ESCOLA SENADOR CORREIA: UM ESTUDO SOBRE A CULTURA ESCOLAR NA DITADURA MILITAR (1964- 1985)

  • Autor
  • Silmara Solomon
  • Co-autores
  • Maria Julieta Weber Cordova
  • Resumo
  • ESCOLA SENADOR CORREIA: UM ESTUDO SOBRE A CULTURA ESCOLAR NA DITADURA MILITAR (1964- 1985)

     

    Silmara Solomon- Mestranda em Educação na UEPG

    silmarasolomon@hotmail.com

    Dra. Profa. Maria Julieta Cordova weber- UEPG

    julieta.weber@yahoo.com.br

    Eixo: História e historiografia da Educação

     

    Introdução

                    A pesquisa insere-se no campo da História da Educação e tem como objeto de estudo a cultura escolar instituída no período da ditadura militar (1964-1985), tomando como foco de estudo a Escola Estadual Senador Correia. Segundo Fico (2017, p. 52), a denominação civil-militar pode evidenciar o apoio da sociedade civil na efetivação do golpe, constituindo sua dimensão civil durante o regime, mas é necessário ressaltar, no entanto, o comando exercido por militares durante o período ditatorial.  

                Objetivamos, portanto, compreender os desdobramentos da cultura escolar na Escola Senador Correia no período da ditadura militar. A partir do levantamento documental, foi possível identificar valores morais, éticos, de disciplinarização, dentre outros, que eram considerados essenciais na formação de uma suposta nação democrática idealizada a partir do golpe civil-militar no Brasil. Pressupomos que os valores almejados para a constituição do ser, delineariam uma cultura escolar direcionada para a apropriação de valores referenciados enquanto modelos de um ideário ditatorial. A cultura escolar estaria interconectada aos comportamentos dos indivíduos, nos discursos escritos nas atas escolares e na expressão de imagens fotográficas. (SILVA, 2006).

                Indagamos, assim, quais seriam as possíveis marcas da ditadura militar que permearam comportamentos, normatizações internas, constituição de estatutos, processos de disciplinarização, dentre outros elementos formativos da cultura no âmbito escolar em questão.

     

    Desenvolvimento

                O Grupo Escolar Senador Correia foi criado em 1912, seguindo o padrão de arquitetura dos primeiros grupos escolares inaugurados na Primeira República, em São Paulo e Rio de Janeiro. Verificamos que a nomenclatura de grupo escolar foi utilizada  em documentações internas até 1974, posteriormente denominando-se Escola Senador Correia.  No início da década de 1960, o referido grupo escolar foi demolido e reconstruído no mesmo espaço, com uma nova arquitetura, sendo inaugurado em 1964. (LUPORINI, 1987).  

                Por certo, a Escola Senador Correia vivenciou pressões externas e internas durante o período da ditadura militar. No contexto abordado, diversas ações governamentais foram implementadas no tocante à internalização e sedimentação de valores de ordem moral à instituição familiar. E a escola seria um dos espaços estratégicos que propiciaria tal inculcação cultural, certamente com efeito direto no delineamento da cultura escolar.

                Um dos argumentos utilizados como justificativa para a tomada de poder pelos militares em 1964, foi a questão da instabilidade econômica. Segundo Carvalho (2011), o período ditatorial pode ser dividido em três fases: a primeira fase, de 1964 a 1968, governado pelo general Castelo Branco e o general Costa e Silva, caracterizado pelo acirramento repressivo de diversos setores, especialmente o econômico; a segunda fase de 1968 a 1974, considerado o período mais sombrio do país, pois o general Garrastazu Médici efetivou a repressão política mais violenta do cenário nacional; e a terceira fase, de 1979 a 1985, que ficou sob a direção do general Ernesto Geisel, terminando com a posse de Tancredo Neves.

                Os grupos que estavam no poder (militares, tecnocratas, representantes do grande capital e lideranças de partidos políticos) recorriam a estratégias para combater a inflação, objetivando uma reorganização do espaço social, que estaria centrada em uma suposta democracia, onde valores eram invocados para justificar todas as medidas e ações por parte do governo militar. (REZENDE, 2013).

                Nessa direção, paulatinamente, os valores de ordem moral eram enfatizados nos espaços sociais, o que repercutiria, também, no interior da escola. Assim, a cultura escolar ganharia consubstancialidade na medida em que colocavam em prática, no âmbito escolar, princípios norteadores da cultura brasileira, permeados pelo ideário ditatorial. Considerando que a cultura escolar é um conjunto de normas e práticas que os sujeitos apropriam em seus comportamentos (JULIA, 2001), esta poderia ser utilizada no sentido de inculcar uma cultura cívica e patriótica nos brasileiros (as). A internalização de valores seria uma das primícias fundantes do regime militar, a serem feitas por todas as instituições sociais. (REZENDE, 2013).

