PESQUISAS EM EDUCAÇÃO NO BRASIL: INTELECTUAIS EM PERSPECTIVA (1973-2017)
Dyeinne Cristina Tomé – UEPG
1- História e Historiografia da Educação (GEPHIED)
RESUMO:
O objetivo deste estudo é mapear as produções acadêmicas, teses e dissertações, nos programas de pós-graduação em educação, de instituições públicas e privadas em âmbito nacional, sobre a temática intelectuais, com foco nos estudos sobre intelectuais femininas. A finalidade da investigação é elaborar um estado do conhecimento, acerca das pesquisas desenvolvidas entre os anos de 1973 a 2017. De acordo com Ferreira (2002), nos últimos anos no Brasil foram produzidas uma quantidade expressiva de pesquisas que se caracterizam por produzirem uma investigação sobre o estado do conhecimento, estado da arte ou revisão de literatura, sobre determinado tema. Tal modalidade de caráter bibliográfico, configura-se por trazer como proposta investigativa o levantamento da produção acadêmica realizada em diversos campos do conhecimento. Correspondendo desta forma, a uma importante etapa da pesquisa, pois é por meio dela que o pesquisador tem condições de conhecer na totalidade os estudos sobre sua temática, podendo traçar assim, os seus objetivos de análise. Para este levantamento, utilizamos a Plataforma Sucupira como principal fonte de busca, que nos possibilitou uma verificação apurada dos programas de pós-graduação por Estados brasileiros. Para a análise dos dados levantados utilizamos como fundamentação teórica e metodológica autores que discutem a temática Intelectuais, bem como, o estado do conhecimento e da arte.
Antes de adentrarmos no debate propostos é necessário esclarecermos alguns aspectos acerca do tema. O conceito de intelectual, do modo como é entendido na atualidade, teve sua gênese no final do século XIX na França, com o desfecho do acontecimento político que ficou conhecido como Caso Dreyfus. Após tal acontecimento o uso da palavra intelectual passou a se referir, ao sujeito que ocupa uma posição de destaque enquanto agente interprete das questões sociais e dos direitos universais, por meio de uma atuação na esfera pública. Tendo isso em vista, os lugares ocupados pelos intelectuais dentro da sociedade proporcionaram a disseminação de representações virtuosas sobre esses agentes no final do século XIX e início do século XX (SILVA, 2005).
O estudo dos intelectuais, enquanto figuras de saber que atuam em momentos e espaços, e, por razões específicas em favor de causas que se pretendiam universais, segundo Silva (2003), nas últimas duas décadas representou um procurado campo de estudo e pesquisa. Porém, devido à falta de uma sistematização que favorecesse sua análise, ela se impõe como objeto de estudo inda ambíguo. Desse modo, sem um campo definido, ela acaba oscilando entre a Sociologia, a História e até mesmo uma biografia dos intelectuais, e por outro lado, entre uma análise das obras e das ideias. Em vista de tal colocação é possível considerar que os estudos sobre intelectuais, com base em seus domínios e alcances, é, por primazia, pluridisciplinar, tendo assim como principal pressuposto o ponto de vista sociológico, histórico e filosófico. Desta forma, para avaliar um estudo dentro desse campo do conhecimento devemos compreender e considerar todos os espaços de atuação. Contudo, tendo em vista a variedade de possibilidades de abordagens para o estudo dentro na perspectiva dos intelectuais, esta pesquisa busca como delimitação para sua análise e levantamento dos dados, os trabalhos de pós-graduação produzidos dentro dos programas de educação.
Tendo em vista, consideramos a relevância da realização do estado do conhecimento para o desenvolvimento de uma pesquisa em determinada área do conhecimento, já que essa etapa da pesquisa, segundo Romanowki e Ens (2006) pode representar um importante aporte, pois, além de ajudar a identificar as lacunas de uma investigação, pode apontar as contribuições da pesquisa propostas para o campo do conhecimento em que está inserida. Apesar desta importância, verificamos que há uma carência de estudos que se propõe a realizar um balanço ou um mapeamento acerca das pesquisas já realizados na perspectiva de estudo sobre os intelectuais, dentro do campo da educação. Tendo isso em vista, é possível sustentar e justificar os motivos de conhecer o que já foi produzido sobre o tema, identificando como isso, suas possíveis brechas investigativas. Como nos demonstra Ferreira (2002) torna-se necessário dar conta de determinado saber e de divulgá-lo para a sociedade, pois podem auxiliar pesquisas futuras.
