A IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO PROTESTANTE PARA A DISSEMINAÇÃO DOS IDEAIS CAPITALISTAS EM SOLO BRASILEIRO

  • Autor
  • Eliza Ribas Gracino
  • Co-autores
  • Maria Isabel Moura Nascimento
  • Resumo
  • O interesse pela temática deriva das inquietações originadas nas discussões realizadas pelo Grupo de Pesquisa HISTEDBR – Campos Gerais, com relação as pesquisas sobre as Instituições Escolares e também do ponto de chegada das discussões da dissertação do Mestrado em Educação, ao percebermos a lacuna existente no âmbito da influência da educação de cunho protestante, nos impulsionando a prosseguir nos estudos sobre esta temática, agora para a tese do Doutorado em Educação, buscando compreender e analisar a influência da religião no Estado e na Educação, para melhor contribuir com a História da Educação Brasileira. O trabalho aqui apresentado é uma síntese dos dados encontrados durante o levantamento bibliográfico para a composição da tese (em andamento).

    As poucas pesquisas e sistematizações de trabalhos científicos que interpretem o processo de institucionalização, consolidação e adaptação e influência das escolas fundadas pelas missões protestantes, em uma realidade de hegemonia católico romana, principalmente dada sua importância para a educação brasileira  até os dias atuais nos levaram a buscar respostas sobre a problemática da  relação estabelecida entre igreja e educação no Estado brasileiro, justificando o interesse por esta pesquisa 

    O levantamento bibliográfico dos dados para a pesquisa e seu exame tornou possível perceber a exiguidade das pesquisas na área da Educação, sendo as áreas com maior interesse no tema a sociologia, a antropologia, as ciências da religião e a história, pautados nos pressupostos da História Cultural, por meio da metodologia da História Oral, trazendo uma predominância da narrativa, numa perspectiva descritiva e cronológica (SOUSA, 2012). 

    A partir dessa constatação, tornou-se imprescindível efetuar a pesquisa tendo como mediador um referencial teórico metodológico que permita a visão da totalidade e a viabilidade de se contextualizar e apreender como os fatos se conectam a partir do real, da concretude da existência, superando as concepções idealistas presentes na história (MARX & ENGELS, 1998).

    Para alcançar o objetivo de compreender a relação entre Educação, Imigração e Religião, e qual o papel do Estado, da instituição Escolar e da Igreja para a perpetuação da ideologia dominante, elegemos na condução desse estudo, a partir do referencial teórico metodológico do Materialismo Histórico, as categorias: Totalidade, contradição, reprodução, hegemonia e mediação. Para que seja possível estabelecer uma metodologia com base na dialética marxista, pautada na realidade, como “um processo que contém, sem encerrar, o possível numa unidade de contrários” (CURY, 1987, p. 31). 

    As categorias elencadas, permitem análisar o movimento do real e o processo contraditório presente na educação institucionalizada, que tanto legitima as relações sociais, quanto procede a denuncia, possibilitando a resistência nas relações de poder possibilitando transcendendo os condiciona-mentos impostos pela classe dominante (CURY, 1987). 

    Considerando a importância dada pelo reformador Martinho Lutero à  educação, para a efetivação dos “deveres sociais”, sendo esta um dos principais pontos defendidos e difundidos por ele como”, “obrigação para os cidadãos e um dever para os administradores das cidades” (CAMBI, 1999, p. 249).
    Para Lutero a instrução tornaria viável o projeto de instrução universal responsável pelas bases da escola pública e obrigatória, com a intenção de formar líderes capazes de governar o Estado

    No que diz respeito à importância dada a educação, um de seus escritos mais contundentes é a carta destinada “Aos conselheiros de todas as cidades da nação alemã, para que instituam e mantenham escolas cristãs, que data do ano de 1524”.

