RELAÇÕES ENTRE A AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM E AS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS DOS PROFESSORES DOS ANOS INICIAIS

  • Autor
  • Viridiana Alves de Lara Silva
  • Resumo
  • Os debates, estudos e pesquisas sobre avaliação educacional, em particular, sobre avaliação da aprendizagem não podem ser realizados isoladamente, porque estão vinculados a questões mais amplas do campo educacional e, consequentemente, relacionados à estrutura social e às concepções de educação e sociedade em que se acredita. Portanto, a avaliação da aprendizagem é uma temática complexa que pode assumir diversos significados, os quais estão interligados e relacionados a diferentes contextos sociais (FERNANDES, 2009).

    Os estudos e discussões sobre avaliação da aprendizagem têm ultrapassado os espaços tradicionais das instituições de ensino e cada vez mais se revelam em outros ambientes educacionais: “A avaliação vem ganhando cada vez mais densidade política e crescentemente é utilizada como instrumento de poder e estratégia de governo” (DIAS SOBRINHO, 2003, p. 9).

    O autor explica que a prática da avaliação é um ato político e de poder que pode ser entendida como instrumento de regulação ou emancipação. Portanto, “as definições ou concepções de avaliação estão ligadas a seus objetivos e usos diversos; a quem a formula e executa e a quem ela interessa” (DIAS SOBRINHO, 2003, p. 45).

    Nessa acepção, a avaliação realizada diariamente “[...] não é uma mera questão técnica, não é uma mera questão de construção e utilização de instrumentos, [...] Não, a avaliação é uma prática de construção social, é um processo desenvolvidos por e para seres humanos” (FERNANDES, 2009, p. 64). Sendo assim, quando o professor faz suas escolhas referentes a avaliação da aprendizagem, de alguma forma está expressando suas concepções de educação, de sociedade e de formação humana.

     Este texto aborda as relações entre a avaliação da aprendizagem e  as práticas pedagógicas dos professores dos anos iniciais a partir de parte dos resultados de uma pesquisa mais ampla, desenvolvida em nível de mestrado, sobre as concepções  dos professores dos anos iniciais sobre a avaliação da aprendizagem.

     

    Procedimentos metodológicos

    A pesquisa que originou este texto foi realizada numa abordagem qualitativa, do tipo descritiva. O instrumento utilizado na coleta de dados foi a entrevista semiestruturada aplicada a dez professoras regentes, do 1º ao 5º ano no Ensino Fundamental, de uma rede municipal de ensino paranaense. Os depoimentos foram transcritos analisados segundo a metodologia do Discurso do Sujeito Coletivo - DSC Esta metodologia de análise de dados textuais, proposta por Lefèvre; Lefèvre (2005) permite reunir os depoimentos dos respondentes a partir de suas similaridades, representando, o pensamento coletivo num único discurso.

    A metodologia é formada pelas figuras metodológicas: expressões-chave e ideias centrais. As expressões-chave (ECH) são transcrições que revelam a essência do depoimento, ou seja, mostra o conteúdo de determinados trechos de forma descritiva. A ideia central (IC) revela de maneira resumida o sentido de cada discurso, descrevendo de maneira direta as revelações indiretas, as ECH dos temas discutidos. Nesse sentido os “DSCs são a reunião de ECH presentes nos seus depoimentos, que tem ICs de sentido semelhante ou complementar” (LEFÈVRE; LEFRÈVRE, 2005, p. 22) e tem como função perceber e distinguir opiniões expressas nas entrevistas.

    No discurso do sujeito coletivo pode-se compreender o pensamento coletivo como um conjunto de discursos individuais ou até mesmo de representações sociais, os autores explicam que  “o DSC é uma estratégia metodológica que, utilizando uma estratégia discursiva, visa tornar mais clara uma dada representação social, bem como o conjunto das representações que conforma um dado imaginário” (LEFÈVRE; LEFÈVRE, 2005, p. 19).

     

    Análise e discussão dos resultados

    Após a análise dos dados referente a questão  “Qual o papel do professor na avaliação da aprendizagem?” foi possível verificar que para  os professores entrevistados a avaliação da aprendizagem interfere  nas práticas pedagógicas e gera efeitos e impactos nos processos de ensino e de aprendizagem, pois 80% (8) das ideias centrais  que compuseram o DSC1 apontam a readequação das práticas pedagógicas como o efeito de maior impacto referente à avaliação da aprendizagem e apenas 20% (2) o acompanhamento da aprendizagem dos alunos, conforme revelam os DSC abaixo:

     

    DSC 1 - Readequação das práticas pedagógicas

    Eu percebo que ela interfere direto porque a partir dela você pode rever tua prática e mudar o que for necessário. De acordo com o que eu observo fazendo a correção das avaliações e tudo mais eu tomo por base para saber o que eu preciso estar retomando com eles, o que eu preciso aprofundar com determinados alunos e as dificuldades que eles realmente tem, para buscar um encaminhamento, um outro tipo de abordagem com eles. Eu acredito que a partir da avaliação a gente pode desenvolver o trabalho.Uma avaliação bem realizada, você sabendo bem o que o aluno está precisando você vai transformar essa aprendizagem, você vai conseguir elaborar atividades que vão melhorar no que o aluno está precisando. Então, a avaliação está diretamente ligada com a aprendizagem, vai influenciar no processo do aprender. A avaliação impacta, influencia, muda alguma coisa se o professor quiser. O efeito é que se o professor for bem coerente ele vai poder fazer uma readequação do trabalho que ele desenvolve.

