, territórios e modos de ser, brincar, imaginar e sonhar dessas crianças. Que a escuta atenta das infâncias, com suas poéticas, resistências e singularidades, oriente a construção de uma escola antirracista, decolonial, inclusiva e comprometida com a justiça social.

• Palavras-chave
• Crianças; Infâncias quilombolas; Sertão; Pedagogia Decolonial.
• Modalidade
• Comunicação oral
• Área Temática
• Campus II