A IMPORTÂNCIA DAS RELAÇÕES SOCIAIS PARA CRIANÇAS COM NECESSIDADES EDUCACIONAIS ESPECIAIS INCLUSAS NO ENSINO COMUM

  • Autor
  • Marieli Zviezykoski
  • Resumo
  •  

    A IMPORTÂNCIA DAS RELAÇÕES SOCIAIS PARA CRIANÇAS COM NECESSIDADES EDUCACIONAIS ESPECIAIS INCLUSAS NO ENSINO COMUM

    Marieli Zviezykoski- UNICENTRO. E-mail:Marielizviezykoski@hotmail.com

    Eixo temático: Educação Especial

     RESUMO

    Este texto objetiva destacar a importância das relações sociais no ensino de crianças com necessidades especiais inclusas no ensino comum, trata-se de um trabalho de base qualitativa bibliográfica partindo das proposições teóricas de Lev Vygotski.

    PALAVRAS CHAVES: Crianças especiais, relações sociais, ensino comum

    INTRODUÇÃO

                As leituras de Lev Vygotski apontam que o homem se apropria dos símbolos culturais por meio de trocas com outros membros da sociedade, assim se apropria dos aportes culturais produzidos ao longo do tempo.

    Portanto com bases nas leituras acreditamos que as crianças com necessidades educacionais especiais tem maiores chances de obter sucesso quando recebem seu ensino na rede comum, levando em consideração que quanto mais informações culturais essa criança receber, maior será seu desenvolvimento cognitivo. Este trabalho resulta da conclusão da disciplina de fundamentos e métodos da pesquisa em educação do programa de mestrado da UNICENTRO.

    REVISÃO DE LITERATURA

    Queremos iniciar nossa discussão sobre a inclusão se apropriando da concepção teórica de Lev Vigotski, suas proposições tem por base os “aportes teóricos da cultura, interação social e na dimensão histórica do desenvolvimento mental”.

                            Dentro da perspectiva histórico cultural podemos observar que as relações sociais tem fundamental importância na mediação de signos culturais para os indivíduos mais jovens;

    Vigotski acredita que a internalização dos sistemas de signos produzidos culturalmente provoca transformações comportamentais e estabelece um elo de ligação entre as formas iniciais e tardias do desenvolvimento individual. (COLE, et. Al, 1991, p.9)

    Dentro dessa discussão o autor defende que certas “categorias relacionadas as funções psicológicas superiores: atenção voluntária, memória lógica, pensamento verbal e conceptual, emoções complexas, não poderiam emergir e se constituir no processo de desenvolvimento sem o aporte construtivo das interações sociais”. (IVIC, 2010, p.17).

                            Koll (2010) “aponta que um indivíduo que vive em num grupo cultural isolado que não dispõem de um sistema de escrita. Se continuar isolado nesse meio cultural que desconhece a escrita jamais será alfabetizado.” Isso se deve ao fato de que o ambiente não propicia as condições necessárias para o desenvolvimento interno do indivíduo relacionado a aquisição da leitura e da escrita, no entanto se esse vir a deixar esse grupo de origem e inserir-se em uma comunidade letrada poderia ser submetido a um processo de alfabetização e seu desenvolvimento seria alterado.

    Pensando numa suposição mais extrema uma criança normal que crescesse num ambiente exclusivamente formado por surdos mudos não desenvolveria a linguagem oral, mesmo que tivesse todos os requisitos inatos necessários para isso, fenômeno semelhante ocorre com os vários casos das chamadas “crianças selvagens” que são crianças encontradas em isolamento, sem contato com outros seres humanos, mesmo em idade superior a aquisição da linguagem, não haviam aprendido a falar. O desenvolvimento fica impedido de ocorrer na falta de situações propicias de aprendizagem (KOLL, 2010, p.59)

    Para ilustrar o parágrafo anterior utilizamos os autores Pereira e Galuch (2012) que trazem o exemplo de menino selvagem de Aveyron ou menino Lobo, nos anos de 1970 foi encontrado na floresta do sul da França um garoto com idade aproximada de 11 anos; ele demostrava comportamentos atípicos de seres humanos, não sabia andar, falar ou expressar-se de forma compreensiva, o que demostrava seu ínfimo contato com a raça humana.