No levantamento realizado por meio da Plataforma Sucupira, nos cursos de pós-graduação – mestrado e doutorado – em educação, foram mapeadas 170 dissertações e 72 teses sobre intelectuais, defendidas entre os anos de 1973 a 2017 em diferentes instituições brasileiras, somando 242 pesquisas registradas no período. No entanto, esse número corresponde apenas aos trabalhos com acesso online disponibilizados nos sites das instituições, podendo assim, ter pesquisas realizadas dentro da temática, mas que, por não estarem disponíveis no formato online, não foram contabilizadas. Embora tais teses e dissertações sobre o tema possa parecer pouco expressivas em termos numéricos, apesar dos dados revelarem um gradativo crescimento no interesse pela temática a partir de 2008, chegando ao seu ponto máximo em 2014, elas são relevantes do ponto de vista de seus conteúdos. A análise dessas pesquisas realizadas revela importantes evidências sobre o campo intelectual no Brasil e atuação de seus agentes na esfera pública e política em diferentes períodos. O crescimento observado pode favorecer e estimular a realização de mais pesquisas no campo da educação, tendo em vista que grande parte dos intelectuais considerados por essas teses e dissertações atuavam ou faziam parte, enquanto figuras representativas do magistério, pois além da vida pública, muito deles eram educadores.
Diante desses números, Nascimento (2006) esclarece que as escolhas de temas de pesquisas nos cursos de pós-graduação em determinados períodos, para algumas temáticas avançaram mais que outras. Apesar do relativo aumento observado nos últimos anos, de modo geral, a baixa produção acadêmica de trabalhos dentro da temática intelectuais pode estar relacionada a produção do conhecimento gerado dentro dos próprios programas de pós-graduação em educação, que cada vez mais tem valorizado ou optado por desenvolver trabalhos dentro das linhas de pesquisas voltadas para a formação e para a prática pedagógica. Além disso, observamos que a grande maioria dos trabalhos produzidos sobre a temática intelectuais está presente no Sudeste do país. Isso ocorre, pois é nesta região onde está concentrada o maior número de instituições brasileiras avaliadas e reconhecidas pela Capes. De modo inverso ocorrem com as regiões Norte e Centro-Oeste do pais, onde o número de instituições com cursos de pós-graduação em educação é bastante ínfimo, sobretudo a região Norte, onde nenhum trabalho sobre o tema foi encontrado.
Se pensarmos que a produção acadêmica realizada sobre a temática em questão é ainda é bastante irrisória, temos uma diminuição ainda mais significativa se considerarmos as teses e dissertação realizadas tendo em vista a temática intelectuais femininas. Como bem sabemos e conforme relata Perrot (1998) “O acesso das mulheres ao poder político sempre e por toda parte foi difícil” (p.118). Excluídas, durante muito tempo da vida pública, acreditava-se que elas haviam sido criadas para a família e para o universo doméstico, “Mãe e dona de casa, esta é a sua vocação [...]” (p. 9). Foi somente a partir dos séculos XIX e XX, que ocorrem mudanças significativas, segundo Roncaglio (1994), na esfera pública e privada que propiciaram a inserção feminina nos espaços públicos e no direito ao exercício da cidadania. Além do distanciamento das mulheres dos espaços públicos e da vida política, há também uma grande ausência e um grande silenciamento embutidos aos documentos relacionados as mulheres, fontes de investigação, fundamentais para as pesquisas realizadas no campo da História e Historiografia. Com base nesses muitos anos de absentismo, podemos justificar o reduzido número de pesquisas produzidas sobre intelectuais femininas. De acordo com o estado do conhecimento realizado, temos 19 dissertações e 5 teses, totalizando 24 produções realizadas entre os anos de 1973 a 2017. Se comparado com o total de 242 trabalhos sobre intelectuais menos de 10% são sobre mulheres. Deste modo, a produção acadêmica aponta que durante muito tempo as mulheres estiveram fora da vida social e da produção de conhecimento. Assim, observamos que ainda há uma grande necessidade de intensificação de pesquisas nesse campo, pois a produção científica realizada sobre a temática ainda corresponde a uma pequena parte dos estudos desenvolvidas nos programas, sobretudo, quando analisamos investigações sobre intelectuais femininas.
Com isso, consideramos que o mapeamento e análise da produção acadêmica dos cursos de Pós-Graduação em Educação por regiões do país, nos permitiu compreender o alcance, as lacunas e os limites sobre o tema intelectuais. Deste modo, consideramos que o estado do conhecimento corresponde a uma importante ferramenta de pesquisa que dará suporte e confiança para que o pesquisador investigue qualquer temática dentro se sua área do conhecimento. Deste modo, cabe destacar que as reflexões aqui apresentadas, só foram possíveis devido ao estado do conhecimento realizado. Os dados coletados por esse tipo de levantamento nos permitiram observar as carências e as contribuições expressas pelas pesquisas já realizadas e, com estas poderão auxiliar as que poderão vir a se realizar.
Palavras-chave: Intelectuais; Educação; Pesquisa; Estado do conhecimento.
Comissão Organizadora
Érico Ribas Machado
Comissão Científica