A ABORDAGEM ESTRUTURAL DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE PROFESSORES DA EDUCAÇÃO INFANTIL SOBRE O DESGASTE NA DOCÊNCIA

  • Autor
  • Bruna Emilyn da Silva
  • Co-autores
  • Ademir José Rosso
  • Resumo
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    A ABORDAGEM ESTRUTURAL DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE PROFESSORES DA EDUCAÇÃO INFANTIL SOBRE O DESGASTE NA DOCÊNCIA

     

    Bruna Emilyn da Silva – UEPG – bruna.emilyn@hotmail.com

    Ademir José Rosso – UEPG – ajrosso@uepg.br

    Eixo – Formação de professores

    Resumo

    Discute as representações sociais dos condicionantes do desgaste docente na educação infantil, em especial, a abordagem estrutural. As informações foram coletadas mediante questionário (N=116) para as professoras da educação infantil na cidade de Ponta Grossa/PR. As análises foram realizadas com o apoio do software EVOC e posteriormente utilizou-se da análise de conteúdo. Verifica-se que a maior procedência aos elementos constituintes de desgaste, gira em torno da desvalorização profissional; das contingências ocasionadas pelas salas lotadas e a falta de recursos humanos.

     

    Palavras-chave: Representação social. Desgaste. Educação infantil.

    INTRODUÇÃO

    Na Educação Básica Brasileira a etapa de ensino da Educação Infantil é recente e está permeada pelos campos políticos, econômicos e sociais. Entender a sua importância pressupõe a integração da dimensão pedagógica, a partir do seu caráter educativo. Porém, até o presente mantém-se a dicotomia entre o caráter educativo e o assistencialismo. Com essa dicotomia entre o cuidar e o educar move-se a educação infantil, como que fosse possível “oferecer à criança um atendimento que privilegie ora um ora outro aspecto desse atendimento, como se houvesse possibilidade de apenas cuidar das crianças ou apenas educá-las” (AZEVEDO, 2007, p. 161). A ambiguidade da educação-assistência ou educar-cuidar enfraquece os cursos de formação inicial e associa a docência na Educação Infantil à maternidade. Na Pedagogia, a licenciatura que mais atende sua demanda, poucos são os cursos que “propõem disciplinas que permitam algum aprofundamento em relação à educação infantil (GATTI, 2010, p. 1372) e a oferta dessas disciplinas “representam apenas 5,3% do conjunto” (p. 1369).

    Essa dinâmica desfavorável presente nas condições de trabalho, remuneração e o reconhecimento social do profissional que atravessam a educação infantil promove mal-estar docente; estresse; trabalho penoso ou burnout (CODO, 2006) tem atingido os docentes. Assim, o desgaste da docência na Educação Infantil se constitui em um objeto social partilhado no grupo a partir da experiência vivida, isto é, tem-se por objetivo apresentar as representações sociais que os professores da educação infantil constroem sobre as situações de trabalho que geram desgaste docente.

    Para a compreensão do pensamento social dos investigados, a teoria das representações sociais e suas abordagens complementares, realiza o diálogo entre o contexto social e escolar dos professores. Neste trabalho o estudo das representações sociais segue a abordagem dimensional que visa explicitar como as representações são construídas e organizadas. Deste modo, isto possibilita compreender os diversos universos de opiniões que constituem as representações.  

     

    METODOLOGIA

     

    A pesquisa configura-se em uma abordagem plurimetodológica de caráter quali-quantitativo. O estudo foi realizado em quinze CMEIs e em dez escolas que ofertam turmas de educação infantil, resultando no total de vinte e cinco instituições investigadas. Utilizou-se como instrumento de coleta de dados: questionários, os quais foram aplicados junto aos professores que atuam na Educação Infantil. Para identificar as representações sobre o desgaste, foi utilizada a técnica de associação livre de palavras, cujo procedimento “tem como base um termo indutor que permite demonstrar os universos semânticos pertinentes ao objeto em questão” (KOGA, 2011, p.51). Para tanto, foi solicitado aos professores, que escrevessem cinco palavras ou expressões que melhor descrevessem ou lembrassem as situações que geram desgaste na profissão. Após listar as palavras, os professores deveriam enumerar as expressões, de acordo com o grau de importância e posteriormente justificar a expressão em primeiro lugar.

     

    RESULTADOS E DISCUSSÕES

     

    Entre as respostas válidas foram contabilizadas 376 evocações, as quais foram analisadas com o auxílio do software EVOC, chegando ao número de 37 expressões diferentes. Para a composição dos quatro quadrantes foram desprezadas as evocações, com a frequência mínima igual ou inferior a 6, ou seja, menos do que 5% de frequência e 25% do total das evocações. Das 37 palavras diferentes evocadas pelas professoras, 16 integram os quadrantes da tabela das quatro casas, onde pode se observar que a OME (ordem média de evocação) tratada pelo programa é de 2,3 e que a frequência média de evocação foi de 21 palavras.