     Jean Marc Gaspard Itard dedicou boa parte de seu tempo em defender sua hipótese de que o menino poderia ser educado e reintegrado na sociedade. O processo de ensino dirigido ao menino consistia basicamente em promover situações que despertasse o interesse do convívio social, utilização da fala e operações mentais, bem como a sensibilidade nervosa. (Op.cit, 2012)

    Victor não vivenciou o período pré-escolar, ou seja, o momento no curso do desenvolvimento infantil em que as crianças se abrem ao mundo, ocupando um espaço social definido segundo as relações que estabelecem com os seus familiares e outros indivíduos. Nessa fase, a criança ultrapassa a manipulação de objetos e passa a assimilar a realidade que a circunda, reproduzindo, por meio de atividades e jogos, as ações humanas. (GOMES E SILVA, 2012, p.566)

                            Considera-se portanto que os primeiros anos de vida de uma criança são primordiais para a sua aprendizagem. “Para o desenvolvimento da criança, em particular na primeira infância, os fatores mais importantes são as interações assimétricas, isto é, as interações com os adultos, portadores de todas as mensagens da cultura”. (IVIC, 2010 p.16).

    Portanto para Koll (2010) é a relação com os outros que possibilita o despertar dos processos de desenvolvimento interno. Por ventura defendemos que as escolas criem espaços inclusivos onde crianças que possuem limitações aprendam por meio do contato com aquelas que não possuem, sendo assim, “O currículo deve ser adaptado às necessidades das crianças, e não vice versa. Escolas deve, portanto, prover oportunidades curriculares que sejam apropriadas a criança com habilidades e interesses diferentes.” (UNESCO, 1994, p. 8)

    Com esse redimensionamento dá para apontar formas de olhar a diversidade e perceber a pessoa deficiente a fim de valorizá-la como pessoa, ministrando uma educação adequada a sua deficiência, destacando os “caminhos alternativos” e “recursos especiais”, com a intenção de provocar mudanças. (BENTES, 2010, p.86) 

    Sendo assim a função pedagógica da escola comum diante do ensino de crianças com necessidades educacionais especiais deve centrar na potencialidade dos alunos e não no seu déficit. Bentes (2010, p.86) salienta que na perspectiva de Vigostski;

     Mais que apontar o retardo mental da pessoa, é necessário conhecer suas manifestações no ambiente, suas interações com outras crianças, pois estas são básicas para redimensionar a sua organização sócio psicológica, como, por exemplo, se ela faz uso de instrumentos psicológicos e culturais disponíveis no ambiente social. Para o autor, era de fundamental importância compreender o funcionamento psíquico, seu desenvolvimento para o entendimento da estrutura complexa da deficiência da criança.  

    Sob esta perspectiva entende-se que a criança mesmo possuindo algum tipo de limitação apresenta um potencial cognitivo que precisa ser explorado pelo professor para compreender como o aluno se apropria do conhecimento. Ribeiro (2010, p.20) alerta que “a educação deve permitir aos estudantes a capacidade de julgar, de tornarem-se autoconfiante, e capazes de trabalharem bem uns com os outros.” 

     Quando se concebe o homem como um campo aberto; pelo trabalho- a infinitas possibilidades, dá ênfase à capacidade humana de transformar sua própria realidade, neste sentido, a deficiência passa a ter como referencial não uma forma ideal abstrata e inatingível, mas uma possibilidade que pode e deve ser objetivamente construída e cuja realização transcende o indivíduo, configurando uma responsabilidade que se estende à sociedade na qual ele se encontra integrado. (BARROCO, et. al, 2012, p.25)

                            Nas palavras de Vigotski 1997 o autor aponta que por meio do desenvolvimento cultural é possível compensar as insuficiências, ou seja, deve-se elaborar ferramentas e instrumentos que possibilitem a realização das necessidades e capacidades humanas, no desenvolvimento humano de pessoas com deficiência. 

