LEBENSBORN: O INFERNO DAS CRIANÇAS E JOVENS NA ALEMANHA NAZISTA

  • Autor
  • DAVID ALEXANDRE GELATTI BUENO
  • Resumo
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    LEBENSBORN: O INFERNO DAS CRIANÇAS E JOVENS NA ALEMANHA NAZISTA

     

     

    David Alexandre Gelatti Bueno (UEPG)

    Email: david_mariah@hotmail.com

    Eixo: História e historiografia da Educação

     

    Introdução

    Neste texto abordo a Alemanha em seu contexto nazista e foco não somente nisso, mas principalmente no Projeto Lebensborn, idealizado pelo segundo homem mais forte do Reich Nazista, Heinrich Himmler.

    A ideia inicial desse projeto era gerar filhos de mulheres e homens arianos puros. Mas essa ideia sofreu resistência da população. Assim, a cúpula nazista realizava seleções em larga escala à procura de crianças e jovens com traços arianos, para que esses fossem “levados” para a Alemanha, reinseridos em novas famílias alemãs com uma árvore genealógica que se configurasse ter mais de seis gerações arianas puras. O relato abaixo, retirado do livro “As crianças esquecidas de Hitler - a verdadeira história do Projeto Lebensborn”, escrito por Ingrid Von Oelhafen ou Erika Matko, narra como foi ser uma filha de Lebensborn.

     

    O nariz das crianças era medido e comparado ao tamanho e ao formato considerados ideais; os lábios, os dentes, quadril e genitálias eram igualmente apalpados, cutucados e fotografados para separar o trigo geneticamente precioso do joio menos valioso. Essa seleção mais refinada e rigorosa tinha como objetivo redistribuir os cativos em quatro categorias raciais. (VON OLHAVEN; TATE, 2017, p. 17).

     

    Esta pesquisa é de cunho bibliográfico e documental, pautada como foi colocado acima, nas memórias dessa sobrevivente; a mesma objetiva como compreender o projeto Lebensborn e suas principais características, sem desconsiderar o sentido da eugenia positiva para os nazistas e o contexto histórico alemão para o desenvolvimento do nazismo e a ascensão do Nacional-Socialismo.

     

    Contextualização de uma Alemanha nazista e a eugenia positiva

     

    Como bem destaca Goldhagen (1997, p. 49) existem três noções sobre qual seria a natureza deste antissemitismo alemão:

     

    1) A existência do antissemitismo e o conteúdo das acusações antissemíticas contra os judeus devem ser entendidos como expressão de cultura não judaica e não são, fundamentalmente, uma resposta a qualquer avaliação objetiva da ação judaica, ainda que características reais dos judeus e aspectos de conflitos realistas estejam incorporados à litania antissemita. 2) O antissemitismo tem sido uma característica permanente na civilização cristã (certamente após o início das Cruzadas), mesmo durante o século XX. 3) O grau amplamente diverso da expressão antissemítica em diferentes momentos de um período de tempo delimitado (digamos que, entre vinte e cinquenta anos), e uma sociedade em particular, não é resultado do surgimento e desaparecimento do antissemitismo, de um número maior ou menor de pessoas sendo ou tornando-se antissemita, mas de um antissemitismo em geral, constante, que se torna mais ou menos manifesto, devido principalmente à alteração das condições sociais que encorajam ou desencorajam a expressão do antissemitismo pessoal.

     

    E tomarei como base deste trabalho a terceira proposição, pois como bem já esclarece o mesmo, o antissemitismo alemão estava em alguns contextos e períodos históricos mais apagados e ora mais acentuado, devido a questões religiosas, políticas e culturais.

    Como afirma Von Oelhaven e Tate (2017, p. 09):

     

    Sangue. Toda esta história é permeada de sangue. Sangue de rapazes derramado nos campos de batalha; sangue de civis- velhos e jovens, homens e mulheres - que escorreu na sarjeta de cidades, em vilas e aldeias pela Europa; sangue de milhões de pessoas dizimadas nos progroms e campos de extermínio do Holocausto. Mas também a ideia de sangue permeia esta história: a crença nazista, que hoje parece absurda e imoral, na existência de um “sangue bom”, uma substancia preciosa que deveria ser multiplicada. O contraponto inevitável dessa ideia era o “sangue ruim”, que deveria ser identificado e cruelmente erradicado.

     

    Era a obsessão nazista e de sua crença que não somente acreditavam em uma raça superior, mas sim em ideais de uma eugenia positiva, da qual todos aqueles que pertenciam a esse grupo seriam agraciados com plena participação no Reich de Hitler. As questões eugênicas de nossa sociedade, como nos relata Vieira (2012), as primeiras noções da eugenia surgiram na Inglaterra da Idade Moderna, a partir das contribuições de Francis Galton que podemos considera-lo como o pai da eugenia moderna; sendo este o primo de Charles Darwin. A base dessa teoria, transformada em tese pelo então autor e pai do eugenismo tinha em sua essência um controle social dos indivíduos para formarem a sociedade, bem como esses ideais iriam auxiliar a sociedade em sua melhora para as futuras gerações que ali estivessem presentes, tanto pela forma física como mentais e cognitivas da época (VIEIRA, 2012).