    [...] E, como disse, mesmo se não existisse a alma e não fossem necessárias a escola e as línguas para conhecer a escritura divina, todavia, para instituir escolas de ótima qualidade, para os meninos e as meninas juntos, em todas as localidades, bastará só esta razão: que o mundo, para conservar exteriormente sua condição terrena, precisa de homens e de mulheres instruídos e capazes; de modo que os homens sejam capazes degovernar adequadamente cidades e cidadãos e as mulheres capazes de dirigir e manter a casa, as crianças e os servos. Ora, homens desse tipo devem ser educados, assim desde crianças, como também mulheres desse tipo se educam assim desde pequenas. Portanto, é necessário que meninos e meninas sejam bem educados e instruídos na infância” (LUTERO, 1954 apud MANACORDA, 1989, p. 196-197).


    O fragmento acima nos possibilita compreender tanto que se esperava da educação e da escola, como a importância de ministrá-la desde cedo, para avanços e crescimento das cidades, afim de que os bens e as riquezas fossem preservadas. Dentre as principais mudanças advindas da Reforma estão: a valorização da instrução universal (conforme já mencionado); a instauração de escolas populares, diferenciadas das escolas  para a classe dominante (clássicas); a moderação da educação pelas autoridades civis e a valorização da racionalidade na educação, o que ocorreu em diversos países (ABBAGNANO; VISALBERGHI, 2001).
    A difusão do ensino foi um importante instrumento para a consolidação da hegemonia, necessária ao desenvolvimento do projeto capitalista. A propagação dos ideais protestantes no desenvolvimento do capitalismo, dos ideais liberais e progressistas e das ideias pedagógicas pragmatistas, por meio da atuação das escolas implantadas pelas missões protestantes estadunidenses em terras brasileiras, difundindo uma nova cultura educacional que veio a influenciar o desenvolvimento das reformas da instrução pública paulista

    Lourenço Filho, ao mencionar o parecer de Rui Barbosa (1882) ressalta a contribuição das Escolas Protestantes na educação de nosso País, especialmente no que tange aos procedimentos didáticos diferenciados. O interesse pelos professores, pelo mobiliário e o auxílio do Dr Horace Lane como Consultor Educacional do Ensino Público também demonstram a importância dessas instituições, implantadas em nosso País (CLARK, 1998). 

    Durante o levantamento bibliográfico procedidos no Catálogo de Teses e Dissertações da CAPES e, nos sites dos Programas de Pós Graduação brasileiros, nos repositórios de artigos dos portais de Periódicos SciELO e CAPES, priorizamos trabalhos que abordam a influência protestante na educação brasileira, no âmbito da educação. Ao proceder a análise dos 52 trabalhos encontrados, entre teses dissertações e artigos, observamos outras recorrentes e relevantes que não aparecem nos repositórios mencionados, mas que serão contemplados em nossos estudos são elas: A Realidade Social das Religiões no Brasil (PIERUCCI e PRANDI, 1960); Os pioneiros americanos no Brasil (GOLDMAN, 1972); Colégios Protestantes no Brasil: 1840-1940 (RAMALHO, 1975); Escolas americanas de confissão protestante na Província de São Paulo: Um estudo de suas origens (BARBANTI, 1977); A colônia perdida da Confederação (HARTER, 1987); Um modelo pedagógico para a república: práticas educacionais da escola americana em São Paulo (1870-1915) (PRADO, 1999); Propostas imigrantistas em meados da década de 1860: a Organização de associações de apoio à imigração de pequenos proprietários Norte-Americanos – Análise de uma colônia (ZORZETTO, 2000); Matriz Religiosa Brasileira: Religiosidade e mudança social (BITTENCOURT FILHO, 2003); O projeto educacional presbiteriano em São Paulo: uma análise sócio-histórica da Es- cola Americana no período de 1870 a 1912 (SANTOS, 2010); Escritos de Mary Dascomb: a atuação educacional feminina inupta no projeto presbiteriano do Brasil (NICOLETE, 2016); O Celeste Porvir (MENDONÇA, 1995). 