                O teor da ata n.º 1 (SENADOR CORREIA, 1973) aponta que foi criado uma comissão de jogos no interior da escola, a qual decidiu realizar a OLIJUP (Olimpíadas Infanto Juvenil de Ponta Grossa). Por meio da pesquisa documental, incluindo a análise de algumas imagens fotográficas, percebemos traços de elementos que eram valorizados no período, tais como a disciplinarização por meio das regras dos jogos, o treino constante descrito na documentação para atingir a perfeição, a supervalorização da disciplina de Educação Física, o patriotismo e civismo exacerbados. Os esportes praticados eram ginástica, vôlei, futebol, salto à distância, queimada, corrida de obstáculo, dentre outros.

                Segundo Taborda (2004, p. 3), para o regime autoritário vigente no país, a Educação Física poderia ser pensada na perspectiva de controle social, chegando a ser confundida com formação moral. Competição, concorrência, liberdade, vitória e consagração eram elementos apreciados pelo governo militar. Ainda segundo o autor, esta disciplinarização carregaria a simbologia de um mundo de lutadores e vencedores. Controle social e tecnicismo permeavam as práticas cotidianas curriculares da disciplina mencionada. E as imagens fotográficas analisadas expressam não somente os elementos apontados, mas a consubstancialidade de uma cultura escolar ligada à pátria, à ordem e à disciplina, que para o regime militar seriam fundantes da ordem política e cultural brasileira. (REZENDE, 2013).

                Representativa da inculcação cultural foi, portanto, a organização da OLIJUP, que propiciou trabalhar de forma direta valores patrióticos, de ordem e de disciplina. Os registros nas atas evidenciam que as olimpíadas eram abertas a participações externas em outras escolas da cidade e organizada em dois grupos: O Grupo I era composto por alunos(as) de 7 a10 anos de idade e o grupo II composto por alunos(as) de 11 a 16, a serem completados até 31 de dezembro. Os princípios norteadores das olímpiadas advinham do Departamento Esportivo da escola em consonância com as exigências governamentais. (SENADOR CORREIA, 1973, p. 5-7).

                Em suma, percebemos que a cultura escolar foi paulatinamente sendo permeada pela disciplinarização, competividade, preocupação com o corpo, patriotismo, civismo, ordem, silêncio, dentre outros elementos almejados pelo regime ditatorial a serem constituídos na cultura do povo brasileiro.

     

     

    Considerações Finais

                A pesquisa encontra-se em processo de catalogação das fontes documentais. A partir da consulta aos registros das atas escolares e de imagens fotográficas, percebemos alguns valores morais, éticos e de disciplinarização, que eram impostos pelo ideário ditatorial, dentre os quais a ênfase na disciplina de Educação Física. Pressupomos que esta configurou-se como uma das formas de intervenção para as questões relacionadas com a disciplinarização, padronizando comportamentos.

                Em síntese, a cultura escolar foi sendo permeada por valores de ordem moral que estavam sendo enfatizados no recorte temporal proposto (1964-1985).  Julia (2001) pontua que a cultura escolar é um conjunto de normas e comportamentos, o que inclui hábitos de vida temporal e espacial. Logo, por meio da consulta ao acervo documental da escola, percebemos especificidades de uma composição cultural no âmbito escolar, reveladora de elementos formativos de uma cultura escolar na Escola Senador Correia, no período da ditadura militar no Brasil.

     

    REFERÊNCIA

    ALVES, M. H. M. Estado e oposição no Brasil (1964-1984). Petrópolis: Vozes, 1987.

     

    CARVALHO, J. M. de.  A cidadania: o longo do caminho. 14.  ed. Rio de janeiro: Civilização brasileira, 2011.

     

    FICO, C. Ditadura militar brasileira: aproximações teóricas e  historiográficas. Revista Tempo e Argumento, Florianópolis, v. 9, n. 20, p. 5-74, Jan./abr. 2017. DOI: http://dx.doi.org/10.5965/2175180309202017005

     

    LUPORINI T. J. Escola Estadual Senador Correia: pioneira da instrução pública em Ponta Grossa. Ponta Grossa, 1987.

     

    REZENDE, M. J. de. A ditadura militar no Brasil: repressão e pretensão de legitimidade: 1964-1984.  Londrina: Eduel, 2013.

     

    SENADOR CORREIA. Livro de Atas do Grupo Escolar Senador Correia. Acervo da Escola Estadual Senador Correia de Ponta Grossa – PR, 1964-1985.

     

    OLIVEIRA, M. A. T. de.  Educação Física Escolar e Ditadura Militar no Brasil (1968-1984): entre a adesão e a resistência. Rev. Bras. Cienc. Esporte, Campinas, v.  25, n. 2, p. 9-20, jan./ mar. 2004. DOI: https://doi.org/10.1590/s1517-97022002000100004.

     

    SILVA, F. de. C. T. Cultura escolar: quadro conceitual e possibilidades de pesquisa. Educar em revista, Curitiba, v. 22, n. 28, p. 201-216, jul./dez. 2006. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S0104-40602006000200013

  • Palavras-chave
  • Cultura Escolar. Ditadura militar. História da Educação.
  • Modalidade
  • Comunicação oral
  • Área Temática
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