TEORIA CRÍTICA: BREVE PANORAMA HISTÓRICO E CONCEITUAL

  • Autor
  • Helena Gutoch Garbosa
  • Resumo
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    TEORIA CRÍTICA: BREVE PANORAMA HISTÓRICO E CONCEITUAL

     

    1 INTRODUÇÃO

    Este trabalho retoma os pressupostos centrais da corrente teórica Teoria Crítica, o qual tem como pontos relevantes: o contexto histórico em que se estruturou tal proposta, a Escola de Frankfurt e seus principais representantes. Destacam-se as contribuições de Habermas no contexto da teoria crítica com a proposta teórica intitulada “paradigma da razão comunicativa”.

     

    2 DESENVOLVIMENTO

    Com o processo histórico da sociedade, o homem identificou fragilidades na forma de compreender os fenômenos sociais. Nesse sentido, historicamente pensadores, filósofos, sociólogos propuseram teorizações que se materializaram em etapas e/ou categorias como alternativas para uma análise mais completa de tais fenômenos.

    Estudiosos como Walter Benjamin, Herbert Marcuse e Theodor W. Adorno une-se a Max Horkheimer) para desenvolver trabalhos que trouxessem discussões a respeito de temáticas como: o olhar filosófico sobre a realidade, a influência da cultura na sociedade, os discursos políticos e a influência determinante do aspecto psicológico nas tomadas de decisões dos indivíduos. Assim, a partir destes trabalhos delineou-se o que posteriormente intitulou-se de Escola de Frankfurt a qual trouxe uma nova proposta de análise das relações sociais, a saber, a Teoria Crítica.

    Horkheimer (1983, p.1), compreende que a natureza da teoria como conjunto estruturado de ideias que podem ser validadas universalmente ou não, e, caso sejam, tornam-se pontos de partidas, ângulos de análise para a explicitação dos fatos e fenômenos. A validação de uma teoria consiste na sua utilidade e nos resultados obtidos, e, para que se controle os resultados é necessário que sejam estruturados procedimentos em graus hierarquizados que progressivamente intensificam-se chegando a níveis complexos que alcancem o que foi previamente idealizado. (HORKHEIMER, 1983). Com base no autor, considera-se a existência de dois principais conceitos de teoria: tradicional e crítica.

    Posto isso, um coletivo de filósofos e sociólogos judeus indagaram-se a respeito do impacto desta ideologia nos indivíduos objetivando desenvolver uma alternativa teórica à teoria tradicional, tal alternativa foi intitulada como Teoria Crítica. (CAMARGO, 2014; OFFREDI, 2007). Segundo a teoria crítica não é possível analisar os fenômenos da realidade isolando-os ou fragmentando-os, pois são reflexos de construções históricas. Entender que não há fatos isolados leva a premissa de que a realidade é uma sucessão de eventos que podem ser ilustrados na figura de uma teia, constituída das relações sociais. Assim, não é possível compreender a realidade como de é, porém consideram-se os contextos que a permeiam (HORKHEIMER, 1983).

    Segundo o autor, o comportamento do homem corresponde à forma como a sociedade é organizada, pois indireta ou diretamente, as relações de poder instituem representantes que ao dar corpo ao sistema vigente, determinam o modo de vida dos indivíduos. Na perspectiva tradicional, os sujeitos incorporam as regras atitudinais estabelecidas verticalmente pela minoria da população e não apenas aceitam como defendem essa ideologia, dando continuidade e reforçando o status quo.

    Ao se descrever sobre o conceito de teoria é possível compreender que existem diferentes concepções teóricas. Inegavelmente, as teorias mencionadas trazem relevantes considerações, entretanto, acredita-se na necessidade de análise dos fenômenos sociais sob uma perspectiva critica.