    O estudo dos textos levantados nos permitem chegar a conclusão de que a ideologia de se transformar a sociedade a partir de uma mudança no homem, está evidenciada na educação e nas propostas de reforma do sistema escolar, manifestando-se entusiasticamente como um lema democrático. As “condições político estruturais” de nosso país oportunizaram as condições para a extensão das igrejas através das escolas, embora o interesse dos primeiros missionários tenha sido de agregar educação e fé para os fiéis de origem protestante. As particularidades de sua educação atraiu o interesse da elite, tornando a escola um importante instrumento de evangelização. 

     

    REFERÊNCIAS 

    ABBAGNANO, N. E; VISALBERGHI, A. Historia de la pedagogia. México: Fondo 

    de Cultura Económica, 2001. 

     

    BARBANTI, M.L.S. Escolas Americanas de Confissão Protestante na Província 

    de São Paulo: um estudo de suas origens. São Paulo: FEUSP. 1977. 

     

    BITTENCOURT F. J. Matriz religiosa brasileira: Religiosidade e mudança social. 

    (Petrópolis: Vozes; Rio de Janeiro: Koinonia, 2003

    CAMBI, F. O século XVI: o início da Pedagogia Moderna. In: ______ História da Pedagogia. Tradução: Álvaro Lorenci. São Paulo: UNESP, 1999.

     

    CLARK, J. U. A imigração norte-americana para a região de Campinas: análise da educação liberal no contexto histórico brasileiro. 1998. Dissertação (Mestrado em Educação). Universidade Estadual de Campinas. Campinas, 1998. 

     

    CURY,C.R.J.. Educação e Contradição: elementos metodológicos para uma teoria crítica do fenômeno educativo. 6a edição. São Paulo: Cortez-Autores Associados, 1987.

     

    GOLDMAN, F. P. Os Pioneiros Americanos no Brasil: educadores, sacerdotes, covos e reis. Tradução de Olivia Krahenbull. São Paulo: Pioneira, 1972. 

     

    HARTER, E. C. A Colônia Perdida da Confederação. Rio de Janeiro: Ed. Nórdica, 1985, p. 16 e 17. 

     

    MANACORDA, M. A. História da educação: da antiguidade aos nossos dias. 2. 

    ed. São Paulo: Cortez, 1989.

    MARX, K; ENGELS, F. Manifesto comunista. São Paulo: Boitempo, 1998. 

     

    MENDONÇA, A. G. O Celeste Porvir. 3. ed. São Paulo: EUSP, 1984. 

     

    NICOLETE, J. N. Escritos de Mary Dascomb: a atuação educacional feminina inupta no projeto presbiteriano do Brasil. Presidente Prudente: 2016 - Tese (doutora- do) - Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Ciências e Tecnologia. 

     

    PIERUCCI, A. F.; PRANDI, R. A Realidade Social das Religiões no Brasil: religião, sociedade e política. São Paulo: Hucitec, 1996. 

     

    PRADO, A. da S. Um modelo pedagógico para a república: práticas educacionais da escola americana em São Paulo (1870-1915). 1999. Dissertação (Mestrado em História Social) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 1999. 

     

    RAMALHO, J. P.Colégios Protestantes no Brasil: 1890-1940. Rio de Janeiro, 1975. (tese de doutoramento) 

     

    SANTOS, E. R. dos. O projeto educacional presbiteriano em São Paulo: uma análise sócio-histórica da Escola Americana no período de 1870 a 1912 

     

    SOUSA, B. de O. Historiografia do protestanismo no Brasil: Percursos e Perspecti- vas. Revista Mosaico, v. 5, n. 2, p. 171-179, jul./dez. 2012. Disponível em: http:// seer.ucg.br/index.php/mosaico/article/view/2502/1557. Acesso em 20julh2016. 

     

     

    ZORZETTO, A. F. Propostas imigrantistas em meados da década de 1860: a Organização de associações de apoio à imigração de pequenos proprietários Norte- Americanos – Análise de uma colônia. Dissertação (Mestrado em História) - Univer- sidade Estadual de Campinas. Campinas, 2000. 

     
  • Palavras-chave
  • História da Educação, Protestantismo, Relação educação-religião
  • Modalidade
  • Comunicação oral
  • Área Temática
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