CONTRIBUIÇÕES DA METODOLOGIA DA RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS PARA O ENSINO DE ESTATÍSTICA NA EJA DO ENSINO MÉDIO
SILVA, Giane Correia (UEPG)
gianecorreia@hotmail.com
SANTOS JUNIOR, Guataçara dos (UTFPR)
guata@utfpr.edu.br
Eixo: 5 - Ensino de Ciências e Matemática
Apesar do crescente desenvolvimento da Educação Estatística como área de pesquisa, é comum ouvir as dificuldades relatadas pelos professores da Educação Básica no tratamento e interpretação de dados em diferentes contextos.
Como o ensino de Estatística está proposto na área da matemática para toda Educação Básica, o desenvolvimento nos estudantes do raciocínio estatístico, combinatório e probabilístico deve se dar ao longo de toda Educação Básica. Se o professor de Matemática trabalha os conteúdos propostos para o Ensino Fundamental, é de se esperar que no Ensino Médio o aluno tenha desenvolvido as habilidades básicas para compreensão e análise de informações e, assim, poderá ampliar o conjunto de habilidades adquiridas com o aprofundamento do estudo da Estatística, da Contagem e da Probabilidade.
Nas orientações dos Parâmetros Curriculares Nacionais (+) do Ensino Médio – PCNEM (+), em vigência até 2017, o ponto de partida indicado para o processo de ensino e aprendizagem de matemática era a resolução de problemas, ou seja, indicava-se esta metodologia como um organizador do processo de ensino, por meio do qual se estimula o estudante a compreender os dados, elaborar estratégias, constituir relações e socializar os resultados, a fim de que ele aprimore o uso das técnicas já conhecidas. (ZUFFI; ONUCHIC, 2007).
Da mesma forma na Base Nacional Comum Curricular – BNCC, para o Ensino Médio, aprovada em 14 de dezembro de 2018 propõe que a resolução de problemas preconize como ponto central para que o estudante consiga formular e resolver problemas em diversos contextos utilizando diversos recursos matemáticos e com maior autonomia. Além disso, o estudante precisa desenvolver “habilidades relativas aos processos de investigação, de construção de modelos e de resolução de problemas”. (BRASIL, 2018, p. 529).
A metodologia da resolução de problemas, quando bem utilizada em qualquer grau e/ou modalidade de ensino, pode levar o aluno a adquirir novos conhecimentos matemáticos desenvolvendo a sua capacidade de análise e crítica e, também, a transformar a relação professor-aluno, aluno-aluno e aluno-conhecimento.
Nessa perspectiva, ao relacionar a metodologia da resolução de problemas com o ensino de Estatística para a Educação de Jovens e Adultos – EJA, pode-se potencializar a aprendizagem dos alunos e contribuir para que aconteça uma aprendizagem significativa, necessária à formação democrática de sujeitos ativos, críticos e criativos, considerando, em especial, a clientela específica da EJA.
Os aportes teóricos da metodologia da resolução de problemas para o ensino da Matemática foram fundamentais para a elaboração e aplicação de uma proposta para o ensino de Estatística no Ensino Médio, voltada à atuação do professor de Matemática na EJA.
Segundo Onuchic (1999), o primeiro passo para se trabalhar com a metodologia da resolução de problemas é a escolha da situação-problema, cujo tema precisa ser do cotidiano do aluno para que ele se sinta familiarizado.
A proposta recomendada por Onuchic (1999, p. 216-217) para a metodologia da resolução de problemas compreende sete etapas, as quais são descritas na sequência. A primeira etapa consiste em formar grupos de alunos na classe e entregar uma atividade. Na segunda etapa, o papel do professor muda de comunicador do conhecimento para observador, organizador, consultor, mediador, incentivador da aprendizagem.
Na terceira etapa, o professor pode colocar todas as respostas dos alunos no quadro, tanto os resultados certos como os errados, para que toda a turma observe as estratégias utilizadas na tentativa de resolução do problema proposto. Na quarta etapa, o professor envolve todos os alunos na discussão sobre as resoluções dos grupos, a fim de que expliquem e defendam a resolução escolhida.
Na quinta etapa é feita a análise dos resultados. É nesse momento que as dificuldades identificadas pelo professor são sanadas. A sexta etapa acontece depois de tirar todas as dúvidas que surgiram durante a quinta etapa e juntamente com os alunos busca-se um consenso para o resultado. Por fim, na sétima etapa é realizada a formalização do trabalho realizado em conjunto.
Para que aconteça a formalização dos conceitos, o professor e os alunos precisam desempenhar um trabalho conjunto, pois “é feita uma síntese do que se objetivava aprender a partir do problema dado. São colocadas as devidas definições, identificadas as propriedades e feita as demonstrações”. (ONUCHIC, 1999, p. 217).
O objetivo geral da pesquisa apresentada neste texto foi analisar as possíveis contribuições da metodologia da resolução de problemas para o ensino de Estatística, na EJA, voltadas ao ensino de Matemática no Ensino Médio. E, ainda, disponibilizar aos professores um material de apoio que contemplasse as especificidades do ensino dos conceitos estatísticos definidos para o Ensino Médio, na EJA.
O referencial teórico da pesquisa de Mestrado foi realizado a partir das leituras de autores de referência quanto a metodologia da resolução de problemas (Zuffi; Onuchic, 2007; Onuchic, 1999), análise dos documentos legais referente as Políticas Educacionais e a Legislação Nacional para EJA, e o foco da área da Matemática foi o ensino e a aprendizagem dos conteúdos previsto para o ensino de Estatística.
