A ELABORAÇÃO DE CHARGE COMO ESTRATÉGIA NO ENSINO DE GEOGRAFIA

  • Autor
  • Bethânia Vernaschi de Oliveira
  • Co-autores
  • Lucilia Vernaschi de Oliveira , Solange Franci Raimundo Yaegashi
  • Resumo
  •  

    A ELABORAÇÃO DE CHARGE COMO ESTRATÉGIA NO ENSINO DE GEOGRAFIA

     

    Bethânia Vernaschi de Oliveira (Graduanda/UNICESUMAR)

    bth.net@outlook.com

     

    LuciliaVernaschi de Oliveira (Doutoranda/UEM)

    luvernaschi@gmail.com

     

    Solange Franci Raimundo Yaegashi (Orientadora/UEM)

    solangefry@gmail.com

     

    Eixo temático: Formação de Professores.

     

    RESUMO

    O presente texto trata-se de uma atividade realizada com estudantes de uma turma do 1º ano do Ensino Médio de um colégio estadual na cidade de Maringá/PR, durante o estágio supervisionado do 4º ano do curso de licenciatura em Geografia, da Universidade Estadual de Maringá, no ano letivo de 2018. Nosso objetivo foi utilizar a produção de charge como estratégia de ensino e aprendizagem, com o intuito de fortalecer e explorar o posicionamento crítico, a criatividade e a interpretação de textos. A atividade consistiu em selecionar notícias, em fontes confiáveis, com temáticas sobre a poluição hídrica, distribuir entre grupos de alunos e a partir do tema de cada notícia, produzir uma charge. Como referencial teórico, utilizamos, principalmente, pesquisas sobre o uso da charge em sala de aula fundamentadas pelo viés crítico do conhecimento. Os resultados obtidos apontam que a charge é um eficaz recurso para ser trabalhado em sala de aula, pois ela exige que o aluno exercite sua criticidade tanto para produzi-la, quanto para interpretá-la. Em relação à experiência adquirida no estágio, foi de suma importância, pois a relação teoria e prática possibilitou que executássemos atividades que contribuíram para criação de novas ideias a serem desenvolvidas futuramente, no exercício de nossa profissão.

    Palavras-Chave: produção de charges; práticas pedagógicas; Geografia, poluição hídrica.

                                                                                                                                                    

    INTRODUÇÃO

     

    De acordo com dados oficiais das avaliações externas da Educação Básica e das próprias queixas de professores desse segmento de ensino, os estudantes brasileiros têm apresentado dificuldades nas habilidades de leitura e compreensão textual, o que tem afetado todas as áreas que compõem o currículo escolar, inclusive a Geografia. Dentre vários aspectos, esse fato pode ser decorrente de práticas pedagógicas docentes muitas vezes descontextualizadas e mecânicas.

    Desta forma, nosso estudo se justifica pela necessidade de se instrumentalizar o professor da Educação Básica em sua prática educativa utilizando o gênero textual charge. A escolha da charge se deu também pelo fato deste gênero textual requerer do aluno um posicionamento crítico, o que é de fundamental importância para o ensino e aprendizagem da Geografia.

    A Geografia Crítica surge na década de 1970, e essa tinha como objetivo compreender as relações entre a sociedade e a natureza, sendo assim, não cabia mais à Geografia tratar apenas de aspectos físicos, era preciso que ela abordasse também aspectos humanos, inter-relacionando-os. A partir daí os professores passam a ter a responsabilidade de ensinar os alunos de forma crítica, para que eles possam, por si só, refletir sobre a sociedade em que vivem (LACOSTE, 2012).

    Nosso objetivo foi analisar a produção de charges como estratégia de ensino e aprendizagem de conteúdos da Geografia, com o intuito de fortalecer e explorar o posicionamento crítico dos alunos quanto à questão da poluição hídrica, tão em voga na atualidade e cujo estudo e discussão se tornam indispensáveis.

     

    A PRODUÇÃO DE CHARGE COM BASE EM NOTÍCIAS

     

                De acordo com Liebel (2010, p. 183), a charge “[...] é um desenho humorístico que manifesta crítica, sátira ou ironia a determinada situação, acontecimento ou personagem, e sua compreensão depende do reconhecimento destes elementos”. É comum encontrarmos charges em jornais, que são fontes de notícias, sendo assim, podemos associá-las a acontecimentos recentes e a diferentes áreas de ensino, como a Geografia.

                Em relação ao ensino da Geografia, Roos e Lindino (2013, p. 99), afirmam que a charge:

               

    [...] apresenta-se datada e localizada geograficamente. Ela é um gênero discursivo que tem a função de elaborar e explicitar eventuais ocorrências sociais, com uma dosagem de crítica sobre os fatos e os acontecimentos do mundo atual. A utilização didática da charge em sala de aula configura-se como abordagem crítica do conteúdo, proporcionando aos alunos meios para a compreensão dos conceitos geográficos, de modo a estimular a visualização pormenorizada dos fatos.

     

    Para a realização da atividade de produção de charges, primeiramente, selecionamos notícias relacionadas à poluição hídrica, tema por nós trabalhado em sala de aula. A escolha do gênero notícia se deu pelo fato de sua estrutura ser objetiva e direta e o seu conteúdo contextualizado, o que facilita a compreensão do assunto nela tratado, pois contém informações que respondem as seguintes questões: O que? Como? Quando? Onde? Por quê? Quem? Além disso, assim como as charges, apresentam temas atuais.