    Para Bentes (2010) os pressupostos teóricos de Vigotski não se centram nas especificidades da deficiência e nos déficits, e sim no seu processo de desenvolvimento que luta para vencer os obstáculos causados pela deficiência, a exemplo disso, na educação de um indivíduo cego o processo de ensino não deve incidir sobre a falta de visão, e sim na forma de suprir essa falta para que a criança aprenda. “O defeito age como um incentivo para aumentar o desenvolvimento de outras funções no organismo; ele ativa, desperta o organismo para redobrar atividade, que compensará o defeito e superará a dificuldade”. (VIGOTSKI apud COSTA. 2006, p.2)

    Vigotski (1989, p. 03) apud Bentes (2010, p.87) defendia a tese de que “a criança, cujo desenvolvimento foi complicado por uma deficiência, não é menos desenvolvida que seus contemporâneos normais, é uma criança, mas desenvolvida de outro modo”.

    CONCLUSÃO

    Concluímos que as relações interpessoais tem uma contribuição relevante para o desenvolvimento humano. Principalmente daquelas crianças que apresentam uma forma diferente de aprendizagem.

    Durante um longo período de tempo não se havia preocupação em educar essas crianças, desconsiderando-se seu potencial cognitivo. Lev Vigotski demonstrou grande interesse em desvendar o desenvolvimento humano e dedicou parte de seus estudos na compreensão do funcionamento de pessoas com deficiência intelectual, surdos e cegos. Seus estudos demostraram que o desenvolvimento humano só é possível partindo de trocas de experiências entre os homens e sua cultura.

    Sendo assim as pessoas mais experientes são mediadores dos símbolos culturais as novas gerações, a linguagem é um exemplo dessa troca. Portanto somente com o intercâmbio cultural que as crianças desenvolvem o pensamento lógico, concentração, atenção entre outras funções psicológicas superiores. Sendo o ideal seria que crianças que possuem deficiências frequentem a escola comum, pois este é um ambiente muito rico.

    REFERENCIAS

    BARROCO, S. M. S; Leonardo T. S. N; Silva. A. S. T. Educação especial e teoria histórico cultural : Em defesa da humanização do homem. Maringá: Eduem, 2012

    BARROCO, S.M. A educação especial do novo homem soviético e a psicologia de lev Vigotski: implicações e para a psicologia e educação atual. Tese doutorado. Universidade estadual paulista: Araraquara, 2007

    BENTES O, N. Vigotski a educação especial : Notas sobre suas contribuições. Universidade do Estado do Pará, 25/09/2010

    COLE, M. Et.al. A formação Social da mente, Vygotski. L.S. Livraria Martins.:  4 ed. São Paulo,  1991 

    FÁVERO, E. A. G; Pantoja M. D. L; Mantoan E. T. M. Atendimento educacional especializado. São Paulo: MEC/SEESP, 2007

    Ivan, I; C.P.E. Lev Semionovich Vygotsky. Recife: Fundação Joaquim Nabuco. Massagana, 2010 ?

    KOLL, O. M. Vygotsky: Aprendizado e desenvolvimento:  Um processo sócio-histórico. São Paulo: Scipione, 2010.

    PEREIRA, A.M. Tatiane; GALUCH B.T. Maria. O garoto Selvagem: A importância das relações sociais e da educação no processo de desenvolvimento humano. Perspectiva: Florianóplolis, v.30, nº 2, maio, agosto de 2012. Disponível em: O menino selvagem. file:///C:/Users/usuario/Downloads/19483-89173-2-PB.pdf

     

     

     

  • Palavras-chave
  • Crianças especiais, Relações sociais, Ensino comum
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