    Segundo Vieira (2012, p. 256):

    Diversas características da espécie humana, tais como a inteligência e o talento para as artes, entre outras capacidades, eram fortemente determinadas pelo fator genético, e não pelo fator ambiental. Sendo assim, a única forma de melhorar as qualidades sociais das gerações vindouras era proibir as procriações para todos aqueles indivíduos que se revelassem geneticamente inferiores. Isto se deve ao fato de que ao procriarem com pessoas de distintas qualidades genéticas gerariam descendentes fadados a serem geneticamente inferiores.

     

     

    Lebensborn

    Lebensborn foi a materialização de um “sonho” de Himmler e Hitler para conquistarem seu exército de mil anos; entretanto, o “tiro alemão saiu pela culatra”, pois a grande maioria da sociedade alemã e membros do partido foram contrários as ideias propostos pelo projeto. Pois o mesmo em sua gênese previa que mulheres alemãs, com características e árvore genealógica que fossem puramente arianas, poderiam se envolver com soldados ou civis que também apresentassem as mesmas características “saudáveis” para a procriação, sendo que, os mesmos não tinham que ter relações futuras obrigatórias como o matrimônio.

    Contudo, o programa não agradou a comunidade tradicional daquele contexto que não aceitavam a questão da poligamia; e a saída foi o rapto de bebês, crianças e jovens com características arianas para serem reinseridos na sociedade e serem criados por famílias tradicionais do Reich, dando uma educação e valores similares aos pregados pelo partido Nacional-Socialista.

    Nesse contexto que entra Erika Matko, que foi sequestrada ainda com nove meses e dada para Gisela Von Oelhafen e Hermann Von Oelhafen; somente descobriu suas origens após seus cinquenta anos; entretanto, ela mesma já se sentia fora do âmbito familiar desde pequena, bem como, não tinha muito afeto de seus pais, principalmente, após o final da Guerra e com a chegada da Guerra Fria; naquele momente sua mãe fugiu da zona soviética para a zona britânica, levando Erika e seu irmão Dietmar, também adotado; os mesmos foram entregues para um abrigo durante três anos. Após este período, Dietmar foi devolvido para sua família biológica e Ingrid ou Ericka Matko foi viver com seu pai de criação; mas após a morte do mesmo, a menina com treze anos voltou a viver com sua mãe Gisela; entretanto a mesma já possui um filho biológico e a menina ainda sentia mais falta de afeto, sendo que, nessa altura ela já sabia que era adotada, mas não sabia da história desse ato.

     

    Emmi me disse que Hermann e Gisela não eram meus pais biológicos. Eles me pegaram para criar quando eu ainda era um bebê, assim como Dietmar, e meu nome verdadeiro era Erika Matko. Emmi não ficou constrangida em me dizer que eu era filha de criação. A guerra havia fraturado tantas famílias e deixado tantas crianças sem os pais que nossa situação não tinha nada de incomum. Não me lembro de ficar magoada por descobrir a verdade sobre mim mesma. Eu não era próxima de Herman, e acho que absorvi a informação concluindo que ela explicava a frieza dele comigo e também do motivo de eu não poder morar com Gisela. (INGRID VON OELHAFEN; TATE, 2017, p. 53).

     

    O que Lebensborn deixa de legado é a frieza com que tratou os sujeitos dessas histórias, pois todas as mães e filhos biológicos foram separados, muitos nunca mais se viram e tudo por um ideal da eugenia positiva e que graças aos esforços de outras potências durante a Segunda Guerra não se concretizou; mas Lebensborn deixou seu legado de incertezas e de adultos fadados a terem uma incompletude em sua formação, de serem incompletos no amor e no carinho de seus pais.

     

    Considerações finais

    A pesquisa realizada esclarece questões acerca do projeto Lebensborn. Graças às memórias de Matko e de outros diversos autores, pode-se entender em linhas gerais o que foi o projeto, qual a sua dimensão e seus objetivos, algo que a história alemã tenta esconder até a atualidade, por medo ou talvez por vergonha de um passado que além de matar mais de seis milhões de judeus, deixou sem  lar e sem amor familiar milhares de crianças durante os anos trinta e a primeira metade dos anos quarenta.

    Contudo, como toda a pesquisa a mesma deixa lacunas e perguntas a serem respondidas, mas que nos mostra o horror de um período histórico que jamais deveria ter acontecido, bem como nos alerta em nossa atualidade sobre os perigos de governos ditatoriais e de ditadores no poder, pois esses levam grandes potências e países a tremendos desastres como o ocorrido na Alemanha durante o Reich alemão.

    Referências

    GOLDHAGEN, D. J. Os carrascos voluntários de Hitler: o povo alemão e o holocausto. São Paulo: Companhia das Letras, 1997.

    OELHAFEN, I. V.; TATE, T. As crianças esquecidas de Hitler: a verdadeira história do Projeto Lebensborn. São Paulo: Contexto, 2017.

    VIEIRA, F. C. O Enquadramento Histórico Conceitual da Eugenia: do eugenismo clássico ao liberal. Cadernos da Escola de Direito e Relações Internacionais. Curitiba, v. 1, n. 17, p. 251-283, 2012.

     

  • Palavras-chave
  • LEBENSBORN, NAZISMO, INFÂNCIA, HEINRICH HIMMLER.
  • Modalidade
  • Comunicação oral
  • Área Temática
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