     

    2.1 A ESCOLA DE FRANKFURT E SEUS REPRESENTANTES

    Ao contextualizar como se consolidou o pensamento frankfurtiano, Offredi (2007) traz algumas informações relevantes sobre a instituição da Escola de Frankfurt:

     

    [...] denominada oficialmente como Instituit fur Sozialforschung, Instituto de Pesquisa Social, foi fundada no auditório da Universidade de Frankfurt em 22 de junho de 1924, como resultante de um encontro preliminar [...] ocorrido na Turíngia, numa época de inflação galopante e de tumultos políticos espalhados por grande parte da Alemanha. (OFFREDI, 2007, p. 14-15)

     

    A Escola de Frankfurt foi dividida nas chamadas primeira e segunda geração, devido ao período de exilio dos pesquisadores em meio a Segunda Grande Guerra. Os principais membros da primeira geração foram Walter Benjamin (1898-1940), Max Horkheimer (1895-1973), Herbert Marcuse (1989-1979) e Theodor W. Adorno (1903-1969), sendo Horkheimer o precursor. Os principais destaques da segunda geração foram Karl-Otto Apel (1922-2017) e Jurgen Habermas (1929-88 anos), este último considerado discípulo de Theodor Adorno. (OFFREDI, 2007)

    Jurgen Habermas trabalhou auxiliando Theodor Adorno no Instituto de Pesquisa Social de Frankfurt de 1956 a 1959. Conforme Siebeneichler (1989), Habermas coadunava com os trabalhos de Adorno que tratavam da crítica veemente perante a filosofia tradicional oportunizando assim, discussões sobre a crítica dialética e a crítica dogmática. Todavia, segundo o autor, em determinado momento profissional Habermas distanciou-se de algumas concepções frankfurtianas, tais como a fundamentação metódica e sistemática com que estruturavam o pensamento, também em relação ao conceito de razão única, estreita “[...] um conceito de verdade herdado de Hegel, o qual não se coaduna com o falibilismo da pesquisa científica, vigente hoje em dia”. (SIEBENEICHLER, 1989, 25-26).

    Segundo Siebeneichler (1989, p. 28), Habermas decidiu afastar-se do Instituto de Pesquisa Social de Frankfurt, pois entendia que “[...] a Escola de Frankfurt subestima as tradições democráticas, do Estado de direito e não leva a sério a mudança de estrutura da esfera pública no interior da democracia burguesa”. Habermas aliando os conceitos de diversos pensadores focou-se em desenvolver os conceitos centrais de um novo paradigma da razão, a saber, a razão comunicativa. Essa razão objetivou a busca do entendimento entre sujeitos que são capazes de falarem e agirem, e, que por meio da linguagem, entram em consensos a respeito da realidade, pois, segundo ele, o meio por excelência pelo qual os sujeitos produzem conhecimento é a linguagem.

    A teoria da razão comunicativa procura entender a amplitude das relações entre os sujeitos, o valor da interação mediada pela linguagem, que por fim, constituem-se em consensos. Para subsidiar sua proposta teórica, Habermas respaldou-se em algumas categorias fundamentais:

    Habermas entende a linguagem como a mediadora das relações entre sujeito e objeto, visto que no sujeito se tem o sentido de todas as palavras e no objeto, o sentido do ser das coisas mediadas pelos significados das palavras. A razão comunicativa entende a comunicação como um meio de relação horizontal, que interage com outros sujeitos e não sobre os sujeitos. Também, busca o consenso entre os indivíduos, por meio do diálogo e acordos democráticos.

    Após sintetizar os principais pressupostos que constituem a razão comunicativa é de relevância mencionar as considerações de Offredi[1] (2007), ao qual afirma que em certa medida, a teoria da razão comunicativa tornou-se idealizada demasiadamente, visto que os conflitos de interesses que permeiam as relações sociais impedem a realização dessa proposta.

    Offredi (2007) afirma que em certa medida, a teoria da razão comunicativa tornou-se idealizada demasiadamente, visto que os conflitos de interesses que permeiam as relações sociais impedem a realização dessa proposta. Todavia, para além de aspectos idealizados, a razão comunicativa de Habermas mostrou-se relevante e permanece sendo estudada até a atualmente devido à proposta de análise sobre o poder da linguagem, do discurso e a possibilidade de concretamente participar e atuar na sociedade, por meio da comunicação, visando o bem comum.

     

    3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

    A Teoria Crítica é singular, pois de forma consistente uniu a teoria marxista aos estudos de psicanálise desenvolvidos por Freud, trazendo a temática da linguagem como mediadora da intersubjetividade. Não obstante, desenvolve uma proposta concreta frente à teoria instrumental. A análise da sociedade considera que as relações humanas e os fenômenos sociais estão para além de aplicação de técnicas.

