O PRAGMATISMO DE JOHN DEWEY NA EDUCAÇÃO OCIDENTAL

  • Autor
  • Joselaine Aparecida Campos
  • Co-autores
  • Denielli Kendrick , Bruna Mayara Bonatto
  • Resumo
  • O PRAGMATISMO DE JOHN DEWEY NA EDUCAÇÃO OCIDENTAL

    Joselaine Aparecida Campos - UEPG - josicaicuepg@gmail.com

    Denielli Kendrick – deniellik@yahoo.com.br

    Bruna Mayara Bonatto – UEPG – bruna.bonatto@hotmail.com

    Eixo 1: História e historiografia da Educação

    Introdução

    O objetivo deste resumo é apresentar uma breve discussão sobre as contribuições do pragmatismo de John Dewey para a Educação, relatando em que contexto educacional o mesmo emergiu.

    A filosofia educativa de Dewey da primeira metade do século XX está fundamentada em uma didática que orienta a teoria por meio das experiências. Essa filosofia influenciou a educação no ocidente e, também, no Brasil, estando presente na concepção de educação de muitos professores.

     

    Metodologia

    A investigação caracteriza-se como um ensaio teórico de abordagem qualitativa. O procedimento escolhido foi a análise de algumas obras de Dewey (1959; 1970; 1979) por meio do diálogo com autores que discutem sua contribuição na educação.

    Para a exposição da contribuição de Dewey no contexto educacional ocidental, apresenta-se a conjuntura social na qual suas concepções pedagógicas emergiram, bem como abordam-se os principais aspectos do pragmatismo instrumentalista.

     

    Resultados

    O período histórico vivido por Dewey (1859-1952) influenciou sua trajetória intelectual. Ele passou pelas duas grandes guerras e viveu num período de ascensão dos Estados Unidos. Neste país, após as crises econômicas, houve uma grande aceleração do processo de industrialização e produção, originando a constituição do modo de vida tipicamente americano. Os Estados Unidos surgiu frente ao mundo como uma potência capitalista, produtiva e consumista pautando-se nos princípios liberais – o individualismo, a liberdade, a propriedade, a igualdade e a democracia.

    O processo de industrialização se alastrou pelo planeta, modificando significativas a sociedade, com as novas tecnologias e as formas de produção diferenciadas. Na política, a hegemonia burguesa cooptou o papel do Estado, buscando solidificar-se diante da divisão de classes por meio de uma organização hierarquia trabalhista com interesses individualizados.

    O papel do Estado foi reconfigurado tendendo a ser restrito, centrando-se no incentivo à indústria e ao estímulo comercial, assumindo cada vez mais as características de um Estado liberal. Com o avanço do regime democrático, criaram-se leis de proteção aos trabalhadores e desempregados, medidas que ficaram conhecidas como Estado de bem-estar social. Tais ações caracterizam-se como intervencionistas e buscaram o controle da economia.

    Essa forma de intervenção do Estado influenciou o posicionamento de Dewey (1970) sobre o liberalismo na construção de suas ideias pedagógicas. Cunha (2001) afirma que o teórico incentivava políticas que incluíam a participação e as iniciativas governamentais reguladoras. Para Dewey (1970, p. 18), os princípios do liberalismo se fundamentam no método da ampliação da democracia, “o governo podia e devia ser um instrumento para assegurar e estender as liberdades dos indivíduos”.

    Na obra Liberalismo, Liberdade e Cultura, Dewey (1970) propõe uma reforma na aplicação dos princípios liberais, apontando suas falhas e sugerindo outra aplicação. Ele destaca que a inteligência humana estava sendo subestimada pelo liberalismo, pois estaria deslocada da experiência e da função de dirigir a ação, impossibilitando a construção ativa da sociedade liberal.

    Peixoto (1998, p.135) orienta que se entenda o posicionamento de Dewey sobre a inteligência como um valor liberal, a “visão de inteligência, como valor liberal, deve ser alargada e deve ser entendida como um processo ativo, sendo ampliada por meio de políticas sociais que democratizem o saber social”. Reforçando uma tendência a organizar a sociedade de forma a oportunizar condições para a liberdade do sujeito, valorizando sua individualidade enquanto ser que pensa e faz, sendo capaz de transformar o meio em que está inserido.

    Medeiros (2013) considera Dewey um intelectual que dialogou com as questões sociais, políticas e econômicas de seu tempo, sendo estes fatores importantes na construção de sua pedagogia e proposta educacional. Para Dewey (1979) a educação consiste em uma via para alcançar a liberdade e o acesso aos bens materiais. Caracterizando a educação formal como fonte de oportunidades para todas as pessoas, a delega uma função social bem definida: fazer surgir um sujeito mais audaz e seguro pela aplicabilidade da inteligência em suas ações.

    Para o autor supracitado, a civilização, em quaisquer circunstâncias, enfrenta o problema de unir as mudanças em curso em um plano coerente de organização social: “O espírito liberal tem sua ideia própria do plano que se requer: uma organização social que torne possível a liberdade efetiva e a oportunidade do crescimento individual da mente e do espírito de todos os indivíduos” (DEWEY, 1970, p.60).