    DSC 2 - Acompanhamento da aprendizagem dos alunos

    Então, acho que tem total impacto porque se não fosse por meio de avaliação você ia seguindo, seguindo. Pronto, quem aprendeu, aprendeu. Quem conseguiu entender, entendeu, E quando a gente tem um parâmetro a gente avalia, você observa melhor, você fica mais atento a questão de cada um, aí você consegue perceber o que ele está aprendendo ou não. Enquanto educadores nós temos que avaliar para saber o que a gente está conseguindo, se a gente está conseguindo atingir o conteúdo ou o objetivo que a gente tem. Nós temos todo um currículo para dar conta, tem toda essa questão de conteúdos e quando você avalia você percebe se a criança sabe ou não e se aquilo que você repassou está de acordo, e aquilo que você passou ele conseguiu assimilar, conseguiu aprender. Tem os efeitos positivos e tem os efeitos negativos. Os alunos que vão bem tiram notas boas, ficam felizes. E os alunos que não foram tão bem a autoestima deles já atrapalha.

     

    A avaliação da aprendizagem é uma das mais importantes dimensões da educação, ela gera efeitos nas práticas pedagógicas, como é destacado nos DSCs apresentados, porque “nos processos avaliativos, precisamos adotar uma perspectiva que dê conta de compreender vários aspectos da complexidade da totalidade desse fenômeno" (DIAS SOBRINHO, 2003, p. 166), percebendo  as relações e seus efeitos e impactos na educação dos alunos.

    A readequação das práticas pedagógicas, segundo Esteban (2003, 16), vêm da "necessidade da reconstrução do processo de avaliação como parte de um movimento articulado pelo compromisso com o desenvolvimento de uma prática pedagógica" efetiva que responda às necessidades do aluno, de acordo como o contexto em que ele está inserido. O acompanhamento da aprendizagem se faz diariamente por meio de observações, que pautada numa concepção formativa permite a orientação e otimização das aprendizagens (PERRENOUD, 1999, p. 104).

    A utilização de diversos instrumentos (atividades, tarefas, trabalhos, testes e provas) também se faz necessária numa perspectiva formativa de avaliação, e quando o professor perceber que a aprendizagem está insuficiente ele deve readequar suas práticas, para que o aluno compreenda o conteúdo estudado.

     

    Considerações finais

    O resumo apresentado buscou apresentar resultados de uma pesquisa que investigou as concepções de professores, dos anos iniciais, sobre avaliação da aprendizagem.

     Nos discursos apresentados ficou evidente que a avaliação da aprendizagem, realizada pelos professores, vislumbra acompanhar o desenvolvimento do aluno. Portanto, além de acompanhar o desenvolvimento do aluno, ao verificar eventuais dificuldades/dúvidas/falta de entendimento o professor busca novos encaminhamentos  em suas práticas pedagógicas e que proporcione ao aluno a construção do conhecimento.

    Contudo é possível concluir que a avaliação da aprendizagem não está desvinculada do processo ensino-aprendizagem, ao contrário, ela é um componente do ato pedagógico que possibilita aos professores acompanhar o desenvolvimento do aluno, bem como (re)pensar e (re)planejar sua prática pedagógica.

     

    Referências

    DIAS SOBRINHO, José. Avaliação: políticas educacionais e reformas da Educação Superior. São Paulo: Cortez, 2003.

    ESTEBAN, Maria Teresa. Avaliação: uma prática em busca de novos sentidos. 4. ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2003.

    FERNANDES, Domingues. Avaliar para aprender: fundamentos, práticas e políticas. São Paulo: UNESP, 2009.

     

    LEFÈVRE, Fernando; LEFÈVRE, Ana Maria Cavalcanti. O discurso do sujeito coletivo: um novo enfoque em pesquisa qualitativa (Desdobramento). 2.ed. Caxias do Sul: Educs, 2005.

    PERRENOUD, Philippe. Avaliação: da excelência à regulação das aprendizagens- entre duas lógicas. Tradução Patrícia Chittoni Ramos. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 1999.

     

  • Palavras-chave
  • Avaliação da aprendizagem. Anos Iniciais. Prática pedagógica.
  • Modalidade
  • Comunicação oral
  • Área Temática
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