A pesquisa foi realizada em duas turmas da EJA do Ensino Médio de escolas estaduais de Ponta Grossa, e os sujeitos participantes foram estudantes da EJA que estavam frequentando as aulas de matemática.
Percurso Metodológico
A pesquisa foi realizada numa abordagem qualitativa de cunho interpretativo e os procedimentos escolhidos foram análise e interpretação das ações desencadeadas nas salas de aula, por meio da aplicação de uma situação de ensino (SE) de Estatística, voltada para EJA do Ensino Médio, da aplicação de um questionário e da observação participante.
O levantamento de dados, coletados por meio de um questionário aplicado aos alunos, foi muito importante, pois apontou o perfil do aluno e foi a partir destas informações que a sequência de ensino foi elaborada.
Com o diagnóstico realizado nas duas turmas, foram selecionados dois temas de reportagens voltadas aos consumidores publicados na revista Proteste. A reportagem sobre Hambúrguer leve (no peso), publicada em outubro de 2015 (p. 24-25) e a reportagem sobre Feijões cariocas: sabor e qualidade, publicada em fevereiro de 2015 (p. 24-26). Os temas foram escolhidos por tratarem de questões relacionadas à alimentação das famílias dos alunos participantes da pesquisa.
Os conteúdos de Estatística contemplados nas SE propostas aos alunos estão de acordo com os documentos oficiais vigentes. São eles: a) diferenciar variáveis qualitativas de quantitativas; b) conceituar dado estatístico qualitativo e quantitativo; c) coletar e organizar dados estatísticos secundários a partir da situação problema apresentada; d) apresentar dados coletados em tabela simples e dupla entrada; e) analisar gráficos (colunas simples e colunas justapostas) contidos na situação-problema apresentada; f) utilizar as medidas de tendência central (média, moda, mediana) para análise de dados quantitativos.
Para análise dos dados coletados foram levados em consideração as anotações da pesquisadora e as produções dos alunos. A observação participante foi realizada durante a aplicação da SE, que consistiu no olhar da pesquisadora a respeito das situações ocorridas durante a aplicação. Para registro dessa observação participante elaborou-se o diário de campo com anotações fiéis dos acontecimentos. A Análise textual discursiva de Moraes e Galiazzi (2017) foi o método utilizado na análise dos dados.
Resultados
Na Análise Textual Discursiva – ATD, as produções dos alunos realizadas nas atividades propostas nas SE, os registros no diário de campo e os registros fotográficos deram origem a duas categorias. A primeira foi criada a priori, conforme as etapas da metodologia da resolução de problemas definidas por Onuchic (1999). Esta categoria foi denominada de “Utilização da metodologia da resolução de problemas para viabilizar o ensino e a aprendizagem de Estatística” e nela estão contidas cinco unidades de análise: trabalho em grupo, discussão entre os pares, intervenção do professor, autonomia do aluno para argumentar e formalização do conceito. A segunda categoria, denominada “Limitações na aplicação da metodologia da resolução de problemas na EJA”, foi criada a posteriori e emergiu dos dados empíricos. Ela contém as seguintes unidades de análise: conhecimento prévio, passividade dos alunos e assiduidade.
Conclusões
A análise dos resultados, a partir da ATD, permite apontar os seguintes achados da pesquisa:
- que o trabalho em grupo utilizado na metodologia da resolução de problemas para o ensino de Matemática propicia uma interação entre os alunos e gera discussões a respeito do conteúdo matemático e estatístico em estudo;
- que a metodologia da resolução de problemas utilizada na SE proporcionou aos alunos liberdade para construção dos argumentos e das respostas às atividades propostas, o que pode contribuir para o desenvolvimento da autonomia e criticidade dos estudantes;
- que a formalização dos conceitos pelo professor é de extrema relevância porque juntos, professor e alunos, discutem as tentativas de resolução do problema proposto de modo a construir o conhecimento dos conceitos matemáticos e estatísticos em estudo;
- que uma das limitações percebidas no desenvolvimento das SE foi quanto aos conhecimentos prévios para compreensão dos conceitos estatísticos propostos, o que exige que o professor esteja atento para suprir a carência de conhecimento de cada aluno em particular;
Assim, conclui-se que a SE, pautada na metodologia da resolução de problemas, contribuiu para compreensão dos conteúdos estatísticos e, consequentemente, para o desenvolvimento de competências e habilidades nos estudantes das turmas que participaram da pesquisa.
Referências
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria da Educação Média e Tecnológica. Parâmetros Curriculares Nacionais + (PCN+) - ciências da natureza, matemática e suas tecnologias. Brasília: MEC, 2002.
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria da Educação Básica. Base nacional comum curricular. Brasília, 2018. Disponível em: <http://basenacionalcomum.mec.gov.br/bncc-ensino-medio>. Acesso em: 17 dez. 2019.
MORAES, Roque; GALIAZZI, Maria do Carmo. Análise Textual Discursiva. 3ª ed. Editora Unijuí, Ijuí, 2016.
PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Diretrizes Curriculares da Educação de Jovens e Adultos. Curitiba: SEED, 2006.
ZUFFI, Edna Maura; ONUCHIC, Lourdes de la Rosa. O ensino-aprendizagem de matemática através da resolução de problemas e os processos cognitivos superiores. Revista Iberoamericana de Educação Matemática, Espanha, n. 11, p. 79-97, set. 2007.
Comissão Organizadora
Érico Ribas Machado
Comissão Científica