    Em relação à educação, para atender aos princípios liberais nos quais acreditava, Dewey (1959) faz uma crítica à escola tradicional e sua forma descontextualizada de ensinar diante de uma sociedade democrática. Como apontam Souza e Martineli (2009), ele entendia a escola tradicional, a qual denominava de “clássica”, como sendo rigorosa, disciplinar e centralizada em conceituar os conhecimento sem apresentar uma utilidade prática. Este ensino demonstrava-se insuficiente diante das transformações socioeconômicas e históricas da metade do século XIX e primeira metade do século XX, especialmente no Estados Unidos.

    Dewey desenvolveu uma concepção pedagógica inovadora, focada na experiência, subjetivista e instrumental. A fonte epistemológica dessa nova forma de conceber a educação foi o pragmatismo. De acordo com Nascimento (2012), o pragmatismo deweyano possui peculiaridades que o qualificaram como ‘pragmatismo instrumentalista’, baseado na experiência, no qual a inteligência deve direcionar a resolução dos problemas. Entre os pragmatistas a figura de Dewey se destaca por imprimir no pragmatismo seu engajamento "em um amplo programa de investigação, organicamente concebido, escrevendo e refletindo sobre temas que vão desde questões metafísicas às questões sociais, políticas e educacionais, as artes e a religião" (NASCIMENTO, 2010, p. 03).

    Dewey advoga que o conhecimento deve ser pensado de forma a entrelaçar valores cognitivos, éticos e sociais preconizados pelo liberalismo. O conhecimento é considerado uma atividade dirigida e parte imprescindível da experiência. A inteligência é entendida como um instrumento para reconstruir a atividade do indivíduo e colocá-lo em condições de resolver problemas, superá-los.

    O autor entende que as ações que podem transformar a realidade passam pela inteligência que intencionalmente busca a resolução de problemas. A proposta educacional de Dewey (1959) é de caráter mais prático do que teórico, pois se fundamenta na experiência, sendo ela uma ideia base de toda sua proposta pedagógica e educacional. Ele compreende que o conhecimento compõe as coisas vividas, só é possível conhecer o que é experimentado. Galiani (2009) afirma que dessa forma Dewey estabelece uma relação de reciprocidade entre experiência e conhecimento, conceito imprescindível para compreender o pragmatismo deweyano.

    Dewey (1985) se opunha ao racionalismo e ao empirismo, por separarem a experiência humana da natureza, criando uma dualidade, e via no pragmatismo a possibilidade de superar tal dualidade. O critério da experiência preconizado pelo pragmatismo decorre do fato de trazer à tona a ideia de efetivar os conhecimentos adquiridos ao longo da vida de forma que se possa colocá-los em prática, vislumbrando sua aplicabilidade no cotidiano. Como foco da filosofia deweyana o conhecimento é visto para além do surreal, da metafísica, trazendo para o sujeito a capacidade de modificar e transformar o que está a sua volta, sendo este útil à sua vida em sociedade na construção da democracia.

     

    Conclusão

    Dewey figurou como um filósofo da educação cujos conceitos de homem, democracia e educação pautados nos princípios liberais influenciaram a educação no ocidente. Constatou-se que sua teoria emergiu em um contexto histórico marcado pela aceleração do processo de industrialização, pela expansão do capitalismo e de uma democracia com preceitos liberais.

    Desenvolveu uma concepção pedagógica inovadora, focada na experiência, subjetivista e instrumental. Por tais características sua teoria passou a ser denominada como ‘pragmatismo instrumental’. Ele contribuiu para consolidar o pragmatismo na filosofia e, por sua teoria, tornou-se um dos maiores educadores do ocidente e influenciador do pensamento educacional brasileiro. Nesse sentido, sua teoria pode ser utilizada enquanto fonte epistemológica para a prática e a pesquisa em educação.

     

    Referências

    CUNHA, M.; V.; da. John Dewey: Filosofia, Política e Educação. Perspectiva. Florianópolis, v.19, n.2, p. 371-388, jul./dez, 2001.

     

    DEWEY, J. Democracia e educação: introdução à filosofia da educação. Trad. Godofredo Rangel e Anísio Teixeira. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1959.

     

    _______. Liberalismo, Liberdade e Cultura. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1970.

     

    _______. Democracia e Educação: introdução à filosofia da educação. São Paulo: Editora Nacional, 1979.

     

    GALIANI, C. Educação e democracia em John Dewey. Maringá: EDUEM, 2009.

     

    MEDEIROS, V.; M.; de. O liberalismo e as proposições de John Dewey para a educação elementar. Dissertação (Mestrado em Educação). Universidade Estadual do Oeste do Paraná. Cascavel: UNIOESTE, 2013.

     

    NASCIMENTO, E.; M.; M. do. Dewey e Rorty: da metafísica empírica à metafísica da cultura. 2012. 266 f. Tese (Doutorado em Filosofia). Universidade Federal de Minas Gerais. Belo Horizonte: UFMG, 2012.

     

    PEIXOTO, M.; G. A Condição Política na Pós-modernidade: a questão da

    democracia. São Paulo: EDUC, 1998.

     

    SOUZA, R.; MARTINELE, T. Considerações históricas sobre a influência de John Dewey no pensamento pedagógico brasileiro. Revista HISTEDBR, Campinas, n.35, p. 160-172, set.2009.

  • Palavras-chave
  • John Dewey; Pragmatismo; Educação.
  • Modalidade
  • Comunicação oral
  • Área Temática
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