    Os estudos realizados na Escola de Frankfurt desvelaram a influência negativa das mídias, da indústria cultural e da arte, ao qual por meio do discurso, da linguagem, gradativamente moldavam o pensamento e comportamento das pessoas, objetivando delinear um perfil de sujeito. Também, os estudos sobre o poder do discurso oportunizou discussões a respeito da ética, da verdade e na política. Habermas copilou todos esses conceitos no plano político-democrático proposto por ele que entendia a materialização da democracia por meio da fala. Em outras palavras, Habermas afirmava que para além de lutas armadas, tanto mudanças, melhorias, transformações quanto a efetivação da democracia só ocorreria de forma satisfatória se fosse pelo uso da linguagem, como mediadora das relações. A voz, a opinião, os interesses das pessoas seriam ouvidos e materializados em documentos, que por sua vez, seriam verbalizados por representantes escolhidos pelos próprios cidadãos.

    Assim, Teoria Crítica, bem como, o paradigma da razão comunicativa buscou não apenas desvelar, denunciar os reflexos do sistema capitalista nas diversas áreas da sociedade, mas também, propor efetivamente uma alternativa frente a tais contradições, aos dilemas e conflitos. Conclui-se que mesmo diante das críticas a respeito dessa corrente teórica, são inegáveis as contribuições por ela realizada, no que se refere à viabilidade de análise critica das relações sociais, da sociedade, da linguagem, do discurso, da verdade, da ética, dentre outros, entendendo que todos esses pressupostos materializam-se nas relações entre os sujeitos.

     

    4 REFERÊNCIAS

     

    ADORNO, T. W. Educação e emancipação. São Paulo: Paz & Terra, 1995.

    CAMARGO, S. Os primeiros anos da “Escola de Frankfurt” no Brasil. Lua Nova: São Paulo, 2014. p.105-133.

    POLÍTICA, C. Jurgen Habermas. Disponível em: <http://www.portalconscienciapolitica.com.br/filosofia-politica/filosofia-contempor%C3%A2nea/escola-de-frankfurt/habermas/>. Acesso em: 15 nov. 2017.

    GALUPPO, M. C. Igualdade e Diferença: Estado Democrático de Direito a partir do Pensamento de Habermas. Editora Mandamentos, BH, 2002.

    GÓES, G. T. et al. Teoria Crítica: fundamentos e possibilidades para pesquisas em avaliação educacional. In: GABRIEL, A. C. (Org). Diálogos contemporâneos entre Filosofia e Educação. Rio de Janeiro, 2017. p.105 - 124.

    GOMES, F. Uma aproximação entre pragmática universal e economia solidária: o caso de Catende. Cadernos EBAPE.BR, Rio de Janeiro, v. 12, Edição Especial, p.416-441, ago. 2014.

    HABERMAS, J. Os Pensadores. São Paulo: Abril S/A Cultural, 2. Ed, 1989.

    ______, J. Racionalidade e comunicação. Lisboa: Edições 70, 1996.

    HORKHEIMER, M. Teoria tradicional e teoria crítica. In: CIVITA, V. (coord.). Textos escolhidos. Benjamin, Horkheimer, Adorno e Habermas. São Paulo: Abril Cultural, 1983.

    LONGHI, Armindo José. A ação educativa na perspectiva da teoria do agir comunicativo de Jürgen Habermas: uma abordagem reflexiva. Tese (Doutorado em Educação). Faculdade de Educação. Universidade Estadual de Campinas. Campinas, SP: 2005.

    OFFREDI, J. C. F. Uma proposta de democracia segundo Habermas: uma contribuição para concepção e análise do Direito. 2007, 96 p. Dissertação (Mestrado em Direito) - Pontifícia Universidade do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro. Disponível em: https://www.maxwell.vrac.puc-rio.br/. Acesso em: 15 nov. 2017

    SANTOS, T. D. D. Theodor Adorno: uma crítica à indústria cultural. Revista Trágica: estudos de filosofia da imanência – 2º quadrimestre de 2014 – Vol. 7 – nº 2 – p.25-36.

    SIEBENEICHLER, F.B. Jurgen Habermas: razão comunicativa e emancipação. 3.ed. RJ: Tempo Brasileiro, 1989.

    VIZEU, F. Uma aproximação entre liderança transformacional e teoria da ação comunicativa. RAM, Revista de Administração Mackenzie, São Paulo, v. 12, n. 1, p. 53-81, jan./fev., 2011.

     


     

     

  • Palavras-chave
  • Teoria Critica. Razão Comunicativa. Jurgen Habermas.
  • Modalidade
  • Comunicação oral
  • Área Temática
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