                Foram escolhidas dez notícias retiradas de fontes online como a Revista Exame, BBC News, Época Negócios, Revista Veja, entre outras. Após a seleção do material, já em sala de aula pedimos aos alunos que se organizassem em grupos, e então distribuímos uma notícia para cada grupo. O comando dado para a realização do trabalho foi para que os estudantes lessem a notícia, discutissem entre si, elaborassem um pequeno texto explicando o que havia sido lido, e por fim, criassem uma charge baseada no que a notícia falava a respeito da poluição hídrica, e a apresentassem para a turma. Os alunos foram alertados para que não copiassem charges da internet, mas que fossem os autores de seus desenhos.

                Dentre as charges produzidas, selecionamos uma delas para a realização deste presente trabalho. A seguir, apresentaremos o conteúdo da notícia, enfatizando a questão da poluição hídrica, além disso, analisaremos a produção dos alunos com base no que eles explicaram sobre a elaboração de suas charges.

    Alguns dados que consideramos mais relevantes sobre a água, extraídos da notícia “Os grandes números que revelam a crise da água no mundo”, publicada pela revista Exame, em março de 2018, são que: três em cada dez pessoas não têm acesso a uma fonte segura de água potável, ou seja, cerca de 2,1 bilhões de pessoas; a cada 20 segundos, uma criança morre de doenças diarreicas, que poderiam ser evitadas com saneamento básico e água devidamente tratada; mulheres e meninas precisam andar a pé por mais de seis quilômetros para buscar água nas regiões rurais do Quênia, na África; 80% das águas residuais do mundo são despejadas sem tratamento em rios, lagos e oceanos; estima-se que nos últimos 100 anos, 64% a 71% das zonas úmidas naturais do mundo (como o Pantanal) tenham desaparecido em consequência de atividades humanas; entre outros.

    Na Figura 01, os alunos desenharam a Terra em cima de uma calçada repleta de lixo, representando a poluição. Na imagem, vemos que o planeta está quebrado na parte inferior, em decorrência disso, a água está vazando e indo pelo bueiro da rua, como se ela estivesse sendo desperdiçada, o que representa seu mau uso. Em pé, ao lado da Terra, temos uma pessoa que diz “Vixe, tá acabando. Mas por quê?”, que segundo os alunos, a personagem não vê o que está acontecendo, mas nota apenas que a água está acabando. Esta pessoa representa aqueles que estão alheios às causas e consequências do consumo indevido da água.

     

    Figura 01: A crise da água no mundo

     

    Fonte: Charge elaborada por alunos do 1º ano do EM (2018).

     

                No geral, os alunos tiveram interesse em participar da atividade proposta, os resultados obtidos foram satisfatórios e esse gênero textual mostrou-se efetivo, uma vez que os adolescentes apreenderam os conteúdos geográficos de forma reflexiva e contextualizada.

     

    CONSIDERAÇÕES FINAIS

    O estágio supervisionado proporcionou experiências pedagógicas importantes para a nossa formação profissional, uma vez que a partir do referencial teórico-metodológico crítico, selecionamos material correspondente à prática social dos estudantes e desenvolvemos as aulas de forma dinâmica priorizando a participação dos alunos, o que culminou com a elaboração de charges que denunciam o mal uso da água, e permitiram a presente produção.

    A partir da prática realizada com os alunos, podemos pensar outras maneiras de trabalhar este gênero textual em sala de aula. Um exemplo de atividade é a criação de charges que representem os problemas enfrentados em cada bioma brasileiro, como o desmatamento, a seca, a expansão da agricultura, com desenhos e personagens que caracterizem a cultura dos estados pertencentes a cada um deles. Este estudo não se esgota aqui, portanto outros trabalhos dessa natureza serão relevantes para subsidiar o trabalho docente.

     

    REFERÊNCIAS

     

    LACOSTE, Yves. A geografia – Isso serve, em primeiro lugar, para fazer a guerra. 19ª ed. Campinas, SP: Papirus, 2012.

     

    LIEBEL, Vinícius. A análise de charges segundo o método documentário. In: WELLER, Wivian; PFAFF, Nicolle (Org.). Metodologias da pesquisa qualitativa em Educação. Petrópolis: Vozes, 2010. p. 182-196.

     

    REVISTA EXAME. Os grandes números que revelam a crise da água no mundo. Disponível em:<https://exame.abril.com.br/mundo/os-grandes-numeros-que-revelam-a-crise-da-agua-no-mundo/>. Acesso em: 07 nov. 2018.

     

    ROOS, Djeovani; LINDINO, Terezinha Corrêa. Espacializando reflexões sobre a geografia escolar: o uso de charge como elemento norteador de análise. Revista Eletrônica da Associação de Geógrafos Brasileiros – Seção Três Lagoas/MS – nº18 – ano 10, novembro, 2013. Disponível em:<http://seer.ufms.br/index.php/RevAGB/article/download/403/206>. Acesso em: 04 abr. 2019.

     

     

     

  • Palavras-chave
  • Produção de charges; práticas pedagógicas; Geografia, poluição hídrica.
  • Modalidade
  • Comunicação oral
  • Área Temática
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