    Dos elementos que provavelmente constituem o núcleo central, estão contidas as palavras salas lotadas, desvalorização profissional e recursos humanos, evocadas como as principais expressões que ocasionam o desgaste. A expressão salas lotadas, refere-se à quantidade excessiva de alunos por sala de aula, bem como apresenta relação com um elemento periférico à infraestrutura. As professoras expressam o desgaste, pelo contingente de crianças em sala, o que pressupõe um trabalho sobrecarregado, mecanizado, segundo expressão usada por algumas professoras: “é muito cansativo ter vinte e cinco alunos em sala para apenas uma professora, que além de educar, também tem que cuidar. E a estrutura física também fica comprometida”. Verifica-se que a superlotação acarreta em problemas de ordem prática, no atendimento ao aluno, no controle sobre a turma, o espaço em sala se torna um ambiente sufocado, comprimido, pressionado, no qual o poder de criação e liberdade é limitado.

    A expressão desvalorização profissional constitui o aspecto simbólico da docência, enquanto profissão vista com caráter assistencialista,a educação infantil é vista por muitos da comunidade com um olhar assistencialista”. A concepção assistencialista é ancorada nas práticas do cuidado, nas necessidades de alimentação, higiene e sono, uma vez que o profissional docente, este do gênero feminino, consequentemente possui menor valor social, pois o cuidado é representado como um pressuposto dissociável do ato de educar. O termo cuidado e educação constituem-se em “transposições dos saberes femininos, em parte, adquiridos pelas mulheres na sua socialização primária, assim como nas experiências provenientes do universo doméstico” (CARVALHO, 2011, p.38).

    A expressão recursos humanos é entendida a partir da falta de professores, funcionários para o trabalho na Educação Infantil. hoje nas salas de aula temos grande número de alunos e uma professora, sendo que a criança tem por volta de 2 anos, no qual necessitamos de no mínimo duas professoras por turma”. A queixa das professoras, diante da falta de profissionais, se expressa a partir do excesso de trabalho, falta de hora-atividade, no contingente de crianças por salas de aulas, bem como na necessidade de auxílio de uma segunda professora ou assistente de educação infantil.

    Com base no conjunto das categorias analisadas, os simbolismos ligados às condições geradoras do desgaste docente percorrem os aspectos simbólicos e materiais do trabalho docente. Deste modo, procedeu-se maior evocação sobre os elementos que envolvem os aspectos materiais do processo de trabalho. Para tanto, o reordenamento causado pelas mais novas reformas educacionais, tem ocasionando impactos nos mais diversos âmbitos sociais, como, na educação.

     

    CONSIDERAÇÕES FINAIS

     

    As informações levantadas nos questionários aplicados às professoras que atuam na educação infantil revelam que pela abordagem estrutural, relacionado ao núcleo central da representação do desgaste. Possui um viés quantitativo e estrutural em torno do número de alunos na prática pedagógica. Por sua vez, o aspecto da desvalorização se apresentou como algo simbólico e identitário, ou seja, como se percebem e como os outros veem a profissão numa visão assistencialista e maternal. Por fim, os recursos humanos mostram o reclame das professoras pela falta de profissionais que as ajudem na prática, nos acompanhamentos e ações diárias. Entende-se que atenuar as contingências estruturais e simbólicas, sobretudo depende da compreensão que a docência na educação infantil, necessita da consolidação de uma pedagogia voltada à infância e que considere suas especificidades.

     

    REFERÊNCIAS

    AMBROSETTI. N. B. ALMEIDA, P. C. A. A constituição da profissionalidade docente: tornar-se professora de educação infantil. In: Reunião Anual da Anped, 30, 2007, Caxambu, MG. Anais do 30º Encontro da Associação Nacional de Pós-Graduação em Pesquisa em Educação. Caxambu, 2007, p.15.

    AZEVEDO, H. H. D. O. Implicações teórico-práticas do binômio cuidar e educar na formação de professores de educação infantil. Olhar de professor, Ponta Grossa , v. 10, n. 2, p. 159-179, 2007.

    CARVALHO, E, M, G. Relações de gênero, cuidado e trabalho docente na educação infantil. Quem cuida das professoras e dos professores? Ilhéus: Editus, 2011.

    CODO, W. Educação: carinho e trabalho. Petrópolis: Vozes, 2006.

    GATTI, B. A. et al. Atratividade da carreira docente no Brasil. São Paulo: Fundação Victor Cívita, Fundação Carlos Chagas, 2010. 

    KOGA, V. T. O estudo nas representações sociais dos alunos concluintes do ensino fundamental. 2012. 125 f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade Estadual de Ponta Grossa. Ponta Grossa, 2012.

    MORGADO, C. Identidade e profissionalidade docente: sentidos e (im)possibilidades. Ensaio: avaliação, políticas públicas em educação, Rio de Janeiro, v. 19, n. 73, p. 793-812, out-dez 2011.

    MOSCOVICI, S. A psicanálise, sua imagem e seu público. Tradução de Sônia Furhmann. Rio de Janeiro: Petrópolis: Vozes, 2012.

    NOVELLI, G. Sala de aula como espaço de comunicação. Interface - Comunicação, Saúde e Educação, São Paulo, p. 43-50, agos 1997.

    OLIVEIRA, C. B. E.; MARINHO-ARAÚLO, C. M. A relação família-escola: intercçsões e desafios. Estudos de psicologia, Campinas, v. 27, n. 1, p. 99-108, jan-mar 2010.

     

  • Palavras-chave
  • Representação Social, Desgaste, Educação Infantil
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  • Comunicação oral
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